O Brasil está em um momento crucial de sua história econômica. Com abundância de fontes renováveis, disponibilidade de água e biomassa, o País desponta como candidato natural a liderar a corrida global pela transição energética. Esse cenário foi o pano de fundo da quarta edição do Prumo Day, realizado pela Prumo Logística, desenvolvedora e gestora do Porto do Açu, em São João da Barra (RJ).
O evento reuniu na semana passada lideranças empresariais, autoridades e especialistas para debater os rumos da nova economia. Entre os presentes estavam nomes de peso como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, sócio da Moura Rocha Consultoria, e Stephen Potter, CEO da Tecnored e conselheiro da Vale. Mas foi o anfitrião, Rogério Zampronha, CEO da Prumo, quem reforçou a convicção de que o Brasil tem condições de se colocar no centro das discussões globais.
“O Brasil tem tudo para liderar globalmente na transição energética. Temos vantagens naturais que poucos países no mundo conseguem replicar”, afirmou Zampronha em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY. “O Porto do Açu é um instrumento dessa estratégia, funcionando como plataforma integrada e sustentável para a nova industrialização do País.”
Idealizado como um dos mais ambiciosos projetos de infraestrutura do Brasil, o Porto do Açu se consolida cada vez mais como um polo logístico e industrial de relevância global. Zampronha explica que a proposta vai além de ser um hub portuário: o Açu foi planejado para ser um ecossistema integrado, com uso intensivo de energia renovável, biomassa, reaproveitamento de água e um modelo de negócios que privilegia a colaboração entre empresas instaladas.
Segundo ele, trata-se de uma engrenagem que dialoga diretamente com a política de neoindustrialização defendida pelo governo federal e por diferentes setores da economia. “É um passo importante para o desenvolvimento do país. O Açu tem condições de ancorar investimentos industriais que dialoguem com sustentabilidade, tecnologia e eficiência”, destacou o executivo.
GNA II: a força de um gigante energético
Entre os ativos mais simbólicos do complexo está a Usina Termelétrica GNA II, recentemente inaugurada. Com 1,7 GW de capacidade instalada e investimento de R$ 7 bilhões, o empreendimento integra o maior parque termelétrico da América Latina.
A estrutura é formada pelas usinas GNA I e II, em sociedade com a BP (British Petroleum), Siemens e a chinesa SPIC. No total, a capacidade instalada do complexo pode atender até 8 milhões de residências.
“É um sentimento de grandeza ver esse sistema em operação. Trata-se de um marco não só para a Prumo, mas para o setor energético nacional”, disse Zampronha.
O Porto do Açu não se limita à energia. Diversos projetos em desenvolvimento reforçam sua posição como hub logístico e industrial. Entre eles estão a construção de um novo terminal de grãos (ampliando a vocação exportadora da região), projetos para desmantelamento sustentável de plataformas da Petrobras (aproveitando a proximidade com a Bacia de Campos) e um Truck Center para suporte a operações de transporte terrestre. Esses empreendimentos, de acordo com Zampronha, reforçam o papel do porto como uma infraestrutura viva, em constante expansão para atender demandas do presente e do futuro.
Se infraestrutura pesada é um dos pilares do Açu, inovação e tecnologia são outro. O Cais Açu Lab, ecossistema de inovação da Porto do Açu, já reúne dezenas de startups, clientes e instituições financeiras em busca de soluções aplicadas. Atualmente, são 115 provas de conceito em andamento, financiadas por programas de P&D da Aneel e ANP, além de investimentos da própria empresa e de clientes parceiros. Entre as frentes mais relevantes estão projetos em transição energética, eficiência operacional, segurança digital e sustentabilidade.
Outro avanço tecnológico foi a modernização dos sistemas de radar e comunicação com embarcações, que elevam a eficiência das operações. “No Porto do Açu, o tempo médio de espera para atracação varia de três a seis dias, mesmo em situações adversas. Em outros portos brasileiros, esse número pode chegar a 70 dias”, comparou o CEO.
Para Zampronha, há uma combinação rara de fatores que coloca o Brasil em posição privilegiada na agenda da transição energética: energia renovável abundante, proveniente do sol e dos ventos; ampla disponibilidade de água, essencial para processos como a produção de hidrogênio verde; e reservas extensas de biomassa, que ampliam o leque de fontes sustentáveis. “Concorrentes globais, como países do norte da África ou a Arábia Saudita, não contam com esses recursos de forma integrada. Isso nos dá uma vantagem estratégica única”, destacou.
Toda a água usada no Açu, por exemplo, é reaproveitada a partir de um mineroduto que transporta o minério. Depois desse processo, a água é reutilizada. O modelo reduz o impacto ambiental e torna possível a produção de hidrogênio verde com alta eficiência. “É o hidrogênio verde mais verde que existe”, brincou o executivo.
Apesar do otimismo, Zampronha não ignora os obstáculos. Entre eles estão o alto custo de capital no Brasil, a complexidade tributária e os entraves regulatórios. “São barreiras que precisamos superar para destravar o potencial que já existe. Esse é o sonho: que o Brasil seja protagonista mundial dessa nova era”, afirmou.
Na visão do executivo, cabe às empresas contribuir para esse processo, estabelecendo parcerias sólidas com clientes, fornecedores e autoridades. “Aqui, no Açu, estamos fazendo a nossa parte: apoiando nossos clientes a estabelecerem suas operações e crescendo juntos. O caminho é longo, mas a oportunidade é imensa.”
O futuro em disputa
Com a crise climática pressionando governos e empresas em todo o mundo, a transição energética deixou de ser apenas uma questão ambiental: tornou-se tema central da economia global. Nesse contexto, projetos como o Porto do Açu se posicionam como catalisadores de investimentos, inovação e desenvolvimento sustentável.
O discurso de Rogério Zampronha sintetiza esse momento: o Brasil pode, de fato, se tornar protagonista na construção de um novo paradigma energético. Mas para isso será necessário transformar vantagens naturais em políticas de Estado, ambiente regulatório favorável e capacidade de atração de capital em escala. Enquanto isso, no litoral norte fluminense, o Porto do Açu segue se consolidando como laboratório vivo dessa transformação.