Em 2025, o primeiro fundo de Search Funds criado no Brasil completa dez anos. Feito pela a Taqia Capital, que comprou a empresa de logística IS Entrega, localizada em São Paulo, é considerada a pioneira nacional neste modelo de negócios que nada mais é do que empreender por meio de aquisição, permitindo que potenciais empreendedores, chamados searchers, captem recursos com investidores com o objetivo de adquirir uma empresa média já consolidada.
Esta estratégia tem origem acadêmica ao ser estudada e fomentada nas universidades de Stanford e Harvard, ambas nos EUA, na década de 1980. Já nos primeiros anos do século XXI, as universidades europeias conheceram o conceito e foi justamente isso que fez com que Patrick Wladimirski fosse se aprofundar no tema em Barcelona.
Com uma carreira consolidada na área de finanças, incluindo passagens como diretor da Stone e sócio da Caju Benefícios, empresa que ele ajudou a construir do zero, se mudou para a Espanha em 2023 para cursar MBA no IESE Business School. Aprimorado no tema, em março de 2025 criou a Mamba Capital, um fundo de investimento que busca empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 200 milhões para operar via Search Funds e transformá-las em negócios mais eficientes. De acordo com Patrick, este método é dividido em cinco fases:
“O primeiro passo é levantar o capital para, em seguida, encontrar empresas de médio porte com boas avenidas de crescimento, o que pode levar cerca de dois anos. É feita então a aquisição, gestão e, por fim, a venda da companhia. É um modelo de negócios muito bom que gera caixa e acaba unindo diversas pontas, já que o empreendedor encontra empresas com times estruturados e isso permite que seus legados se mantenham. Por serem empresas de médio porte, muitas vezes o Private Equity se torna inviável, por isso que o Search Funds pode ser uma boa opção”.
Por ser um conceito nascido nos EUA, é este o país que lidera o número de Search Funds levantados no mundo. Porém, a Espanha se tornou o principal hub fora dos EUA: já são 100 empresas que utilizaram esse modelo no país, enquanto o Brasil ocupa a quarta posição, com 40 empresas, entre elas 220 Capital, Kinase e Paraty Capital. Patrick Wladimirski explica:
“O Brasil tem um número bom, mas estamos abaixo da Espanha que tem um mercado menor que o nosso. Nos últimos cinco anos os Search Funds brasileiros deram um salto e isso mostra que temos um potencial de crescimento muito grande, mas ainda é um modelo de negócios desconhecido por muita gente”.
O destaque da Espanha não é à toa já que, fora dos EUA, o país possui algumas das principais instituições fomentadoras de Search Funds no mundo. Elas atraem executivos de vários países que vão se aprofundar no tema e regressam aos seus países para implementar o modelo nos mercados locais, como Patrick fez.
Da mesma maneira que ele, Rene Almeida se especializou em Search Funds no IE Business School, em Madrid. Na volta ao Brasil, comandou um dos principais cases de sucesso de Search Funds no Brasil: após mapear cerca de 400 empresas para compra, em 2019 adquiriu a Agasus e, junto com outras aquisições, como a Microcity e Suprisul, a transformou na Voke, empresa de TI. Com sede em São Paulo, já viu seu faturamento sair de pouco mais de R$ 30 milhões em 2018 para R$ 559,6 milhões atualmente. Desde a aquisição, já abriu operações em Fortaleza e Belo Horizonte e hoje conta com mais de 3500 clientes. Ele explica:
“A ideia de Search Funds ainda é desconhecida por muitos no Brasil, mas está em um ótimo momento. Nós que atuamos com isso temos o dever de espalhar esse conceito para que os novos investidores entendam que é possível empreender sem necessariamente abrir uma startup”.
O Sudeste ainda tem as principais oportunidades de negócios via Search Funds no Brasil, mas a região Sul vem se destacando também. O modelo implementado no Brasil tem ainda algumas peculiaridades, como por exemplo a forma de aquisição. Em outros países, isso é feito geralmente por meio da compra das dívidas da empresa que são pagas conforme ela vai gerando caixa, mas como a taxa Selic está em um patamar alto, os investidores optam por fazer “cheques” mais altos para concluir as aquisições no Brasil.
Apesar disso, Patrick afirma: “Se a taxa de juros tivesse em um dígito seria melhor, mas, por ser um investimento de longo prazo, quem está interessado em Search Funds está mais preocupado sobre os ciclos econômicos que o Brasil terá daqui a dez anos do que necessariamente nas flutuações atuais da Selic”.
Apesar da imprevisibilidade da economia local, Rene Almeida também compartilha do mesmo otimismo que Patrick sobre o bom momento do Search Funds no Brasil: “Existem muitas empresas que o dono não tem um plano de sucessão familiar e quando chega em determinada idade ele quer aproveitar um pouco mais a vida. É quando se interessa por vender a empresa mantendo a essência dela e, neste momento, o modelo de Search Funds se mostra como uma boa alternativa”.