A trajetória da L’Oréal Paris no Brasil revela como o País se tornou não apenas um mercado estratégico para a gigante francesa de cosméticos, mas também um verdadeiro polo de inovação para o grupo em escala mundial. Hoje, a marca ocupa uma posição de destaque dentro da L’Oréal Brasil, sendo responsável por quase 60% do faturamento da divisão de grande público, que por sua vez representa mais de 50% de todo o peso da companhia no País.
Isso quer dizer que a operação brasileira é vital para o negócio global e concentra uma das maiores frentes de crescimento, sobretudo em duas categorias: o cuidado capilar e o avanço no segmento de proteção solar, apontado como a principal porta de entrada para recrutar mais consumidores para a rotina de skincare. “O protagonismo da marca por aqui não se limita ao tamanho da operação. Em 2023, a L’Oréal Paris assumiu a liderança no mercado de cuidados capilares, superando um concorrente que detinha a posição havia mais de duas décadas”, afirmou a executiva Maíra Matta, diretora da L’Oréal Paris no Brasil. “Esse feito histórico consolidou o Brasil como a maior operação global da empresa no segmento de cabelo.”
O contexto ajuda a explicar por que a companhia investe pesado em pesquisa e desenvolvimento no país, aproveitando a sofisticação da consumidora brasileira, que tem uma rotina média de quase oito produtos por ano e desembolsa aproximadamente R$ 300 anuais em cuidados capilares, índices muito acima da média mundial. O mercado local reúne uma diversidade única de perfis: são oito tipos de cabelo presentes, além de diferentes tons de pele e hábitos de consumo, fatores que transformam o Brasil em um verdadeiro laboratório vivo para novas fórmulas que, uma vez aprovadas, podem ser exportadas e replicadas em outros mercados.

Esse movimento de inovação não se restringe ao cuidado capilar, segundo Maíra. A nova fronteira é o segmento de fotoproteção, especialmente a linha Solar Expertise. O grande lançamento do momento é o Solar Expertise Efeito Make-up, um protetor solar facial com FPS 70 que, além da proteção, entrega acabamento de maquiagem. O produto foi desenvolvido inteiramente no Brasil, com cinco tons adaptados à diversidade da pele das brasileiras.
A criação das tonalidades não foi aleatória: mais de 2 mil consumidoras participaram de testes presenciais e digitais para avaliar os protótipos, e a decisão final sobre as cores envolveu votação e análises laboratoriais, respeitando ainda as exigências de registro da Anvisa, que trata cada shade como um produto individual. Para 2026, já está previsto o lançamento de ao menos mais três novas tonalidades, fruto de uma cocriacão entre consumidoras, o laboratório local e profissionais de beleza parceiros da marca.
A escolha do Brasil como berço desse projeto, de acordo com a executiva da companhia, não foi por acaso. A penetração de produtos solares no País ainda é baixa, girando em torno de apenas 12% dos consumidores, o que significa que apenas 12 em cada 100 brasileiros compram protetores em um ano. O número contrasta com países como o México, que alcançam quase o dobro de penetração em skincare. Mesmo assim, o Brasil é um terreno fértil: a exposição diária ao sol exige cuidados específicos e cria uma oportunidade para transformar o protetor solar em um gesto cotidiano. A estratégia da L’Oréal Paris é justamente conectar o solar à maquiagem, categoria com penetração mais elevada e já parte da rotina de muitas mulheres. A promessa do novo produto é oferecer um resultado imediato (cobertura uniforme e acabamento estético) aliado à proteção contra os efeitos do sol, tornando mais fácil inserir esse cuidado no dia a dia.
Hoje, a participação da L’Oréal Paris no segmento de solar facial é de aproximadamente 4%, com o objetivo de dobrar de tamanho nos próximos anos. Ainda que o mercado seja dominado por marcas dermocosméticas, a empresa aposta em sua força de comunicação de massa e em inovações acessíveis para crescer. Não se trata apenas de ganhar market share, mas de fazer a categoria crescer como um todo. A lógica é clara: quanto mais brasileiros incorporarem o hábito do protetor solar, maior será o impacto positivo para a saúde da pele e, consequentemente, maior o potencial de expansão do negócio.
O desenvolvimento do Solar Expertise Efeito Make-up levou três anos e envolveu não apenas testes laboratoriais, mas também uma escuta ativa das consumidoras brasileiras. O processo reflete uma diretriz estratégica do grupo: colocar o consumidor no centro, entendendo suas dores e desejos. Nesse caso, a percepção de que a proteção solar isoladamente não gera resultado imediato foi decisiva. Enquanto o uso de um shampoo ou de um creme capilar traz uma transformação visível na hora, os efeitos do skincare tradicional são mais sutis e de longo prazo. Ao oferecer um produto que alia fotoproteção e efeito estético, a L’Oréal Paris encontrou um caminho para vencer resistências e atrair novas consumidoras para a categoria, segundo a executiva.
A relevância do Brasil, entretanto, vai além dos números e da capacidade de inovação técnica. A companhia também busca associar sua marca a pautas sociais e culturais, investindo na construção de imagem e na elevação do reconhecimento institucional. Um exemplo emblemático é o desfile-manifesto realizado anualmente durante a Paris Fashion Week, que traz porta-vozes internacionais e nacionais para celebrar o empoderamento feminino. Este ano, pela primeira vez, o evento terá transmissão no Brasil e será acompanhado de uma celebração local em São Paulo, no dia 29. O desfile, que contará com a participação de Taís Araújo e Anitta em Paris, simboliza a visão da L’Oréal Paris de que a beleza deve ser uma ferramenta de autoconfiança, capaz de reforçar a autoestima das mulheres e ajudá-las a reconhecer seu próprio valor.

Essa narrativa também se desdobra em ações concretas de impacto social. A marca promoveu, por exemplo, o treinamento “Stand Up” contra o assédio nas ruas, que capacitou mais de 17 mil torcedores do Botafogo em parceria com o clube. A iniciativa responde a um dado alarmante: mais de 80% das mulheres brasileiras já relataram ter sofrido algum tipo de assédio. Ao incluir essa pauta em sua estratégia de comunicação e responsabilidade social, a L’Oréal Paris reforça sua ambição de ser mais que uma marca de cosméticos, mas também um agente de transformação cultural.
O conjunto dessas iniciativas (da liderança em cabelo à ofensiva em solar, passando pelo posicionamento institucional e pelas ações sociais) revela uma empresa que entende o Brasil como um mercado estratégico e, ao mesmo tempo, como um centro de exportação de tendências e inovações. Nos últimos anos, produtos desenvolvidos no país já ultrapassaram a fronteira latino-americana e se tornaram globais, como aconteceu com fórmulas capilares e de skincare. Essa capacidade de “estourar a bolha”, como define a própria executiva da marca, é consequência direta da sofisticação do consumidor brasileiro e da importância crescente da região nos planos do grupo.
Com a quinta maior operação de L’Oréal Paris no mundo e o maior mercado em cabelo, o Brasil se projeta agora como líder também em inovação em proteção solar. A combinação de ciência, pesquisa local, escuta do consumidor e campanhas culturais e sociais indica que o País continuará a desempenhar um papel central no futuro da marca, segundo Maíra. “Ao apostar em produtos que entregam resultados imediatos, mas que também educam e ampliam hábitos de cuidado, a L’Oréal Paris constrói uma relação de beleza que vai além da estética: trata-se de confiança, diversidade, empoderamento e, sobretudo, da convicção de que cada mulher vale muito.”