Parece que a tempestade tem passado e a bonança começa a aparecer no horizonte da Alpargatas, dona das marcas Havaianas e Rothy’s. “O momento é de retomada”, disse Liel Miranda, CEO da companhia, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY.
O executivo reconhece os “períodos difíceis”, não tão distantes, mas comemora os resultados recentes do segundo trimestre deste ano, em que a receita líquida foi de R$ 1,101 bilhão — aumento de 8,3% em relação ao mesmo período de 2024 —, com crescimento tanto no mercado internacional (13%) quanto no Brasil (8%), e lucro de R$ 87 milhões, ante R$ 23 milhões registrados de abril a junho do ano passado.
“Praticamente triplicamos o Ebitda. Avançamos em volume, escala, participação de mercado e rentabilidade”, afirmou Miranda sobre “a volta do crescimento, principalmente do ponto de vista financeiro”.
É, de fato, para comemorar. De meados de 2022 a 2023, a Alpargatas queimou caixa na ordem de R$ 1,2 bilhão. Ali começou uma mudança de rota da empresa, mas que não foi suficiente para gerar resultados em 2024, quando o prejuízo foi de R$ 1,6 bilhão.
Foram os tais “períodos difíceis” relatados por Miranda. “A primeira coisa que fizemos foi uma revisão da nossa estratégia de investimentos. Organizamos a casa, revisamos os custos, a alocação de capital, o nível de endividamento e a geração de caixa”, disse o CEO.
Depois de focar na saúde financeira em 2023, o ano passado foi dedicado à melhoria operacional. “Tínhamos grande dificuldade de abastecer o mercado na época certa, nas quantidades certas. Estávamos ainda com estoque para ser liquidado”, frisou o executivo.
Esse desafio ocorre até hoje, com 300 mil pontos de venda e 600 lojas franqueadas espalhadas pelo Brasil e, principalmente, 15 países em que a empresa foca seus esforços e que, juntos, são responsáveis por mais de 95% do faturamento.
Uma das vias de crescimento para a “retomada” tem sido o canal de alimentos, ou seja, supermercados. Nesse setor, o market share está na casa de 77%. “Estamos crescendo 20%, em média”, afirmou o CEO.
Para dar conta do recado, a quantidade de SKUs foi cortada pela metade no portfólio. “Agora conseguimos voltar a lançar inovações. Neste ano, a mira está voltada à execução comercial e à competitividade”, disse Miranda.
Entre as novidades, há produtos para o público masculino, com tira e sola mais grossas — um item que tem se destacado pela marca Linus, da empresária Isabela Chusid. “Não tínhamos produtos competitivos nesse segmento”, disse Miranda, ao ressaltar que as collabs e licenciamentos, tradição da Havaianas, continuam fortes.
Com essas ações, a expectativa é de que o segundo semestre seja ainda mais forte que o primeiro, em que a Alpargatas registrou receita de R$ 2,2 bilhões, 12% superior ao mesmo período do ano passado.
Com Dia dos Pais, Black Friday e Natal, as vendas já seriam naturalmente mais promissoras. Assim, o faturamento de R$ 4,06 bilhões de 2024 deve ser superado em mais de 15%, segundo analistas do mercado.
Vendas internacionais
Nessa fase de “retomada”, a Alpargatas muda a estratégia nos Estados Unidos. A distribuição, que era direta, agora é feita por um parceiro local: a Eastman Group, que vai operar com a marca Havaianas de maneira exclusiva no país.
Liel Miranda considera os EUA um mercado-chave, mas que apresentava um problema de custo muito grande. “Vínhamos tentando há muitos anos penetrar no mercado americano, mas perdendo dinheiro. Este ano assinamos um acordo comercial com um distribuidor que tem mais de 80 anos de história nos Estados Unidos.”
Na avaliação do CEO, haverá dois efeitos práticos: o primeiro, a diminuição do custo de logística; e o mais importante, de acordo com Miranda, é que o parceiro vai conectar a Alpargatas a canais que a companhia brasileira não tinha acesso. “Esperamos virar a página nos Estados Unidos, com mais volume, e passar a ser uma operação muito rentável”, disse o executivo, sobre o país em que foram vendidos 800 mil pares no segundo trimestre.
A relação conturbada entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pode atrapalhar? “Acreditamos que não, porque nossa marca é forte e tem uma demanda já construída ao longo dos anos”, frisou Miranda.
Europa e Ásia são outras duas regiões em que o holofote da Alpargatas está apontado. “Especialmente no Sul da Ásia, com Austrália, Filipinas, Indonésia e Tailândia, caímos em volume, mas em um efeito esperado, pois continuamos limpando os inventários construídos no passado. A demanda tem crescido e a curva é de crescimento. É uma questão de tempo”, explicou. Mais um fator para contribuir com a desejada bonança após a tempestade.