Por muito tempo, o portfólio 60/40 (60% em ações e 40% em renda fixa) foi visto quase como um dogma. Uma fórmula simples, elogiada pela eficácia, capaz de entregar retornos consistentes com o “colchão” de proteção que os títulos de renda fixa ofereciam em momentos turbulentos. Mas essa era chegou ao fim. A verdade é que insistir nesse modelo, diante da realidade atual do mercado, significa ignorar mudanças profundas que já corroeram sua lógica. O mundo mudou, e o investidor precisa mudar junto.
A Teoria Moderna do Portfólio, de Harry Markowitz, dizia que diversificação era o “único almoço grátis”. E fazia sentido: se um ativo caísse, outro tenderia a compensar. A renda fixa tinha a função de contrapeso às ações. Só que a engrenagem que sustentava esse equilíbrio quebrou.
Dados da Blue Owl, com base em Bloomberg, mostram que, nos últimos 15 anos, o 60/40 passou a se comportar quase como um clone do mercado acionário. A correlação chegou a 0,98, praticamente andar de mãos dadas com o risco que se queria reduzir. Em alguns períodos, a correlação entre S&P 500 e o Barclays U.S. Aggregate Bond Index bateu 0,81. Ou seja, a “proteção” virou ilusão: quando a bolsa cai, a renda fixa também costuma cair.
É duro admitir, mas a diversificação oferecida pelo 60/40 virou peça de museu. Fechar os olhos para isso é se expor a riscos desnecessários.
Se a antiga fórmula não funciona mais, é hora de explorar novas ferramentas. E aqui os mercados privados (private equity, private credit, private real estate) aparecem como protagonistas. Não basta diversificar por diversificar: é preciso buscar eficiência. A inclusão de ativos alternativos desloca a “fronteira eficiente” do portfólio para cima e para a esquerda: mais retorno com o mesmo risco, ou o mesmo retorno com menos risco.
A beleza dos mercados privados está em sua versatilidade. Eles permitem moldar estratégias ao perfil do investidor:
- Renda aprimorada: para quem quer fluxo de caixa estável e menos volatilidade.
- Apreciação de capital: para os que perseguem o crescimento máximo do patrimônio.
- Diversificação real: para equilibrar retorno e risco em múltiplas frentes.
E isso não é só teoria. Uma simulação da Bloomberg mostra que US$ 100 mil aplicados em 2001 no modelo 60/40 teriam virado cerca de US$ 430 mil. Já portfólios com alocações estratégicas em alternativos chegaram a US$ 519 mil ou até US$ 595 mil. Essa é a diferença entre se agarrar ao passado ou se abrir ao novo.
Um caso concreto é o dos fundos de crédito privado. Eles materializam a lógica de “renda aprimorada” e “diversificação”. Cada empréstimo concedido é lastreado em garantias reais, com cobertura de 1,5 vez o valor emprestado. O resultado é um desempenho mais consistente, mesmo em cenários de incerteza. Para quem busca reforçar a renda e escapar da montanha-russa do mercado público, é um caminho claro.
No fim das contas, a lição é simples: diversificação não é encher a cesta com ativos diferentes apenas para dizer que diversificou. É construir um portfólio inteligente, resiliente e sintonizado com o mundo como ele é hoje, não como era décadas atrás.
A disciplina de buscar novas fronteiras, a coragem de questionar velhas verdades e a disposição de enxergar oportunidades além do óbvio são o que separa o investidor que sobrevive do que prospera. O 60/40 cumpriu seu papel histórico, mas é hora de deixá-lo para trás. O futuro exige visão, ousadia e, acima de tudo, ação.
*Marcelo Rainho é sócio fundador da inVista Real Estate