Turbi, a caminho do primeiro bilhão, aposta em tecnologia para reinventar o rent-a-car

Com previsão de R$ 500 milhões de receita neste ano e frota de 10 mil carros, a startup criada por ex-banqueiros acelera com tecnologia, IA e novos mercados

Compartilhe:

Imagens: Claudio Gatti/Brazil Economy

O diretor Eduardo Portelada (à esq.) e o CEO Daniel Prado afirmam que a Turbi cresce por ser uma empresa de tecnologia

O diretor Eduardo Portelada (à esq.) e o CEO Daniel Prado afirmam que a Turbi cresce por ser uma empresa de tecnologia

O setor de locação de veículos no Brasil sempre foi visto como altamente lucrativo, mas pouco inovador. Para alugar um carro, até poucos anos atrás, o consumidor precisava repetir um ritual burocrático: ir até uma loja, enfrentar filas, preencher formulários e se adaptar ao horário da locadora. Era assim em 1998, e continuava sendo em 2016. Foi dessa percepção que nasceu a Turbi Compartilhamento de Veículos S.A., em 2017, idealizada por um grupo de ex-banqueiros com passagens por Itaú, Credit Suisse, Goldman Sachs e BTG Pactual.

“A experiência estava ultrapassada, mesmo num mercado gigantesco e cheio de oportunidades”, afirmou o cofundador e CEO Daniel Prado, em entrevista ao BRAZIL ECONOMY. O diagnóstico se tornou oportunidade de negócio. Assim como o Nubank transformou a relação dos brasileiros com os bancos, a Turbi se propôs a revolucionar a forma de alugar carros, trazendo conveniência, tecnologia e transparência para um setor engessado.

Desde o início, a proposta foi ser 100% digital. Nada de balcões, filas ou chave física. O cliente abre o carro pelo aplicativo, paga por hora e devolve o veículo em pontos de retirada espalhados pela cidade, disponíveis 24 horas por dia. Hoje, são quase 300 pontos em São Paulo (localizados em estacionamentos de shoppings, hotéis, hospitais e prédios comerciais) com a meta de alcançar 350 até o fim de 2025.

O aplicativo permite ainda escolher modelo, cor, quilometragem e até o final da placa, resolvendo uma das grandes frustrações dos clientes das locadoras tradicionais, a de reservar um carro e receber outro. Além disso, toda a gestão de multas, manutenções e sinistros é feita digitalmente, com maior controle de custos e redução de burocracia.

O resultado é eficiência. A Turbi já opera com o menor custo por veículo do setor e consegue extrair até 20% a mais de receita líquida por automóvel em comparação às líderes de mercado, que têm frotas centenas de vezes maiores. A projeção é fechar 2025 com faturamento de R$ 500 milhões e, já em 2026, ultrapassar a marca inédita do primeiro bilhão.

No início, a Turbi trabalhava com veículos alugados de terceiros. Mas, em 2024, a empresa deu um passo decisivo ao migrar para uma frota 100% própria, financiada por cerca de R$ 1 bilhão em emissões de dívida estruturada. O efeito foi imediato. A margem operacional, que era negativa (-10%), saltou para patamares próximos a 60%, aproximando a companhia dos números registrados por gigantes como Localiza e Movida.

A frota, composta por modelos populares e seminovos com baixa quilometragem, é renovada a cada 15 meses, em média. Esse ciclo curto garante veículos em boas condições para os clientes e ainda abre espaço para um negócio adicional: a venda de seminovos, segmento que vem ganhando força dentro da Turbi.

Seminovos: um braço estratégico

Em 2023, a Turbi inaugurou sua primeira loja de seminovos em São Paulo, oferecendo veículos de frota própria com pouco uso e preços competitivos. O desempenho tem sido positivo. No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou R$ 29,3 milhões em receita líquida com seminovos, crescimento de 40,4% em relação ao mesmo período de 2024, e vendeu 333 carros (+22,9%).

O sucesso incentivou a abertura de novas lojas na Zona Norte, Zona Leste e no ABC paulista. A estratégia é expandir também para o digital, apostando na demanda de consumidores que buscam carros quase novos, mas sem o risco dos usados de frota intensiva.

O balanço do segundo trimestre de 2025 mostrou que a estratégia está dando frutos. A receita líquida consolidada atingiu R$ 82 milhões, alta de 36,9% na comparação anual. O Ebitda recorrente ficou em R$ 26,1 milhões, avanço de 30% sobre o primeiro trimestre desde ano. Apesar do prejuízo líquido de R$ 29,8 milhões, houve melhora expressiva de 50% frente ao segundo trimestre de 2024, mostrando que a companhia caminha para a redução das perdas.

No segmento de locação (RAC), a receita líquida foi de R$ 52,7 milhões, com margem Ebitda recorrente de 57,9%, superior às grandes do setor. A frota chegou a 5.815 veículos, expansão de 41,9% em um ano. Do lado financeiro, a dívida líquida consolidada é de R$ 648,6 milhões, coberta por ativos robustos. Em julho, a empresa aprovou um aumento de capital de R$ 80 milhões, com o objetivo de reforçar a expansão da frota e liquidar parte das dívidas.

Para enfrentar esses desafios e sustentar o crescimento, a Turbi vem acelerando investimentos em tecnologia. A companhia implementou recentemente sistemas de inteligência artificial para detecção de danos e precificação dinâmica, reduzindo perdas e otimizando margens.

Além disso, o portfólio de produtos está se diversificando. Além da locação por hora, a empresa oferece assinatura mensal de veículos, parcerias com seguradoras e soluções corporativas. O próximo passo é a eletrificação gradual da frota. Ainda incipiente, a estratégia mira o futuro da mobilidade urbana no Brasil.

A expansão geográfica

Até agora, a Turbi concentrou operações na Grande São Paulo, mas iniciou um plano de expansão regional. Em 2024, chegou a Mogi das Cruzes, e ainda em 2025 vai iniciar operações em Cotia e Campinas. No médio prazo, o foco será expandir para Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Belo Horizonte.

“Queremos replicar o que validamos em São Paulo em outras capitais e grandes centros urbanos. Mas a prioridade é crescer de forma sustentável, sem perder eficiência”, acrescentou o CEO.

O setor é altamente concentrado. A Localiza lidera com 600 mil carros, seguida pela Movida (350 mil) e pela Unidas. A Turbi, com pouco menos de 6 mil veículos, ainda é uma competidora de nicho, mas aposta no diferencial digital para capturar fatias do mercado bilionário.

A comparação com o Nubank volta a aparecer: assim como a fintech rompeu com a lógica das agências físicas e da burocracia bancária, a Turbi quer ser a locadora digital do futuro, focada em conveniência, transparência e flexibilidade.

Com resultados em aceleração, expansão de frota, aumento de capital e tecnologia própria, a Turbi acredita estar em posição de protagonismo no futuro da mobilidade. O desafio agora é escalar sem perder eficiência.

“Se conseguimos entregar margens próximas às grandes com uma frota dez vezes menor, é porque existe um caminho claro para crescer de forma sustentável. O mercado de mobilidade está em transformação e acreditamos que a Turbi pode ser protagonista dessa mudança”, afirmou Eduardo Portelada, diretor de relações com investidores da Turbi.

A aposta é que, no segundo semestre de 2025, os números financeiros e operacionais mostrem evolução ainda maior, consolidando a companhia como a principal referência em locação de veículos digital B2C no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.