Sete principais tendências da economia brasileira para ficar de olho em 2026

O que esperar do ano que começa? O BRAZIL ECONOMY conversou com especialistas e fez um resumo dos mais prováveis movimentos econômicos para os próximos 12 meses

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Lula e Haddad: desafio de comandar economia em ano eleitoral na corda bamba entre gastar e cortar

Lula e Haddad: desafio de comandar economia em ano eleitoral na corda bamba entre gastar e cortar

A principal pergunta do momento é: o que será da economia brasileira em 2026? Para entender este ano que será um dos mais politizados na economia das últimas décadas, conversamos com diversos especialistas e selecionamos as principais tendências apontadas por eles para o próximo ano. Confira:

1. PIB deve desacelerar

PIB | Brazil Economy

De acordo com o Banco Central (BC), o PIB brasileiro deve crescer 1,6% em 2026, 0,1% a mais do que o previsto originalmente. Se confirmado, será o menor crescimento desde 2020, quando houve uma retração de 3,3% por conta da pandemia de Covid-19.

“Não estamos entrando em um período de turbulência, nós já estamos nela. A grande diferença é que agora a turbulência deixou de ser temporária e passou a ser estrutural”, afirmou Júlio Damião, CEO da W3 Investimentos.

Isto se dá, entre outros fatores, por causa da expectativa de manutenção da política monetária pautada por juros altos, perspectiva de desaceleração da economia global e um momento pior para o agronegócio se comparado com 2025. Para “coroar” o cenário, as eleições presidenciais devem mexer no ânimo de investidores e gerar incertezas.

“A economia brasileira começa 2026 com uma toada de desaceleração ordenada porque ela vem de uma maneira controlada e com o mercado de trabalho muito aquecido. Isso é bom, já que o ano que vem ele deve continuar um pouco abaixo da média histórica, mas em um patamar satisfatório”, disse Marcela Kawati, economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos.

“Todo este cenário pode levar ao adiamento de projetos, com os empresários segurando um pouco a respiração para ver o que vai acontecer antes de tocar investimentos. O resultado é que a desaceleração pode ser mais forte do que estamos esperando, com maior volatilidade”, emendou Kawati.

2. Câmbio deve se manter estável

dolar | Brazil Economy

Após um 2025 marcado por uma forte desvalorização do dólar no mundo, que levou a redução da moeda norte-americana em 11,18% frente ao real, os analistas acreditam que deve haver uma estabilidade cambial em 2026. Tudo, porém, depende mais uma vez do “humor” de Donald Trump ao conduzir a economia dos EUA e o impacto das eleições brasileiras.

“Me parece que ainda há muita margem para que o dólar se enfraqueça frente ao real, mas com esse cenário turbulento de eleição, não parece que o real vá se fortalecer mais do que vimos neste último ano. Acredito que ele vai ficar em torno de R$ 5,50, como está nos últimos dias de 2025”, afirmou Gustavo Pessoa, doutorando em finanças pela FGV e diretor da Taleb Capital Hedge Fund.

3. Segue a briga entre BC e Governo Federal

Galipolo | Brazil Economy

Atualmente, a taxa Selic está em 15% ao ano, o maior nível em quase 20 anos. A expectativa é de que os juros comecem a recuar em março de 2026. Isso deve pautar mais discussões públicas entre o BC e o presidente Lula ou o ministro da Fazenda Fernando Haddad, algo costumeiro desde o início do governo, em 2023.

De acordo com o chefe de análise macroeconômica da Polyface Invest, Mario Goulart, a chegada de Gabriel Galípolo à presidência do BC foi uma surpresa desde o início.

“Esperava-se que ele assumisse dentro do seu viés histórico, em uma escola mais heterodoxa na linha de Luiz Gonzaga Beluzzo e Maria da Conceição Tavares. Porém, ele se mostrou um conservador que usou e abusou da prudência elevando mais a Selic. Não se curvou às pressões políticas e o presidente Lula deu uma espécie de crédito de confiança.”

Por outro lado, o mercado de trabalho pode sentir efeitos indesejados por causa dessa briga. De acordo com Ricardo Hammoud, doutor em economia e professor do IBMEC, as vagas de emprego estão bastante aquecidas e a taxa de juros alta ainda não deu o efeito desejado pelo BC.

“A gente pode esperar um leve aumento do desemprego, já que o mercado de trabalho está bastante aquecido. Agora que deve sentir o efeito das taxas de juros, ele deve desaquecer”, afirmou.

4. Dúvidas sobre a política fiscal em ano de eleições

eleicoes | Brazil Economy

A tendência é que 2026 seja parecido com os últimos anos eleitorais, marcados por notícias falsas que mexem nos ânimos do mercado e aumentam a volatilidade.

“Os dados do setor fiscal têm mostrado desaceleração da receita justamente por conta da atividade econômica mais fraca, ao mesmo tempo que os gastos do governo não são reduzidos. Então isso leva ao descasamento que causa um déficit primário importante e acaba levando a uma incerteza sobre o comportamento da dívida pública. Inclusive, pode ser um limitador ao ciclo de cortes de juros”, afirmou Marcela Kawati.

O pensamento é parecido com o de Mario Goulart: “Lula tem a tradição, tanto nos governos dele quanto no da Dilma, de colocar grana na população para garantir a reeleição. Veremos agressões ao arcabouço fiscal e mais tentativas de recompor com a cobrança de impostos, o que foi a tônica desse governo”.

