Investidores que só procuram isenção fiscal estão perdendo muitas oportunidades

Títulos isentos costumam pagar juros menores porque já oferecem o benefício fiscal como compensação. Sem essa vantagem, emissores terão de oferecer taxas maiores

Lucas Ferraz*
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Imagens: Divulgação

Lucas Ferraz é CEO da Faz Capital

Lucas Ferraz é CEO da Faz Capital

Investir pensando apenas na isenção fiscal é como comprar uma ação pelo preço baixo sem avaliar se a empresa tem futuro. No mercado financeiro, o que realmente conta é entender o risco, a facilidade de saída e a qualidade do ativo, e não apenas quanto de imposto será economizado. As regras tributárias mudam com frequência, e depender exclusivamente delas pode deixar o investidor parado enquanto o mercado avança. Crescer com consistência exige olhar o cenário completo, diversificar e priorizar o retorno ajustado ao risco, que sustenta os ganhos no longo prazo.

Em 2024, os investimentos em títulos com isenção fiscal ultrapassaram R$ 1,12 trilhão, com alta de 9,1% em relação ao ano anterior, segundo a Anbima. O volume indica que o benefício ainda atrai muitos investidores, mas há discussões no Congresso e na Justiça para encerrar parte dessas vantagens em produtos como LCIs, LCAs e debêntures incentivadas. Por ora, nada está definitivo. Uma das propostas prevê substituir a tabela regressiva por uma alíquota fixa de 5%, o que reduziria a vantagem para quem mantém os papéis por mais tempo. Diante disso, é preciso avaliar melhor os ativos e seus retornos reais, sem depender apenas de incentivos que podem desaparecer.

Títulos isentos costumam pagar juros menores porque já oferecem o benefício fiscal como compensação. Se essa vantagem acabar, os emissores terão de oferecer taxas maiores para atrair capital, o que encarece o investimento e pressiona os preços. Nessas horas, o que deve pesar mais é o retorno líquido, levando em conta o risco de crédito, a duração dos papéis e a solidez do emissor. Apostar apenas na economia de impostos pode sair caro, e esse tipo de ajuste vem ocorrendo também em outros investimentos.

O IOF no câmbio, por exemplo, foi unificado em 3,5% para todas as operações internacionais, o que aumentou o custo de forma imediata. Além disso, mudanças na tributação dos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) impactaram principalmente os investidores institucionais. Essas alterações mostram como o custo final das aplicações pode mudar de um momento para outro. Monitorar taxas, encargos e impostos passou a ser parte essencial de uma estratégia que busca preservar a rentabilidade, mesmo com mais incertezas pelo caminho.

Produtos considerados mais tradicionais também passaram por ajustes. Em seguros de vida e previdência privada, por exemplo, aportes acima de R$ 300 mil no VGBL passaram a pagar IOF adicional, com previsão de aumento para R$ 600 mil em 2026. Isso mostra que nem mesmo alternativas vistas como estáveis estão livres de revisão fiscal. O investidor precisa analisar com cuidado os prazos, os perfis dos investimentos e manter a carteira pronta para responder rápido às mudanças, aproveitando oportunidades e evitando prejuízos desnecessários.

No cenário internacional, a pressão sobre ativos digitais e aplicações no exterior também aumentou. A OCDE vai implementar, em 2026, um sistema de troca automática de dados fiscais sobre criptoativos. Nos Estados Unidos, a obrigação de reportar operações em exchanges já existe, enquanto no Brasil a tributação sobre lucros não repatriados se tornou mais rígida. Ignorar esse movimento pode gerar multas elevadas e perdas relevantes. Manter o planejamento atualizado virou uma necessidade para quem quer reduzir riscos legais e preservar o que construiu até aqui.

A melhor saída, diante de tantas mudanças, não está em fugir do imposto, mas em investir com estratégia, visão de longo prazo e foco no retorno ajustado ao risco. Contar apenas com a isenção pode parecer vantajoso em um primeiro momento, mas tende a custar caro com o tempo. Quem avalia o portfólio de forma completa, acompanhando o ambiente regulatório, o mercado e seus próprios objetivos, consegue enfrentar crises com mais firmeza. Saber que o imposto faz parte do processo, mas não deve guiar a decisão, é sinal de uma gestão financeira madura.

Pensar apenas em pagar menos imposto é um erro comum que ignora a complexidade do mercado. O que realmente importa é a rentabilidade real, a consistência e o alinhamento com as metas pessoais de cada investidor. Investir exige atenção constante, análise cuidadosa e capacidade de adaptação. Ficar preso a benefícios fiscais temporários é arriscar perder dinheiro e deixar boas oportunidades para trás. Resultados sustentáveis vêm de decisões bem informadas e de uma carteira construída com critério. Não de atalhos ou promessas fáceis.


*Lucas Ferraz é CEO da Faz Capital

 

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