Paulistanos apaixonados por Paraty, cidade histórica de natureza exuberante e cultura pulsante, localizada no litoral sul do Rio de Janeiro, não precisam mais percorrer 270 quilômetros para sentir um pouco do clima, da gastronomia e da arte do município fluminense. A gelateria mais tradicional de Paraty, com 25 anos de atuação, abriu as portas oficialmente na sexta-feira, na Alameda Lorena, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista. É mais do que um empreendimento que se soma aos bares e restaurantes requintados da localidade, que também conta com muitas opções de entretenimento em suas arborizadas ruas, casas e condomínios luxuosos. “É a embaixada de Paraty em São Paulo”, disse ao BRAZIL ECONOMY Sandi Adamiu, sobre a segunda de muitas unidades da Miracolo.
Paraty não está apenas na famosa marca que chega ao território paulistano. Dentro da gelateria, juntamente com os sorvetes premium que trazem o sabor dos ingredientes da Mata Atlântica, está parte da cultura da cidade litorânea do Rio de Janeiro.
Ao entrar na flagship, que recebeu investimento de R$ 4 milhões, o cliente se depara com um teto artístico pintado por Aécio Sarti, sergipano reconhecido por suas obras instaladas em mais de 60 países. O artista pintou querubins — do logotipo da Miracolo — em uma lona de caminhão que está esticada no teto da gelateria.
No significado bíblico, os anjos foram designados para guardar a entrada do paraíso. No caso da Miracolo, podemos dizer que os seres celestiais desenhados por Sarti abençoam aqueles que vão degustar as divindades que são os 32 sabores de sorvetes, divididos em três setores.
Mas antes de detalhar o que pode ser saboreado, seguimos com a arte presente na Miracolo. A decoração possui outras telas de querubins que, além de serem vistas, podem ser compradas. A gelateria também expõe e vende uma série de litogravuras com mais de 150 anos, incluindo algumas das primeiras imagens a retratar frutas tropicais como cacau, graviola, jabuticaba e caju.
A curadoria é do biólogo Luciano Lima, com intensa atuação em Paraty, que se dedica há mais de 20 anos a pesquisar obras históricas e iconográficas sobre a biodiversidade local. “Unimos o gelato à arte. Nossa intenção é dar acessibilidade a esses dois produtos”, afirmou Sandi. Há combos que permitem adquirir sorvetes e litogravuras juntos.

Todo o projeto arquitetônico da loja é assinado pelo Coletivo de Arquitetos. No conceito, a ideia foi unir o afeto das origens com a ampliação do diálogo com o público urbano e contemporâneo.
Sorvete de pão com manteiga?
No cardápio — agora sim vamos aos sabores —, são 36 opções, dispostas em três vitrines. Cada uma delas conta uma história. A primeira vitrine apresenta 12 sabores clássicos como pistache, chocolate e stracciatella. Também há um de pão com manteiga. Isso mesmo: você não leu errado. E ele entrega exatamente o que promete — o sabor específico do tradicional produto do café da manhã do paulistano, gelado e suavemente adocicado.
“Tomaria um café da manhã desse todos os dias”, disse uma cliente, com sorriso no rosto e olhos arregalados pela surpresa, imediatamente após degustar uma colherzinha da iguaria.
A segunda vitrine é a Miracolo Lab, dedicada a 12 inovações com combinações sazonais, uso criativo de Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) da Mata Atlântica — o de pancuva é divino, como os querubins podem testemunhar lá do teto — e ingredientes inusitados, incluindo o exótico gelato de wasabi.
A terceira câmara traz 12 opções saudáveis, preparadas à base de frutas e água, todos sem lactose, açúcar ou glúten. Nenhuma das receitas utiliza gordura hidrogenada. Em sua base, a Miracolo opta por creme de leite, considerado mais estável e saudável.
Simpatia italiana: um ingrediente a mais
São gelatos, mas também podem ser considerados obras de arte. O artista é Roberto Belia, mestre gelateiro italiano, nascido em Perugia e radicado em Paraty. Ele é o fundador da Miracolo, há um quarto de século, e sócio de Sandi Adamiu na empreitada gastronômica.
O nome, inclusive, foi dado por Belia pela coincidência da localização da primeira unidade, instalada no imóvel onde funcionava o Unibanco, na praça da matriz de Paraty. A inesperada saída do banco abriu a possibilidade para o italiano criar ali sua gelateria. Um milagre! Miracolo!

Agora, a segunda unidade, em São Paulo, pode ser considerada outro milagre. O planejamento dela foi feito em 2019. Estava tudo pronto, até que veio a pandemia e a expansão foi adiada. “Seis anos depois, nos estruturamos e conseguimos tornar o sonho realidade”, disse Belia, de 67 anos.
A presença dele na loja é uma atração à parte. Comunicativo, com a alegria estampada no rosto, tira o gelato das máquinas — que ficam à vista dos clientes, no fundo da loja — de maneira especial. “Uma obra de arte”, salientou outro cliente que observava Belia preparar um dos recipientes que em seguida iria para a vitrine.
Entre as mesas, uma boa conversa com o italiano quase paratiense — e que agora inicia sua cidadania paulistana — também é ingrediente da Miracolo. Impossível não perceber a presença do mestre gelateiro e trocar dois dedos de prosa entre uma colherada e outra de suas criações.
Belia se dividirá entre Paraty e São Paulo. Em média, dez dias na cidade fluminense e três na capital paulista. “Temos de acompanhar a produção e o atendimento de perto”, disse ele, que já participa de atividades junto aos clientes na unidade de Paraty, onde prepara os gelatos em uma experiência oferecida pela Miracolo. Essa atividade deve estar disponível em São Paulo nos próximos meses.
Expansão pelo Brasil
A Miracolo também deve ganhar unidades espalhadas pelo Brasil nos próximos meses. “Sempre com um sócio local. Não queremos apenas um investidor ou um funcionário. Queremos alguém que seja dono do negócio, com a barriga no balcão, tocando a operação”, salientou Sandi Adamiu.
A expectativa de ampliação da marca está amparada na qualidade do produto e nos números do setor. Segundo a ABIS (Associação Brasileira das Indústrias de Sorvete), no país existem 11 mil empresas do segmento, sendo 92% micro e pequenas, que movimentam R$ 14 bilhões por ano.
“É um mercado muito pulverizado. Além disso, o consumo vem aumentando. Em 2021, cada brasileiro consumiu em média 5 litros de sorvete. Em 2024, foram 10 litros. Os líderes mundiais são Nova Zelândia e Uruguai, com 28 litros por pessoa, ao ano. Temos potencial de crescimento”, vislumbrou Sandi.
Quadrado Mágico de Paraty
Ao ressaltar a Miracolo como embaixada de Paraty em São Paulo, Sandi Adamiu também cita o ecossistema que classifica como “Quadrado Mágico de Paraty”, que reúne experiências de hospitalidade, gastronomia, arte e bem-estar.
Entre as empresas estão, além da Miracolo, o icônico Hotel Sandi, o Loft Bom Jardim, os restaurantes Fugu Japanese Food e Pupus Panc Party, o Apothekario Bar, a Galeria ao Quadrado, a operadora de turismo Nectar, o Shambhala Spa e um ateliê de cerâmica.
“São experiências que se conectam”, disse Sandi Adamiu, neto do romeno de mesmo nome que fundou a Paris Filmes em 1960. Não é à toa que a Miracolo é coisa de cinema.