O consumo digital está transformando o entretenimento esportivo

O comportamento digital no Brasil atingiu um marco surpreendente: os sites de apostas superaram YouTube, TikTok e Instagram em volume de acessos

Sérgio Floris*
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Imagens: Divulgação

Sérgio Floris diz que essa virada escancara uma nova fase no entretenimento esportivo, impulsionada por dados e IA

Sérgio Floris diz que essa virada escancara uma nova fase no entretenimento esportivo, impulsionada por dados e IA

Segundo levantamento do portal Aposta Legal, os domínios com final “bet.br” somaram 1,7 bilhão de acessos em um único mês, com média de permanência superior a 13 minutos por visita. O que antes parecia um fenômeno de nicho passou a ocupar um papel central no consumo midiático. Diante desse cenário de expansão acelerada, cresce também a responsabilidade dos operadores e fornecedores em promover práticas de jogo responsável, com ferramentas que ajudem a proteger os usuários e garantir uma experiência segura e equilibrada.

Quando falamos em públicos específicos, a chamada Geração Z, por exemplo, já não se satisfaz com transmissões lineares ou conteúdos genéricos. Ela busca experiências mais personalizadas, interativas e conectadas em tempo real. Segundo o estudo Digital Media Trends Survey 2025, da Deloitte, essa geração no Brasil dedica cerca de 38% do tempo diário ao consumo de conteúdo via streaming e redes sociais, ultrapassando o tempo dedicado à TV tradicional. Outro levantamento, da MindMiners, aponta que 56% preferem acompanhar eventos esportivos pelas redes sociais e não pela televisão.

Essa tendência mostra que formatos mais curtos, sob demanda e responsivos são cada vez mais valorizados, exatamente o que o streaming in-play proporciona. Na Sportradar, enxergamos essa evolução como uma grande oportunidade e também como um desafio estratégico. Ao integrar o streaming de eventos esportivos diretamente em plataformas digitais, como as de apostas regulamentadas, conseguimos entregar uma experiência mais rica, fluida e alinhada aos novos hábitos de consumo. O usuário pode assistir a partidas ao vivo, acessar estatísticas em tempo real e tomar decisões baseadas em dados, tudo dentro de um mesmo ecossistema.

Para o operador, essa integração também representa uma ferramenta poderosa de retenção, mantendo o usuário engajado por mais tempo e oferecendo uma jornada mais completa e interativa. É importante esclarecer que a transmissão esportiva ao vivo via streaming, quando oferecida dentro de plataformas licenciadas, não configura publicidade nos termos da Lei das Bets. Trata-se de um recurso in-play, parte integrante da experiência do usuário, e não de uma ação promocional. Embora ainda haja dúvidas sobre esse ponto, o entendimento técnico e jurídico já distingue claramente os dois conceitos.

Tratar esse modelo como uma ameaça ao mercado tradicional de transmissão é uma leitura equivocada do cenário atual. O movimento é, na verdade, de aproximação, já que a convergência entre conteúdo, dados e interatividade amplia as possibilidades de engajamento com o esporte. Ainda assim, é importante reconhecer que se trata de formatos com naturezas e objetivos diferentes. O streaming integrado às plataformas de apostas possui características muito específicas: o acesso é restrito a usuários logados em contas ativas, a qualidade da transmissão costuma ser mais baixa que a dos serviços tradicionais e há limitações de alcance e visibilidade. Não substitui os grandes players da mídia esportiva, mas oferece uma alternativa complementar, voltada para um público que busca agilidade, personalização e interatividade.

O streaming dentro das plataformas de apostas também se conecta a uma discussão mais ampla sobre o futuro do audiovisual. Enquanto o Congresso Nacional debate a regulamentação dos serviços de vídeo sob demanda, incluindo cotas de produção nacional e contribuições ao setor cultural, é fundamental reconhecer que a nova fronteira do conteúdo esportivo já está sendo explorada por clubes, confederações e operadores, por meio de plataformas próprias ou acordos diretos.

A monetização de conteúdo esportivo, seja via publicidade, assinatura ou plataformas digitais, já é uma realidade em diversos países. Grandes clubes europeus, como o Barcelona, operam seus próprios serviços de streaming. No Brasil, alguns times têm seguido esse caminho. Com a mudança recente no modelo de distribuição de direitos da Série A do Brasileirão, o cenário voltou a se reorganizar em torno de acordos coletivos, mas o movimento de diversificação de plataformas segue em curso.

Vivemos um momento decisivo. A regulamentação trouxe segurança jurídica, atraiu investimentos e impulsionou a inovação. Agora, é hora de consolidar essa transformação com responsabilidade, criatividade e foco no usuário. Com o avanço tecnológico e um ambiente regulatório cada vez mais estruturado, o Brasil tem a chance de se tornar referência global em inovação responsável no entretenimento esportivo digital. E o streaming nas plataformas do setor de betting é apenas o começo.

*Sérgio Floris é diretor-executivo da Sportradar no Brasil

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