Outros especialistas discordam deste tom “negativo” sobre a política fiscal como Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda do governo Temer e ex-presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos de Lula. “Historicamente os gastos aumentam em ano de eleição e acredito que o governo terá cuidado com a política fiscal. Afinal, se descuidar, a inflação aumenta e é ruim para o próprio presidente”, disse.

Um outro ponto que ajudará (ou não) o governo Lula na reeleição será o impacto da Reforma Tributária que passa a valer em forma de teste em 2026. Será o ano onde empresas e cidadãos sentirão como a simplificação de impostos impactará no dia a dia.

“Em 2025 tivemos as preparações para a reforma na parte de tecnologia e agora em 2026 será colocado em teste. É quando os contribuintes sentirão na prática os desafios operacionais, quais regimes terão códigos específicos, o comportamento de fornecedores e clientes etc.”, alertou Felipe Wagner, sócio do Marcos Martins Advogados e especialista do Instituto Brasileiro de Direito Tributário.

5. Impactos da economia americana no Brasil

EUA | Brazil Economy

O grande fator determinante nas relações entre Brasil e EUA em 2025 foi sem dúvida o tarifaço imposto em julho, embora o recuo feito por Trump já tenha diminuído seu impacto na economia brasileira.

Para 2026, a tônica neste relacionamento se dará de duas maneiras: pela troca do presidente do Federal Reserve (Fed) e uma possível interferência nas eleições presidenciais do Brasil.

Jerome Powell termina sua gestão no Fed em maio e a expectativa é de que Trump anuncie um sucessor já no início de 2026. A relação de ambos foi parecida com o que ocorre no Brasil, com Trump pressionando o banco para reduzir os juros. Com uma possível redução da taxa lá, a renda fixa norte-americana fica menos atrativa e isso empurra investidores para países emergentes, como o Brasil.

“A popularidade do Trump está um pouco abalada por conta da inflação e o Powell será substituído em maio. Isso fará com que ele coloque alguém com uma visão mais pró-cortes de juros. O problema é que isso tem um peso inflacionário que não pode ser ignorado”, disse Mario Goulart.

Já para Gustavo Pessoa, a possível interferência dos EUA nas eleições no Brasil, em favor de algum candidato específico, também deve impactar a economia nacional. “A interferência norte-americana nas eleições da América Latina, que parece ter voltado rotineiramente nos últimos anos, tem o poder de trazer choques e flutuações econômicas. É algo que não víamos há muito tempo”.

6. Efeitos do “caso Master” no sistema financeiro

Banco Master | Brazil Economy

A liquidação extrajudicial do Banco Master pelo Banco Central, em meio a uma fraude de R$ 12 bilhões, onde a instituição criou carteiras de crédito e fundos falsos e sem lastro, estremeceu o mercado financeiro brasileiro em 2025. Até porque, o BC costuma apelar para regimes de administração especial ou tentativas de reestruturação antes de determinar uma liquidação.

A decisão ainda dará muito o que falar em 2026, já que mexe com a estabilidade e credibilidade do sistema financeiro brasileiro, inclusive colocando em cheque o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), fundado em 1995. Ele trouxe maior segurança ao mercado financeiro garantindo que o Estado e o sistema como um todo garantiria a credibilidade financeira do Brasil, como explica o professor Gustavo Pessoa:

“O problema com o Banco Master não tem apenas a ver com quem vai pagar a conta, mas é uma questão de risco moral, já que os grandes bancos contribuem com grande parte do FGC para salvar as instituições, mas eles são os que menos se utilizam desse recurso diretamente. Os grandes estão pagando pelos erros dos pequenos.”

Para o especialista, o caso do Master traz memórias pré-Plano Real onde instituições eram liquidadas e compromissos não eram pagos.
“Acredito que todo mundo no mercado financeiro esteja apreensivo para saber os próximos passos, mas o problema central é a credibilidade que levamos tanto tempo para construir a partir do Plano Real e que pode desfalecer em poucos meses”, disse Pessoa.

7. O crédito ficará maior e melhor para as famílias e empresas (mas nem tanto!)

familia | Brazil Economy

Enquanto representantes do BC defendem juros altos para desacelerar o nível de atividade econômica e reduzir a inflação, para trazê-la de volta ao centro da meta, o governo federal pede a redução da Selic para incentivar a indústria e garantir maiores índices de emprego em um ano eleitoral. Quem tem a comemorar é o mercado de crédito, como explicou André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi.

“O mercado de crédito bancário passou por um intenso movimento de reprecificação após a rápida elevação da taxa Selic. Além disso, mudanças regulatórias desafiaram as instituições em um cenário marcado por maior endividamento das famílias e crescimento da inadimplência. Para 2026, embora ainda haja incertezas no campo econômico, o início do ciclo de corte de juros tende a tornar as perspectivas mais positivas”.

Porém, Mario Goulart destaca o cuidado para observar essa diminuição dos juros para as famílias, já que ele é naturalmente muito mais caro que a Selic diante dos spreads bancários. “Talvez melhore para as famílias caso haja um relaxamento da Selic, mas ainda assim segue pesado. O que você pode ter é uma medida populista do governo como Minha Casa, Minha Vida, ou programa para comprar eletrodomésticos, mas ainda é um crédito apertado”, disse.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.