Durante muito tempo, as trufas eram vistas no Brasil como um luxo inacessível, restrito a menus sofisticados de restaurantes estrelados ou trazidas de forma informal na bagagem de chefs que viajavam à Europa. Esse cenário começou a mudar com a legalização das importações e o crescimento da demanda, impulsionada por consumidores exigentes e pelo trabalho de private chefs.
À frente desse movimento está a Monte Carlo Selection, importadora fundada em 2023 pelos chefs Klaus Limoli Pahl e Diego Porto. Em pouco tempo, a empresa tornou-se referência no fornecimento de trufas frescas para a alta gastronomia e também para consumidores finais, com a vantagem de ostentar um diferencial: é a única no Brasil com certificação oficial do Principado de Mônaco, chancela que garante autenticidade e exclusividade.
O caminho até a formalização não foi simples. Pahl e Porto, que se conheceram há mais de 15 anos em cozinhas de hotéis e restaurantes de luxo, passaram por experiências internacionais antes de se reencontrarem em Mônaco, em 2019. Naquele momento, cada um atendia a uma clientela de alto padrão e precisava de trufas frescas em quantidade e regularidade. Para trazer o produto de forma legal, enfrentaram um processo burocrático de mais de um ano até obter licenças da Anvisa e do Ministério da Agricultura.

A primeira remessa foi tímida: apenas dois quilos. Hoje, a Monte Carlo importa cerca de 30 quilos por semana, atendendo casas como Fame Osteria, Aiô, Il Capitale, Roi e Oteque, além de clientes que desejam transformar pratos caseiros, como uma pizza, em experiências memoráveis.
A sazonalidade dita o ritmo das importações. De dezembro a março, o mercado brasileiro recebe a Trufa Negra de Inverno (Tuber melanosporum), vinda da França e da Toscana. De maio a agosto, é a vez da Trufa Negra de Verão (Tuber aestivum), proveniente da Umbria e de Marche, na Itália. Já em setembro, chega a Trufa de Outono (Tuber uncinatum), encontrada também no Piemonte, mesma região da rara e valorizada Trufa Branca de Alba (Tuber magnatum pico), disponível de outubro a dezembro.
Nessa fase, o volume importado cai de 30 para cerca de 5 quilos semanais, mas o preço se mantém elevado. A variedade branca, considerada a mais sofisticada, pode ultrapassar R$ 50 mil o quilo. A Monte Carlo ainda complementa sua oferta com importações da Austrália e do Chile, sempre com rastreabilidade e certificação de origem.
Crescente procura no Brasil
Apesar do custo elevado, a demanda não para de crescer. Segundo Porto, 90% das cargas chegam ao país já reservadas por clientes, muitos deles private chefs que organizam jantares exclusivos, inclusive para autoridades como ministros do STF. O restante serve para atrair novos consumidores ou para testes de receitas inéditas.
A comercialização também alcança o público final por meio do Instagram, e a logística garante frescor: cada trufa é embalada em papel e transportada em caixas de isopor até o destino.
Além de atuar como importador, Diego Porto mantém sua presença à frente dos restaurantes Beefbar e SongQI, ambos originários de Mônaco e com unidades vizinhas em São Paulo, onde o piloto Felipe Massa é um dos sócios. Nos cardápios, as trufas aparecem em diferentes momentos do menu, da entrada à sobremesa.
Um exemplo é o gelato artesanal de pistache do SongQI, feito na hora e servido com caldas, toppings e lâminas de trufa australiana fresca, combinação que reforça o apelo desse ingrediente raro e de aroma inconfundível.