A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) aponta que em 2024 os cartões de crédito, débito e pré-pagos movimentaram R$ 4,1 trilhões e somaram 45,7 bilhões de transações. Mesmo diante da chegada de soluções instantâneas, como PIX, carteiras e moedas digitais emitidas por bancos centrais, como o Drex, estes dados mostram que os bons e velhos cartões ainda seguem relevantes na economia brasileira. A pergunta que se coloca é: até quando?
Executivos ouvidos pelo BRAZIL ECONOMY são unânimes em apontar que a única palavra que responde essa pergunta é “integração”. “Os cartões estão se tornando ferramentas de acesso a novos meios de pagamento. Já é possível que um único cartão opere com diferentes moedas ou contas, facilitando o uso de criptoativos e aumentando a eficiência tanto para emissores quanto para usuários”, afirmou Rafael Goulart, country manager da Pomelo no Brasil, empresa argentina de serviços financeiros em operação no Brasil desde 2021, além de ser uma das companhias regionais da área mais importantes de outros países latino-americanos, como Peru, México e Colômbia.
“Estamos diante de uma mudança profunda no sistema global de pagamentos. Soluções como o Drex, stablecoins e redes instantâneas estão ganhando espaço, sinalizando uma descentralização real dos fluxos financeiros. Isso abre caminho para que mais agentes, especialmente empresas, possam oferecer serviços financeiros dentro de seus próprios ecossistemas. É um momento em que a inovação precisa ser rápida, mas também estratégica. Quem conseguir conectar tecnologia, experiência do usuário e infraestrutura regulatória sairá na frente na construção do futuro dos pagamentos”, disse o executivo.
Para Anderson Santana, CCO da Entrepay, empresa brasileira de tecnologia que tem como principal foco a otimização de pagamentos, a integração vem junto com a necessidade de entregar a melhor experiência ao usuário e à relação custo-benefício para todos os envolvidos no ecossistema. É necessário, na visão do executivo, que empresas que forneçam plataformas integradas desempenhem um papel essencial para a redução do custo de entrada, catalisando o surgimento de novas soluções de pagamento, desde produtos até ferramentas especializadas, contribuindo para uma economia da colaboração em detrimento da centralização.
“O futuro dos meios de pagamentos é invisível, descentralizado e hiper personalizado. E isto tem muita relação com Embeded Finance, Open Finance, modelos distribuídos e IA. A adoção desses novos modelos e tecnologias, impulsionada pela agenda do Banco Central do Brasil, vem moldando o mercado de meios eletrônicos de pagamentos para uma redução das barreiras de entrada, gerando uma ampla opção de soluções ao consumidor, maior inclusão financeira e redução de custo para o ecossistema”, enfatizou Santana.
A mesma linha é seguida por Lucas Nones, especialista em Negócios da Viacredi, a maior cooperativa de crédito em número de cooperados do Brasil. “As empresas estão investindo em experiências únicas que permitam ao usuário que ele faça a aquisição por onde quiser, seja por cartão, NFC, Pix, moedas digitais etc. Para isso, é necessário investir em infraestruturas tecnológicas como tokenização e até parcerias com bancos, fintechs e bandeiras de cartão, como Visa, Master e Elo”, disse o executivo.
Unir segurança e comodidade ao cliente ainda é desafio da integração
Mas, quanto mais se integram soluções de pagamento, maior é a possibilidade de crimes e fraudes, principalmente pelo maior número de compartilhamento de informações dos usuários. Sobre isso, Thiago da Cruz, CEO da empresa de tecnologia 87Labs, sinalizou:
“Temos muitas empresas que fazem um ótimo trabalho de segurança das informações sensíveis transitadas do pagamento, mas também temos bastantes casos principalmente nas médias pequenas empresas de serviços que não usam tokenização das informações, trabalham com conexões inseguras e não tem políticas de antifraude e anti money laundry. Essas são preocupações que normalmente não passam pela cabeça de quem está contratando um serviço de meio de pagamento, mas que são essenciais para garantir a segurança das informações transacionadas”.
Já Lucas Nones, da Viacredi, é otimista em relação ao papel que o Banco Central do Brasil exerce no sentido de proteger os consumidores finais.
“Toda essa integração só fará sentido se ela for confiável e no Brasil o Banco Central é bem rigoroso em termos de padrão de segurança. As tecnologias como blockchain e contratos inteligentes vão trazer mais transparência e rastreabilidade de todas essas transações que já ocorrem no mercado de meios de pagamento. O grande desafio sempre vai ser equilibrar essa toda essa fluidez e conveniência com a máxima segurança para o consumidor final”, ressaltou.