Geraldo Alckmin: “O ano será marcado pela queda no preço de alimentos e energia”

Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, o vice-presidente e ministro do MDIC fala do papel do governo na comunicação com a população e o compromisso com o arcabouço fiscal e o equilíbrio das contas públicas

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Imagens: Claudio Gatti

Vice-presidente diz não haver tensão com os Estados Unidos sob comando de Trump e que não prevê novas tarifas

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De um lado, a alta dos alimentos, Selic em trajetória ascendente e popularidade do governo em queda. De outro, uma economia aquecida, desemprego em baixa e indústria em aceleração. Administrar esse aparente contraste econômico tem sido uma das missões de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, Alckmin fez um diagnóstico da economia brasileira, reconheceu a necessidade de melhorar a comunicação entre o governo e a sociedade e traçou um cenário positivo para o país neste ano. Confira, a seguir.

BRAZIL ECONOMY – Qual balanço o sr. faz dos dois primeiros anos de governo Lula 3 e como definir o atual momento da indústria brasileira?
GERALDO ALCKMIN – O balanço da indústria brasileira é extremamente positivo. Tivemos no ano passado um crescimento da indústria, em geral, de 3,1%. E da indústria de transformação, 3,7%, que puxou o crescimento do PIB brasileiro. O período de 2023 e de 2024 foi de crescimento extremamente forte para a indústria. Se olharmos a indústria automotiva, por exemplo, cresceu mais de 10%. A indústria de eletrodomésticos, como geladeira, fogão, máquina de lavar, alcançou quase 20% de crescimento. A indústria de máquinas e equipamentos, que é super importante, ultrapassou 8% de crescimento. Então, temos visto um bom ritmo de expansão.

O que causou isso?
Uma combinação de vários fatores. Lançamos a Nova Indústria Brasil, com foco numa indústria mais inovadora. Então, o governo destinou recursos importantes para pesquisa, desenvolvimento e inovação, com juros praticamente zero. Para a indústria ser competitiva, os investimentos precisam ser constantes. Hoje há uma depreciação acelerada. Antes máquinas e equipamentos demoravam 15 anos para depreciar. Hoje ocorre em 2 anos, como é o caso da mobilidade verde na indústria automotiva, por exemplo. Por isso, já foram anunciados mais de R$ 130 bilhões em investimento privado pelas montadoras.

E os outros setores?
Tivemos várias iniciativas. Fizemos o reajuste do regime especial da indústria química, reduzindo impostos para os insumos do segmento. A resposta foi muito boa. Nós tivemos praticamente R$ 2,2 trilhões anunciados de investimentos no Brasil, incluindo indústria automotiva, siderúrgica, celulose, construção civil e complexo industrial da saúde. Enfim, todos os setores.

Quais setores têm sido priorizados?
Não priorizamos setores, mas temos seis missões principais: agroindústria, saúde, cidades – que inclui mobilidade, habitação e saneamento -, transição digital, transição ecológica e defesa. A missão seis, a da defesa, vamos apresentar na semana que vem, em São Paulo.

Além desses incentivos lançados pelo governo, quais fatores macroeconômicos têm influenciado o desempenho da indústria? O dólar mais valorizado frente ao real e a alta da Selic impactaram?
O câmbio, no ano passado, não teve grande efeito. O que ajudou foi o ganho de renda da população. O desemprego diminuiu, o salário subiu, a massa salarial aumentou. As pessoas trocaram geladeira, fogão, televisão. No caso dos veículos, a mobilidade verde fez diferença nesses investimentos, com a disparada das vendas de carros elétricos e híbridos. Sem falar do marco de garantias, que trouxe mais segurança ao ambiente de negócios e ao sistema financeiro. O marco de garantias facilitou a oferta de crédito e reduziu o spread bancário. Antes, 70% das vendas eram à vista e 30% a crédito. Agora está 50% a 50%. Aumentou o crédito, aumentaram as vendas. Nós vendemos 14,1% a mais de veículos, um recorde mundial.  Houve aumento importante das importações, especialmente de veículos elétricos, junto com o aumento dos investimentos em fábricas no Brasil.

