Y-3: quando o silêncio do estilo japonês encontra o poder da marca alemã

Yohji Yamamoto, aos 81 anos, continua a propor o improvável: silhuetas que negam padrões, o preto como infinito e o wabi-sabi como filosofia de estilo

João Satt*
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Imagens: Divulgação

"O futuro não pertence ao mais jovem nem ao mais forte, pertence ao mais autêntico"

"O futuro não pertence ao mais jovem nem ao mais forte, pertence ao mais autêntico"

No US Open de 2025, a Y-3 não apenas vestiu atletas: ela sequestrou o olhar do mundo. Em meio a patrocínios previsíveis e ativações publicitárias recicladas, a fusão entre Adidas e Yohji Yamamoto mostrou que moda esportiva não é uniforme: é código, é atmosfera, é filosofia em movimento.

O impacto foi visceral.

Auger-Aliassime, em plena ascensão, não só jogou tênis: ele dançou com o tempo. Cada golpe, vestido pela Y-3, carregava um peso estético que transformava a quadra em palco. De repente, a sobriedade e o vazio tornaram-se mais arrebatadores do que qualquer espetáculo de excesso.

Enquanto isso, a Nike repetia fórmulas. Vestindo Jannik Sinner em looks corretos, mas estéreis, transmitiu rigidez em vez de frescor. A comparação foi cruel: de um lado, a tradição cristalizada; do outro, a disrupção silenciosa. O público aplaudiu Aliassime de pé. E a lição ficou gravada: o mundo está cansado do poder dominante, autoritário, previsível.

A força da Y-3 nasce do olhar de Yohji Yamamoto, um “anti-fashion designer” que fez carreira transformando a imperfeição em beleza e o silêncio em grito. Aos 81 anos, ele continua a propor o improvável: silhuetas que negam padrões, o preto como infinito e o wabi-sabi como filosofia de estilo. Quando Adidas e Yamamoto se encontraram em 2003, parecia impossível. Foi justamente essa improbabilidade que deu autenticidade à Y-3: a brutalidade esportiva alemã colidindo com a delicadeza conceitual japonesa. Da colisão, nasceu um novo código cultural.

No US Open, ficou claro: não existe mais juventude contra experiência. Existe verdade contra artificialidade. Yamamoto mostrou que idade não é barreira. É profundidade. Velho não é quem soma anos, mas quem se recusa a mudar de pele.

E a Adidas? Demonstrou inteligência rara. Em vez de centralizar a narrativa na técnica, abriu espaço para que a Y-3 se tornasse cultura. Performance é condição de entrada. O futuro, no entanto, está no cruzamento entre movimento, estética e propósito.

A Nike, mesmo vencendo com Sinner, sentiu o golpe. Sua identidade começa a ressoar como passado. Já a Y-3, ao lado da insurgente ON, oferece ao público jovem algo mais desejado do que vitórias: frescor, ousadia e experimentação.

Porque a Y-3 não vende roupas. Vende atmosferas.

Y é Yamamoto: o corte que vira manifesto, o vazio que fala mais que o cheio.
3 são as listras da Adidas: energia coletiva que acelera corpos em movimento.

De Tsitsipas a Pegula, de Zverev a Aliassime, a Y-3 transformou a quadra em passarela. Não para mostrar roupas, mas para expor humanidade em movimento: superação, vulnerabilidade, respiração. Mais do que uma marca, a Y-3 virou tempo.

O recado é brutal e libertador.

Não precisamos temer os ciclos. O futuro não pertence ao mais jovem nem ao mais forte, pertence ao mais autêntico.

A Y-3 mostrou que reinventar-se não é opção, é sobrevivência.

E aqui está a chave: o conteúdo deixou de ser suporte.
O conteúdo é o produto. O conteúdo é a mídia.

Se cada publicação é produto, ela precisa emocionar.
Se cada produto é mídia, ele precisa conversar.

As marcas que entenderem essa virada não vão disputar espaço publicitário, vão criar seus próprios palcos.

A lógica não é mais apenas comprar mídia. É ser mídia.

E quem não tiver coragem para isso ficará condenado a ecoar fórmulas velhas em um mundo que só quer respirar novidade.

*João Satt é estrategista e CEO do Grupo G5

 

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