Chile amplia exportação de bebidas ao Brasil e aposta em rótulos premium da Patagônia

Pela primeira vez, destilados premium como vodka, gin e bitter dividem espaço com vinhos de edição limitada que reforçam a identidade do extremo Sul

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Imagens: Divulgação

Hugo Corales, diretor do ProChile, diz que a estratégia está alicerçada no potencial de diferenciação desses produtos

Hugo Corales, diretor do ProChile, diz que a estratégia está alicerçada no potencial de diferenciação desses produtos

Na contramão do protecionismo que vem sendo reforçado nos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump, o Chile busca aprofundar sua inserção no mercado brasileiro de bebidas, ampliando sua oferta para além dos vinhos, tradicional carro-chefe de sua pauta exportadora. A estratégia será colocada em prática durante a Prowine São Paulo 2025, principal feira de vinhos e destilados da América Latina, que acontece entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro, no Expo Center Norte, e que deve reunir milhares de profissionais do setor.

O ProChile, instituição vinculada ao Ministério das Relações Exteriores do Chile responsável pela promoção comercial no exterior, aposta em uma vitrine diversificada para chamar a atenção dos importadores, distribuidores e consumidores brasileiros. Pela primeira vez, destilados premium da região da Patagônia, como vodka, gin e bitter, dividem espaço com vinhos de edição limitada que reforçam a identidade do extremo sul do continente. A proposta é apresentar produtos com forte ligação territorial, produzidos em pequena escala e que carregam a autenticidade de uma das regiões mais remotas e preservadas do planeta.

Os números indicam que o Chile tem espaço para crescer. Entre janeiro e agosto de 2025, as exportações de álcool e bebidas destiladas do país para o mundo, incluindo o Brasil, somaram US$ 20 milhões, um salto de 29,3% em comparação ao mesmo período do ano passado. O segmento de vinhos, por sua vez, continua a desempenhar papel central: no acumulado até agosto, as vendas diretas ao mercado brasileiro alcançaram US$ 134 milhões, representando um crescimento de 2,3% sobre igual período de 2024. Embora o percentual seja modesto, ele reafirma a posição do Brasil como um dos principais destinos para o vinho chileno, consolidando uma relação que já dura décadas.

No evento paulistano, a expectativa é de que novos rótulos ajudem a reposicionar o Chile como um polo produtor de bebidas sofisticadas, capazes de competir em nichos que valorizam origem, autenticidade e qualidade artesanal. A vodka Kaweskar, por exemplo, será apresentada como um dos destaques da feira. Produzida a partir de um processo artesanal, com água de geleiras e batatas cultivadas na Patagônia, ela é considerada a mais austral do mundo. Seu apelo está não apenas no sabor suave e delicado, mas também na história que carrega: uma bebida que reflete a pureza e singularidade de uma região praticamente intocada pela intervenção humana.

Outro produto que deve despertar interesse é o bitter da Onok, licor amargo elaborado com frutos e ervas da Patagônia que já começa a ganhar projeção internacional. Seguindo a mesma linha de valorização da biodiversidade local, o Tepaluma® Maqui Gin chega ao mercado com forte carga simbólica. O destilado homenageia o maqui, fruto nativo da região, e apresenta cor rubi intensa, aromas complexos e notas que misturam frutas negras, toques herbais e um final cítrico marcante. Produzido em alambique de cobre e macerado com maqui fresco, o gin busca entregar uma experiência sensorial diferenciada, capaz de traduzir a essência do ambiente natural de onde provém.

No segmento de vinhos, a aposta recai sobre os rótulos da vinícola Allá Lejos, instalada na margem sul do Lago General Carrera (também conhecido como Chelenko). Produzidos em condições climáticas extremas, cercados por geleiras, montanhas e estepes, os vinhos são lançados em edições limitadas e carregam a marca da resiliência. Localizado no paralelo 46, o vinhedo enfrenta invernos rigorosos e verões curtos, o que impõe desafios às colheitas, mas também confere características únicas às uvas. O resultado são rótulos que buscam transmitir a essência indomável da Patagônia, reforçando a autenticidade como diferencial competitivo.