Geraldo Alckmin e Fundador e chairman da GWM, Jack Wey
Alckmin e o fundador da GWM, Jack Wey, durante acordo para carros elétricos firmado em Pequim no ano passado

Se a conjuntura econômica está boa, como o sr. apresenta, por que a popularidade do governo Lula só cai e a percepção de boa parte dos brasileiros é a de que a economia está piorando?
Existe uma desconexão entre a realidade dos fatos e a percepção de uma fatia da população. Se formos verificar, os indicadores melhoraram. O salário mínimo teve crescimento real, a massa salarial cresceu, o emprego aumentou, o risco país caiu. Houve avanços na educação, na saúde, na infraestrutura, no meio ambiente e defesa da democracia. Mas, de fato, o governo precisa melhorar a comunicação, principalmente nas redes sociais. Sem abrir mão dos canais tradicionais, como tevê, rádio e jornais, tem que falar mais com o povo via internet, com Instagram, YouTube e TikTok. A comunicação pode sempre melhorar.

Mas usar mais as redes sociais não vai resolver a insatisfação das pessoas com os preços nos supermercados…
Não, mas vai ajudar a explicar porque alguns alimentos estão mais caros e que não é culpa do governo. No ano passado, tivemos problemas climáticos graves. A produção agrícola caiu. Com isso, itens como café e carne tiveram alta. É uma situação temporária. Para este ano, a produção de alimentos deverá ser recorde, com ajuda do clima. As chuvas voltaram e os efeitos climáticos são favoráveis ao agro. Então, o ano de 2025 será marcado pela queda nos preços dos alimentos e na energia, a famosa conta de luz. Os reservatórios das hidrelétricas estão cheios. Com isso, teremos boas notícias para os consumidores que sofrem com a alta dos preços.

Geraldo Alckmin
Vice-presidente diz que produção agrícola será mais forte neste ano com ajuda do clima

A conjuntura internacional, com persistência de guerras e com um governo americano mais protecionista, não deve contaminar a economia brasileira?
O cenário internacional é preocupante. Há duas guerras, conflitos geopolíticos, aumento do protecionismo pós-Covid. Mas o PIB do Brasil cresceu 3,5% no ano passado, e a indústria de transformação cresceu 3,7%, o dobro da média mundial. O Brasil voltou a ser a oitava maior produtora de veículos do mundo. Mesmo com os desafios globais, estamos indo muito bem.

O governo teme algum tipo de atrito comercial com os Estados Unidos? Há risco de taxações ou barreiras comerciais?
Não trabalhamos com essa hipótese. Ao contrário, queremos ter mais comércio com os Estados Unidos. Hoje nossa balança comercial é equilibrada com os americanos. Em valores, importamos quase o mesmo que exportamos. Queremos melhorar a relação e aumentar a complementariedade econômica, tanto com os Estados Unidos quanto com a China e todos os países do mundo. Não temos litígio com ninguém. Enquanto a China é o nosso maior parceiro comercial, os americanos são os maiores investidores no Brasil.

E a competitividade da indústria brasileira? Esse problema crônico já foi equacionado?
Estamos trabalhando nisso. A reforma tributária é histórica e vai simplificar o sistema, desonerar investimentos e exportações. Também estamos avançando na desburocratização, como o portal único para exportação e importação, que deve reduzir o custo Brasil em R$ 40 bilhões por ano.

O que se pode esperar dos próximos dois anos do governo Lula? Como esse governo vai ser lembrado?
Salvamos a democracia e demos um salto na economia. Essa foi a primeira conquista. Depois, avançamos na eficiência econômica, com a reforma tributária e a retomada da indústria. A Embraer, por exemplo, está batendo recordes. Também houve ganhos sociais, com aumento da renda e a redução do desemprego. E vamos avançar em áreas como educação, saúde e sustentabilidade. O Brasil é protagonista em segurança alimentar, energética e climática. Por tudo isso seremos lembrados.

E o rombo crescente nas contas públicas?
Vamos fazer o que for necessário para buscar o déficit zero e proteger o arcabouço fiscal. Qualquer sacrifício que tivermos que fazer para reequilibrar as contas públicas, vamos fazer. Isso é prioridade. Assim, a queda dos juros e do dólar vai ajudar o crescimento econômico e na vida das famílias.

Geraldo Alckmin e Fernando Haddad
Alckmin se diz alinhado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para sanar as contas públicas

O governo está ciente de que, se falhar, o risco de perder em 2026 é grande?
Não podemos. Vou dar um exemplo. Como médico, vejo a saúde como fundamental. Durante a Covid, o negacionismo custou caro. Perdemos muitas vidas. O Brasil representa 3% da população mundial, mas teve 10,5% das mortes por Covid no mundo. Uma tragédia sem precedentes alimentada pelo negacionismo do governo anterior. Agora, estamos focando em prevenção e vacinação, que são conquistas extraordinárias da humanidade.

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