Quando a bolha da IA vai estourar? Sam Altman, criador do ChatGPT, responde

A dúvida não é se a IA transformará a economia, mas se as avaliações atuais e o ritmo dos investimentos podem ser sustentados por retornos de curto prazo

Dave Smith (Fortune)
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Imagens: Kyle Grillot/Bloomberg/Getty Images

Sam Altman: o estouro da bolha das pontocom mostrou que a maioria das empresas não conseguiu se justificar

Sam Altman: o estouro da bolha das pontocom mostrou que a maioria das empresas não conseguiu se justificar

A comparação entre a atual euforia em torno da inteligência artificial e a bolha das pontocom do fim da década de 1990 tornou-se impossível de ignorar. Enquanto empresas de IA alcançam avaliações na casa das centenas de bilhões de dólares, criando dezenas de novos bilionários apenas em 2025, e gigantes da tecnologia despejam somas sem precedentes em data centers, investidores e analistas fazem uma pergunta familiar: estamos vendo a história se repetir?

As semelhanças são impressionantes. Assim como ocorreu com as empresas de internet há duas décadas, as companhias de IA hoje atraem investimentos maciços com base em seu potencial transformador, e não em lucratividade imediata. Em 2024, o investimento corporativo global em IA chegou a US$ 252,3 bilhões, segundo pesquisa da Universidade de Stanford, um crescimento de treze vezes desde 2014. Enquanto isso, Amazon, Google, Meta e Microsoft prometeram gastar um recorde de US$ 320 bilhões apenas em 2025, grande parte em infraestrutura de IA.

Até mesmo Sam Altman, CEO da OpenAI (avaliada em cerca de US$ 500 bilhões, embora tenha lançado o ChatGPT há apenas dois anos) reconhece os paralelos. “Estamos em uma fase em que os investidores, de modo geral, estão superexcitados com a IA? Minha opinião é que sim”, disse em agosto. “A IA é a coisa mais importante a acontecer em muito tempo? Também acredito que sim.”

Mas o que realmente causou o estouro da bolha das pontocom em março de 2000, e quais lições ela oferece para o boom atual da IA?

O crash das pontocom não foi causado por um único evento, mas por uma convergência de fatores que expôs as fraquezas da economia digital do fim dos anos 1990.

O primeiro golpe veio do Federal Reserve, que aumentou as taxas de juros várias vezes entre 1999 e 2000. A taxa básica subiu de cerca de 4,7% no início de 1999 para 6,5% em maio de 2000, tornando os investimentos especulativos menos atraentes frente a títulos mais seguros.

O segundo fator foi a recessão econômica iniciada no Japão em março de 2000, que gerou temores globais e acelerou a fuga de ativos de risco. Esse duplo impacto levou investidores a reavaliar as avaliações astronômicas das empresas de internet.

Mas o problema de fundo era ainda mais grave: a maioria das pontocom tinha modelos de negócio falhos. A Commerce One chegou a valer US$ 21 bilhões apesar de ter receita mínima. A TheGlobe.com, fundada com US$ 15 mil, viu suas ações dispararem 606% no primeiro dia de negociação, mesmo sem receita além do capital de risco. Já a Pets.com queimou US$ 300 milhões em apenas 268 dias antes de pedir falência.

O excesso de infraestrutura

Um dos paralelos mais instrutivos com a IA atual está no investimento exagerado em infraestrutura. Empresas de telecom instalaram mais de 80 milhões de milhas de cabos de fibra ótica nos EUA, impulsionadas pela falsa alegação da WorldCom de que o tráfego da internet dobrava a cada 100 dias, quando, na realidade, dobrava anualmente.

Companhias como Global Crossing, Level 3 e Qwest construíram redes gigantescas para atender a uma demanda que nunca se materializou. O resultado foi supercapacidade catastrófica: até quatro anos após o estouro da bolha, entre 85% e 95% da fibra instalada permanecia sem uso, ganhando o apelido de “fibra apagada”.

Empresas como a Corning viram suas ações despencarem de quase US$ 100 em 2000 para cerca de US$ 1 em 2002. A receita da Ciena caiu de US$ 1,6 bilhão para US$ 300 milhões da noite para o dia, com suas ações perdendo 98% do valor.

Hoje, os paralelos são claros. O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou planos para um data center de IA “tão grande que poderia cobrir boa parte de Manhattan”. O Projeto Stargate, apoiado por OpenAI, SoftBank, Oracle e MGX, busca criar uma rede nacional de data centers de IA de US$ 500 bilhões.

A realidade do presente

A diferença é que, ao contrário de muitas pontocom sem receita, os grandes players de IA já estão gerando faturamento significativo. A Azure, da Microsoft, cresceu 39% em um ano e atingiu uma receita anualizada de US$ 86 bilhões. A OpenAI projeta US$ 20 bilhões em receita anualizada até o fim de 2025, contra cerca de US$ 6 bilhões no início do ano.

Ainda assim, a questão central permanece: os investimentos gigantescos justificam os retornos atuais? Um estudo do MIT revelou que 95% dos projetos-piloto em IA não geram resultados significativos, apesar dos mais de US$ 40 bilhões investidos em IA generativa. E enquanto Microsoft, Meta, Tesla, Amazon e Google investiram US$ 560 bilhões em infraestrutura de IA nos últimos dois anos, a receita conjunta relacionada à tecnologia não passou de US$ 35 bilhões.

Segundo Altman, o estouro da bolha das pontocom mostrou uma verdade dura: a maioria das empresas não conseguiu justificar suas avaliações com resultados de negócio concretos. Elas eram medidas por tráfego de sites e métricas de crescimento, e não por fluxo de caixa ou lucratividade.

Hoje, as empresas de IA enfrentam teste semelhante. A dúvida não é se a IA transformará a economia (a maioria dos especialistas concorda que sim), mas se as avaliações atuais e o ritmo dos investimentos podem ser sustentados por retornos de curto prazo. Caso contrário, como ocorreu com a fibra ótica dos anos 1990, parte da infraestrutura de IA pode ficar ociosa até que a demanda alcance a oferta.

A lição da história é clara: mesmo tecnologias transformadoras não escapam da gravidade da economia. A internet realmente mudou o mundo, mas não tão rápido quanto seus primeiros entusiastas prometeram. E muitos deles acabaram sendo forçados a encarar a realidade.

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