Segundo Hugo Corales, diretor do ProChile, a estratégia está alicerçada no potencial de diferenciação desses produtos. “Nossos destilados e vinhos vêm da região de Aysén, quase dois mil quilômetros ao sul de Santiago. Trata-se de um território marcado por águas cristalinas, clima frio na maior parte do ano e um ambiente incomparável. São produções de pequena escala, elaboradas com matérias-primas de alta qualidade e com forte identidade territorial. Essa combinação nos permite oferecer ao mercado brasileiro bebidas premium, com rastreabilidade e autenticidade, que se diferenciam das grandes marcas internacionais por destacar sua origem e a história de quem as produz”, afirma.

Os esforços de aproximação não se limitam ao setor de bebidas alcoólicas. O ProChile destaca que a parceria comercial entre Brasil e Chile já é robusta em diferentes cadeias. Apenas no setor de alimentos, as exportações chilenas ao mercado brasileiro somaram US$ 1,035 bilhão entre janeiro e agosto deste ano. O destaque ficou para a pesca e aquicultura, responsáveis por US$ 617 milhões, impulsionados principalmente pelo salmão e pela truta, que responderam juntos por US$ 605 milhões. No segmento de agroalimentos, os embarques alcançaram US$ 284 milhões, com destaque para maçãs (US$ 64 milhões), kiwis (US$ 27 milhões) e ameixas (US$ 21 milhões). Esses dados reforçam a interdependência das duas economias e a relevância do Brasil como destino estratégico para a produção chilena.

A abertura da Prowine São Paulo 2025 contará com a presença de autoridades como Vanessa Pohl, cônsul do Chile em São Paulo, além de representantes do ProChile como Hugo Corales e Christopher Rojas, responsável pelo escritório regional de Aysén. A expectativa é de que a participação chilena contribua não apenas para aumentar as vendas imediatas, mas também para fortalecer a imagem do país como fornecedor confiável e inovador de alimentos e bebidas.

O movimento também está em sintonia com a missão institucional do ProChile, que tem como objetivo promover a internacionalização de empresas chilenas, atrair investimentos estrangeiros e consolidar a imagem do país no exterior. Para os produtores, participar de eventos como a Prowine representa uma oportunidade de contato direto com compradores, distribuidores e influenciadores do setor, permitindo abrir novos canais de comercialização em um mercado consumidor de grande porte e ainda em expansão, como o brasileiro.

Ao apostar em produtos premium e de forte identidade regional, o Chile busca se posicionar em um patamar distinto, explorando o apelo de narrativas que valorizam sustentabilidade, autenticidade e origem. Para os consumidores brasileiros, cada vez mais atentos a experiências diferenciadas e dispostos a explorar novas categorias de bebidas, trata-se de uma oferta que dialoga com tendências globais do setor, em que terroir e storytelling se tornam tão relevantes quanto a qualidade do líquido na taça. Nesse cenário, a Patagônia chilena surge como um ativo simbólico de peso, capaz de aliar exotismo, tradição e inovação em um mesmo rótulo.

Com isso, o Chile não apenas amplia sua presença no mercado brasileiro, mas também fortalece seu papel como protagonista na América do Sul em um contexto de mudanças no comércio internacional. Enquanto algumas potências fecham suas fronteiras, os chilenos aproveitam para ocupar espaço, mostrando que mesmo em escala limitada é possível agregar valor e conquistar consumidores por meio da diferenciação. A Prowine 2025 será, assim, mais do que uma feira: funcionará como palco de afirmação de uma estratégia de longo prazo, que aposta na qualidade e na autenticidade como chaves para ampliar negócios e reforçar laços comerciais entre os dois países.

 

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