Inovação, e não capital, é fator decisivo para as empresas no Brasil, afirma estudo

Levantamento inédito mostra que 7 em cada 10 companhias se tornam irrelevantes por não inovar; especialistas alertam para a revisão de estratégias

Paulo Pandjiarjian
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Imagens: Divulgação

Theo Braga, CEO da SME The New: “A inovação consistente atrai dinheiro de novo”

Theo Braga, CEO da SME The New: “A inovação consistente atrai dinheiro de novo”

A mortalidade precoce das empresas brasileiras é um desafio recorrente. Dados do Sebrae indicam que seis em cada dez negócios fecham as portas em até cinco anos de funcionamento. Mas uma nova pesquisa amplia o debate: segundo estudo inédito da SME The New Economy, 70% dessas empresas não sucumbem por falta de capital, mas pela ausência de inovação.

O levantamento aponta que a irrelevância diante do consumidor é mais letal do que a falta de recursos financeiros. Em outras palavras, companhias que deixam de inovar perdem espaço, deixam de ser lembradas, não são recomendadas e não conseguem se diferenciar da concorrência, fatores que, somados, resultam em fechamento de atividades.

“O empresário brasileiro precisa entender que inovar não é luxo, é sobrevivência. A Nova Economia cobra relevância todos os dias, e quem não acompanha o ritmo fica para trás”, afirmou Theo Braga, CEO da SME The New Economy, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY.

Para Braga, a percepção de que o sucesso empresarial está atrelado exclusivamente a capital ou eficiência operacional é um equívoco comum. “Na Nova Economia, quem não inova desaparece. Não importa o tamanho, a marca ou a história. O consumidor muda rápido e exige que as empresas acompanhem essa transformação.”

O executivo explica que inovação é, acima de tudo, estratégia, e não sinônimo de tecnologia. “Tecnologia é ferramenta; inovação é direção. A verdadeira pergunta é: ‘isso resolve um problema real do meu cliente?’ Se a resposta for não, é só moda. O que gera valor é aquilo que transforma a experiência, melhora a eficiência ou amplia margens de lucro. O resto é distração.”

Outro erro recorrente, segundo ele, é tratar inovação como área isolada. “Muitas empresas criam departamentos de inovação como vitrines, sem integrar esse pensamento ao coração da estratégia. Inovação como acessório não sustenta futuro.”

Exemplos recentes do mercado brasileiro reforçam o papel da inovação como alavanca de competitividade. A Ambev, diante da crescente demanda por conveniência, lançou o aplicativo Zé Delivery, que entrega bebidas geladas em minutos e ampliou a relação da marca com consumidores que valorizam agilidade.

Marcas tradicionais também têm apostado em novos formatos para se manterem relevantes.

A Cacau Show e a Bauducco, conhecidas por produtos já consolidados, passaram a investir em experiências imersivas em pontos de venda. O objetivo foi transformar o consumo em vivência emocional, estreitando o vínculo com os clientes e reposicionando marcas já vistas como clássicas.

Esses casos revelam que inovar não significa abandonar a tradição, mas reinterpretar o negócio à luz das novas demandas do consumidor.

Irrelevância como fator de risco

O diagnóstico da SME muda o foco da discussão sobre mortalidade empresarial. Crises econômicas, burocracia e restrição de crédito continuam sendo barreiras importantes, mas, segundo o estudo, não são os principais responsáveis pelo fechamento das companhias.

A maior ameaça é a perda de relevância diante de um cliente que muda comportamentos de consumo em ritmo acelerado. Braga compara: “Em um mundo onde o consumidor tem infinitas opções na palma da mão, deixar de ser lembrado equivale a não existir.”

O guia da sobrevivência na Nova Economia

Com base na pesquisa, a SME estruturou um guia prático com dez passos para ajudar empresas de todos os portes a atravessar o ambiente competitivo:

  1. Colocar o cliente no centro, adotando processos de escuta contínua.
  2. Criar experiências além do produto, transformando consumo em vivência.
  3. Acompanhar novos canais digitais, evitando a invisibilidade diante do consumidor conectado.
  4. Revisar modelos de negócio, processos e cultura de forma constante.
  5. Mapear demandas reais do mercado para evitar produtos sem aderência.
  6. Estimular experimentação e tolerância ao erro dentro da cultura corporativa.
  7. Diversificar receitas e reduzir dependência de uma única fonte de faturamento.
  8. Investir em capacitação contínua das equipes.
  9. Usar dados como insumo estratégico nas decisões.
  10. Adotar visão de longo prazo, com paciência e consistência na construção de marca e reputação.

Comparações internacionais

O cenário brasileiro se aproxima de tendências globais. Nos Estados Unidos, relatórios do Bureau of Labor Statistics apontam que 20% das pequenas empresas fecham no primeiro ano, e quase metade em cinco anos. Lá, estudos semelhantes mostram que as companhias que mais sobrevivem são as que investem em inovação contínua, mesmo em setores tradicionais como varejo e serviços. “O dinheiro sem inovação acaba, mas a inovação consistente atrai dinheiro de novo”, resumiu Braga.

Na Europa, iniciativas de apoio a startups e pequenas empresas enfatizam a transformação digital e a adoção de novos modelos de gestão. Países como Alemanha e Holanda têm programas públicos que incentivam negócios a adotar metodologias ágeis e práticas de inovação aberta, o que reduz índices de mortalidade empresarial.

O estudo da SME sugere que o Brasil, apesar de enfrentar barreiras estruturais, possui vantagem competitiva na criatividade e na capacidade de adaptação. “Se conseguirmos transformar esse talento em método escalável, podemos ser referência global em soluções acessíveis e adaptáveis”, avaliou Braga.

A trajetória da SME The New Economy

Fundada em 2020, a SME The New Economy nasceu com o propósito de capacitar empresários e investidores para os desafios da Nova Economia. Em cinco anos, a empresa afirma ter impactado mais de 100 mil líderes e formado mais de 10 mil empresários em programas imersivos.

Com crescimento médio de 2,5 vezes ao ano, a SME registrou faturamento de R$ 50 milhões nos últimos 12 meses e projeta alcançar R$ 100 milhões até o fim de 2025. A meta é chegar a R$ 1 bilhão em três anos, consolidando-se como plataforma de referência no ecossistema de inovação empresarial. Entre seus parceiros estão gigantes como Amazon, iFood, Samsung e SBT, além de centenas de pequenos e médios empreendedores.

Para a SME, os próximos anos serão decisivos. Setores tradicionais (como indústria, varejo e serviços financeiros) só manterão relevância se colocarem a inovação no centro das operações. A conclusão é clara: sobreviver não é uma questão de sorte, mas de método. “O Brasil tem um ecossistema criativo e resiliente, que aprendeu a fazer mais com menos. Se essa capacidade for conectada a escala global, temos todas as condições de escrever o futuro a partir daqui”, afirmou Braga.

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