Nova Indústria Brasil: inovação, digitalização e o futuro da competitividade industrial

O Brasil, pressionado pela escalada de tarifas por parte dos EUA, precisa responder com firmeza, inteligência e foco. O mundo está em transição, e a indústria nacional não pode ser espectadora

Antonio Toledo*
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Imagens: Divulgação

Antonio Toledo: "As guerras tarifárias e a fragmentação das cadeias de suprimentos estão redesenhando o tabuleiro global"

Antonio Toledo: "As guerras tarifárias e a fragmentação das cadeias de suprimentos estão redesenhando o tabuleiro global"

A indústria brasileira está diante de um ponto de inflexão. A iniciativa Nova Indústria Brasil (NIB), lançada em 2024, representa não apenas um pacote de estímulos (com R$ 3,4 trilhões mobilizados até aqui), mas uma tentativa concreta de reposicionar o país no cenário industrial global. O desafio, no entanto, não está no volume de recursos. Está na capacidade de transformar intenção em execução e criar um modelo de desenvolvimento sustentado por inovação, digitalização e visão estratégica de longo prazo.

Estamos vivendo um ambiente geopolítico volátil. As guerras tarifárias, os conflitos no Oriente Médio e na Europa, a fragmentação das cadeias de suprimentos e o avanço de políticas protecionistas estão redesenhando o tabuleiro global. O Brasil, pressionado pela recente escalada de tarifas por parte dos Estados Unidos, precisa responder com firmeza, inteligência e foco. O mundo está em transição, e a indústria nacional não pode ser espectadora.

Incentivo sem execução é só intenção. O Brasil precisa ir além do investimento público e construir uma cultura industrial que valorize o preparo, a consistência e a disciplina estratégica. O sucesso da NIB dependerá menos da política e mais da postura das lideranças. CEOs, gestores e tomadores de decisão precisam compreender que o tempo da complacência acabou. Inovar e digitalizar não são mais escolhas; são condições de sobrevivência.

A NIB marca o início de um novo ciclo de neoindustrialização, desta vez com foco em missões estratégicas de longo prazo: transição energética, bioeconomia, reindustrialização limpa e digitalização. Em 2024, a indústria nacional cresceu 3,1%, e a de transformação, 3,7%, superando a média global. Não se trata apenas de retomada. Trata-se de reposicionamento. E a janela de oportunidade está aberta, mas não estará para sempre.

A Missão 4 da NIB propõe digitalizar 25% da indústria até 2026 e 50% até 2033. É um salto necessário. Setores como mineração, logística, papel e celulose e energia já comprovam os ganhos da digitalização: produtividade, redução de custos e maior previsibilidade de operação.

Ferramentas como inteligência artificial, automação, IoT e análise avançada de dados deixaram de ser tendências para se tornarem fundamentos da competitividade moderna. Em um mundo onde a velocidade de adaptação define os líderes, inovar não é mais uma opção. É o único caminho viável.

Sim, os desafios são estruturais: excesso de burocracia, descontinuidade política, gargalos de infraestrutura tecnológica e insegurança jurídica. Mas o Brasil já começa a mostrar que tem ativos estratégicos. As exportações da indústria de alta tecnologia cresceram 11,5% em 2024, somando US$ 189 bilhões. O setor de média-alta intensidade cresceu 6,9%, e investimentos estrangeiros da ordem de US$ 1,77 bilhão demonstram que o mundo está olhando para cá. Com interesse.

Por outro lado, os riscos são reais. As negociações tarifárias com os EUA ameaçam cadeias produtivas inteiras, com projeções de queda no PIB e perda de mais de 100 mil empregos. Por isso, fortalecer a indústria nacional com base em inovação, produtividade e resiliência é uma questão de soberania econômica.

Nenhuma política pública terá impacto se as lideranças empresariais não assumirem seu papel com clareza e coragem. É hora de menos discurso e mais execução. Inovação precisa estar integrada à estratégia de longo prazo, à cultura da empresa e ao dia a dia das operações.

Isso exige investimento em P&D, qualificação contínua, conexão com centros de pesquisa, parcerias com startups e construção de ecossistemas colaborativos. Exige CEOs que saibam que não se trata apenas de adotar tecnologia, mas de transformar mentalidades.

Como costumo dizer: não tem problema errar, tem problema errar e não aprender. O futuro da indústria será construído por aqueles que estão dispostos a expandir a mente, desafiar o status quo e liderar com propósito.

A Nova Indústria Brasil é uma oportunidade real, mas não garantida. Seu impacto dependerá da nossa capacidade de manter o ritmo, consolidar uma visão de país, e formar lideranças que unam ambição com responsabilidade.

O momento exige preparo, intensidade e direção. O Brasil tem talento, criatividade e energia. Mas não existe empresa forte em ecossistema fraco. É preciso fortalecer o ecossistema — com disciplina, colaboração e visão compartilhada.

O tempo é agora. E agora já foi ontem.

*Antonio Toledo é CEO da Timenow

 

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