José Pedro Fernandes, vice-presidente global da Sisqual, empresa portuguesa de soluções de gestão da força de trabalho (Workforce Management), tem uma teoria sobre as companhias que saem de Portugal em busca de sucesso no Brasil. Para o executivo, as ilusões resultam em duas conclusões. A primeira: quando chegam aqui, as empresas falam a mesma língua, mas não falam a mesma linguagem. A segunda: acreditam que vão crescer rapidamente pelo tamanho do mercado e acabam fazendo uma má gestão do próprio negócio — apenas em população, o Brasil, com seus 215 milhões de habitantes, é quase 20 vezes maior do que Portugal, com 11 milhões de pessoas.
A Sisqual não cometeu esses erros. Por isso, nos primeiros cinco anos de operação no País — onde está há 14 anos — apenas “investiu sem ganhar”. O projeto era de longo prazo. Hoje, é a maior operação do mundo entre os 24 mercados em que a companhia atua. E, para não se iludir, segue com seus investimentos e aperfeiçoa sua solução, cuja atualização será lançada no início de 2026. A expectativa é voltar a crescer dois dígitos após um 2025 em que o avanço nos negócios deve ficar abaixo de 10%, interrompendo uma sequência de anos com performance acima desse percentual.
“Estamos numa fase de grande mudança da plataforma. Teremos layouts diferentes, mais modernos. E passamos a dar uma importância cada vez maior à usabilidade, a ser um software intuitivo, fácil de usar”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY Fernandes, que passa quatro meses do ano no Brasil e também cuida da operação da Sisqual na Espanha.
A nova ferramenta começa a ser oferecida inicialmente aos clientes da base. “Vamos fazer o upgrade”, disse o executivo. Entre os clientes no Brasil estão especialmente empresas de varejo e de saúde — que representam 90% da carteira — como o Supermercados Confiança e a Hapvida, com 365 clínicas, 80 hospitais, 86 pronto-atendimentos e 73 mil colaboradores.
No mundo, são mais de 10 mil clientes, com as operações brasileira, espanhola, britânica e polonesa entre as principais.
Previsão de atividades
A Sisqual fornece um software que vai “muito além” da gestão do ponto dos funcionários. “Somos uma one stop shop”, definiu Fernandes. A solução da companhia permite previsão de atividades, geração automática de escalas e tarefas, ferramentas para auxiliar durante a operação, tratamento de férias, faltas e horas extras, além de sugerir substituições de profissionais adequados para cada função que estiver desguarnecida no período.
O software aponta, por exemplo, a quantidade ideal de funcionários nos caixas de um supermercado. A vantagem? “Menos filas, mais vendas. As filas espantam os consumidores”, disse o vice-presidente.
Se no varejo o foco está no consumidor, em um hospital está no paciente. A quantidade correta de profissionais gera segurança. “Em uma mudança de turno, conseguimos fazer a classificação dos pacientes de forma automática e indicar para o próximo turno quais são as necessidades da enfermaria, as necessidades de assistentes operacionais, a taxa de ocupação de leitos e a criticidade das enfermidades presentes naquela transição de equipes”, descreveu o executivo.
Sem concorrência
“Na saúde não temos muita concorrência. Nossa disputa é mais com startups. Mas não temos nenhum player, nem mesmo internacional, que faça a operação de workforce management do começo ao fim. Existem empresas que fazem partes dessas tarefas, mas não a operação total”, afirmou Fernandes.
A ferramenta de forecast da Sisqual é capaz de fazer a previsão de demanda de clientes — sejam consumidores ou pacientes — e indicar as tarefas necessárias para que um setor desempenhe melhor.
“Quando dimensionamos as equipes, nossa ferramenta tem um conjunto de motores que permite gerar escalas automaticamente. E não só geramos as escalas, como também as tarefas associadas a elas. Quando a operação começa, também temos na nossa suíte um modo para acompanhar o que aconteceu, quais são os gaps”, explicou o vice-presidente.
“Tudo com cálculos de algoritmos inteligentes. Uma ciência preditiva”, disse Fernandes, destacando que as ferramentas da companhia fazem integração bidirecional com outros sistemas, como os de pagamento de salários, satélites de meteorologia — para prever chuvas, o que interfere na dinâmica de lojas em shoppings — e outros plug-ins de Business Intelligence.
Assim, a Sisqual não corre o risco de cair nas ilusões da teoria de José Pedro Fernandes. Pelo contrário: por aqui, a companhia cresce e ainda garante investimentos em outras operações, como a do México.
