Com MerX, trio ex-BTG cria ecossistema digital do agro para ampliar crédito e exportação

Com quatro linhas de negócio, agtech brasileira já movimentou R$ 250 milhões em financiamentos e transacionou 52 milhões de toneladas de grãos. FIDC de R$ 500 milhões está sendo preparado

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Imagens: Divulgação

Guilherme Dominici, sócio da MerX, especializado em commodities, mercado de capitais e investimentos

Guilherme Dominici, sócio da MerX, especializado em commodities, mercado de capitais e investimentos

Gustavo Vazquez, Guilherme Dominici e Paolo Silva atuavam no setor de trading de commodities do BTG Pactual, especialmente de soja, milho e seus derivados. Cuidavam da cadeia logística dos produtos, desde a originação em fazendas no interior do Brasil até a destinação na China, passando pelo gerenciamento de todo o processo. Na avaliação do trio, apesar de alguns avanços, de maneira geral o setor usava pouca tecnologia, com muitas etapas manuais, o que gerava perda de agilidade e eficiência. Ao mesmo tempo em que enxergaram o problema, observaram uma oportunidade para solucioná-lo. Mas não no banco — fora dele. Como empresários. Assim surgiu a MerX, em 2022, com uma solução de SaaS (Software as a Service) para dar mais dinâmica ao setor, destravar negócios e gerar parcerias.

Aos poucos, a companhia agregou outras três linhas de negócios: trading, crédito e certificações. Com crescimento de três a quatro vezes ao ano e o dobro de clientes a cada período, a agtech já movimentou R$ 250 milhões em crédito no agro, transacionou 52 milhões de toneladas de grãos e se prepara para lançar seu segundo FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), possivelmente no valor de R$ 500 milhões.

“Hoje, quase quatro anos depois da criação, a MerX está estruturada com a plataforma de sistemas, o que facilita os outros três negócios — trading, crédito e certificações. Estamos ampliando a atuação com soluções integradas para todo o setor”, disse Dominici ao BRAZIL ECONOMY.

Para se ter ideia da evolução da MerX, na vertente de crédito, operada em parceria com a Indie Capital, uma gestora de fundos de ações, o limite era de R$ 10 milhões no início da companhia. Rapidamente, a agtech organizou um primeiro fundo, de R$ 100 milhões de patrimônio líquido, que já girou uma vez e meia, alcançando R$ 250 milhões em 14 meses. “Ofertamos crédito a produtores rurais que são nossos clientes na plataforma, recebemos as parcelas e renovamos as operações”, afirmou o executivo da MerX, ao pontuar que foram realizados 160 financiamentos, “com zero inadimplência”.

Com o sucesso da linha de crédito, a MerX já trabalha para viabilizar outro FIDC, cinco vezes maior do que o primeiro. “Esse é um negócio que queremos expandir e no qual estamos colocando bastante energia”, acrescentou Dominici.

A Fazendão é um dos clientes da MerX que utiliza suas quatro linhas de negócio
A Fazendão é um dos clientes da MerX que utiliza as quatro linhas de negócio da agtech

Plataforma

A vertente de crédito é transacionada dentro da plataforma de tecnologia que deu origem à MerX. Nela, as empresas que originam, industrializam, compram e movimentam as commodities agrícolas podem customizar conforme suas necessidades. Inclusive, é white label, com as cores e o logotipo da empresa cliente da agtech.

Nesse ambiente são contatadas e gerenciadas todas as atividades dos integrantes do ecossistema, que incluem produtores, cerealistas, cooperativas, fornecedores, distribuidores e indústria. “Promovemos uma relação de ganha-ganha nessa cadeia”, disse o sócio-fundador da MerX. “Atuamos para gerar valor, receita e resultado para os clientes.”

Também é no software que as empresas cadastradas trocam preços, fecham negócios, assinam contratos, rastreiam produtos e gerenciam riscos. “Não queremos entrar nessa relação comercial. Queremos promover e ampliar a relação entre os elos do setor”, afirmou Dominici. “O sistema está preparado para conduzir toda essa trilha, desde a fazenda até o destino.”

