A Geração Z já foi seduzida pela promessa de que conseguir um emprego em uma gigante da tecnologia como Meta, Microsoft ou Salesforce garantiria sucesso com salários de seis dígitos. Mas, graças à automação por IA, esses jovens estão sendo ativamente excluídos do setor. A proporção de trabalhadores de 21 a 25 anos foi cortada pela metade nessas grandes companhias de capital aberto, ao mesmo tempo em que a idade média dos empregados sobe. Especialistas ouvidos pela Fortune afirmam que essa mudança pode sufocar a inovação a longo prazo — embora ainda existam caminhos para que profissionais da Geração Z consigam entrar no mercado.
A Geração Z, nativa digital criada na era do YouTube, Tumblr, Instagram e Facebook, é hoje um dos grupos que mais utiliza IA em suas vidas pessoais e profissionais. No entanto, as empresas de tecnologia do Vale do Silício, que buscam se destacar com a IA, não estão retendo essa geração altamente conectada — pelo contrário, estão deliberadamente deixando-os de fora.
Dados recentes da Pave, empresa de software de gestão de remuneração que analisou informações de mais de 8.300 companhias, mostram que a porcentagem de jovens de 21 a 25 anos nas empresas de tecnologia caiu de 15% em janeiro de 2023 para apenas 6,8% em agosto de 2025 nas companhias de capital aberto. Em grandes empresas privadas de tecnologia, a queda foi de 9,3% para 6,8% no mesmo período.
Enquanto isso, a idade média dos trabalhadores subiu consideravelmente. Entre janeiro de 2023 e julho de 2025, a média passou de 34,3 para 39,4 anos nas empresas públicas, um salto de mais de cinco anos. Nas privadas, a alta foi menor: de 35,1 para 36,6 anos.
Atualmente, os millennials dominam a indústria de tecnologia, mantendo seus cargos em meio às incertezas causadas por tarifas, inflação e pela substituição de empregos pela IA. Já os profissionais da Geração Z em início de carreira lutam apenas para conseguir começar.
“Se você tem 35 ou 40 anos, já está estabelecido na carreira e possui habilidades que ainda não podem ser substituídas pela IA”, disse Matt Schulman, fundador e CEO da Pave, à Fortune. “Mas se você tem 22 anos e era viciado em Excel, isso pode ser facilmente automatizado. É quase uma história de duas cidades diferentes.”
Segundo Schulman, a automação tornou as grandes empresas (como Salesforce, Meta e Microsoft) muito mais eficientes. Apesar dos lucros trilionários, elas estão cortando funções de base em favor da automação. Isso elimina vagas de entrada, geralmente ocupadas por jovens da Geração Z, o que eleva naturalmente a idade média da força de trabalho. Para os especialistas, isso representa um sério risco à inovação e à estabilidade dos negócios no longo prazo.
A rápida redução da presença da Geração Z nas grandes empresas de tecnologia é um sinal claro de que a automação está substituindo funções desde os cargos de entrada. O mais preocupante é que justamente as empresas públicas (que tinham programas de recrutamento e treinamento robustos voltados a recém-formados) são as que mais estão eliminando essas vagas.
“Empresas como a Meta sempre apostaram em buscar talentos nas universidades, treinar jovens brilhantes de 21 anos e desenvolvê-los. Esse modelo está deixando de ser relevante, principalmente nas companhias privadas”, explica Schulman, que iniciou a carreira em empresas como Facebook e Microsoft.
Para Jeri Doris, diretora de RH da Justworks, a redução da força de trabalho criou uma barreira ainda maior para a Geração Z. Com demissões em massa (mais de 806 mil cortes anunciados entre janeiro e julho de 2025, segundo relatório da Challenger, Gray & Christmas), os cargos de entrada praticamente desapareceram. Isso torna mais difícil para os jovens encontrarem oportunidades na tecnologia, ao mesmo tempo em que eles passam a buscar carreiras em setores que oferecem mais estabilidade, flexibilidade e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
No longo prazo, esse vazio pode gerar sérios problemas. Se a Geração Z não tiver a chance de aprender desde os cargos iniciais, faltará talento preparado para assumir posições de liderança no futuro. Schulman cita como exemplo as carreiras em vendas: “Você começa como júnior, depois vai para contas médias e, por fim, para grandes clientes corporativos. Esse último nível não deve ser substituído pela IA tão cedo, mas como formar esses profissionais se não existe mais o degrau inicial da escada?”
Apesar do cenário desafiador, especialistas dizem que a Geração Z ainda tem vantagens a explorar. Ser novo na indústria pode, inclusive, ser um diferencial.
“As empresas podem contratar jovens de 21 ou 22 anos que ainda não foram moldados por anos de cultura corporativa e que sabem usar a IA de forma ousada, quebrando regras”, afirma Schulman.
Para se destacar nessa era de automação, os jovens precisam estar obcecados em aprender os novos modelos que surgem, dominar técnicas avançadas de interação com chatbots e até criar modelos próprios.
Priya Rathod, editora de tendências de trabalho do LinkedIn, destaca que não é hora de desistir do setor de tecnologia, mas sim de repensar o caminho dentro dele. “Desenvolver habilidades por meio de certificações, trabalhos temporários e comunidades online pode abrir portas. Áreas como UX, ética em IA, cibersegurança e operações de produto são boas portas de entrada”, afirma.
Com cada vez mais empregadores flexibilizando exigências de diplomas tradicionais, as certificações e microcredenciais podem pesar mais do que anos de experiência no currículo. Isso ajuda a manter os jovens competitivos mesmo quando as oportunidades de entrada diminuem.