A plataforma já possui mais de 100 mil produtores rurais mapeados — detentores de 20 milhões de hectares plantados — e emitiu cerca de 500 mil relatórios socioambientais, tornando-se referência em rastreabilidade para crédito de carbono e compliance de grãos.

Certificações e rastreabilidade

Com as empresas do agronegócio focadas em seu core business — comprar, vender e gerar margem —, muitas deixam de lado um ponto considerado importante pela MerX: as certificações.

Foi pensando em suprir essa demanda que a MerX montou sua vertente de certificações. “Percebemos que esses documentos ficavam em segundo plano e que demandavam muito esforço, muita atenção das empresas. Nossa intenção é suprir essa deficiência.”

“Não é só consultoria”, frisou o sócio. “Fazemos toda a preparação e a execução dos processos de certificação, desde a coleta de informações — em campo ou de forma digital — até o pacote pronto para a certificadora realizar o trabalho e bater o carimbo”, explicou Dominici.

Hoje, são atendidos cerca de 10 grandes clientes nesse trabalho, com processos que duram de dois a seis meses. Entre eles está uma usina que tinha 14% de fração elegível no RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis). “Só emitia créditos de carbono (CBIOs – Créditos de Descarbonização) de 14% da produção dela, e a gente levou para 80%. Hoje tem a maior fração elegível entre as indústrias de biocombustível que usam óleo de soja como matéria-prima”, ressaltou o sócio da MerX. Com mais créditos de carbono emitidos, o valor do produto aumenta e gera mais receita.

O sistema analisa informações como uso de fertilizantes e defensivos, produtividade real e área plantada, cruzando esses dados com os parâmetros técnicos exigidos pelo RenovaBio.

Juntamente com as certificações, a agtech faz a rastreabilidade dos produtos em toda a cadeia, desde a fazenda até o destino final. “Isso também gera valor aos clientes dos produtores, fidelizando fornecedores e compradores.”

Trading

Trading é o quarto pilar de atuação da MerX. “Apoiamos nossos clientes corporativos na trilha de exportação e no acesso a mercados que hoje eles não alcançam”, disse Dominici.

A agtech acaba de fechar seu primeiro navio fretado, de soja, para a China — aproximadamente US$ 22 milhões. Ainda conservador, segundo o executivo, diante de futuras remessas que podem ultrapassar US$ 60 milhões.

A MerX faz a intermediação de produtores brasileiros com compradores internacionais e também compra por conta própria para revender ao exterior. Além disso, cuida de todos os procedimentos da exportação — documentação, organização logística e desembaraço portuário. Os contatos vêm do network dos sócios, cada um com mais de 20 anos de experiência.

Fazendão

Um dos clientes da MerX utiliza suas quatro linhas de negócio e tem crescido junto com a agtech paulistana. A Fazendão Agronegócio foi fundada em Gurupi (TO), em 2004. Origina cerca de 2 milhões de toneladas de grãos por ano, processa mais de 1,1 milhão de toneladas e tem capacidade instalada para industrializar 300 mil toneladas de milho.

Foi o primeiro grande cliente da MerX. “Quando chegamos, ainda assinavam contratos manuais. Hoje, 100% dos contratos são assinados digitalmente e gerados automaticamente no sistema”, contou Dominici.

Cerca de 95% de toda a soja e o milho originados na Fazendão são rastreados. “Isso permitiu, por exemplo, que ela fornecesse óleo de soja elegível a CBIOs para uma usina que também é nossa cliente”, ressaltou o executivo.

A Fazendão também realizou certificações e obteve crédito junto à MerX para sua expansão. “É um caso de sucesso transformador, de crescimento da empresa, de implementação de políticas de gestão de risco e governança, de resultado financeiro, com premiações e certificações.”

A Fazendão apostou na digitalização para crescer — exatamente como o trio de fundadores da MerX acreditava que aconteceria quando criou a agtech.

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