Com avanço da IA, empresas buscam candidatos com soft skills em 2026

Especialistas afirmam que as empresas devem exigir maiores habilidades emocionais e capacidade para liderar processos de transformação digital

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Imagens: Divulgação

Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half no Brasil: pacote de benefícios devem seguir atrativos

Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half no Brasil: pacote de benefícios devem seguir atrativos

Queda iminente nos juros, redução do PIB, ano eleitoral… O ano que vem promete grandes emoções para a economia e a política brasileira. Mas, como o mercado de trabalho deve reagir a isso?

Especialistas ouvidos pelo BRAZIL ECONOMY apontam que a principal tendência passa por uma seletividade cada vez mais rigorosa na hora de contratar.

“O mercado de trabalho em 2026 deve se manter relativamente saudável, ainda que mais seletivo. O que vemos, de forma bastante consistente, é um movimento de mais contratações do que desligamentos. Isso indica um bom nível de empregabilidade no Brasil, mesmo diante de fatores externos relevantes como cenário político, ciclo econômico mais restritivo e eventos que tendem a gerar volatilidade ao longo do ano” disse Felipe Azevedo, CEO da LG lugar de gente, uma das maiores HR tech do Brasil. “O mercado não está em expansão acelerada, mas segue funcional, resiliente, com reposições e crescimento orgânico acontecendo.”

A opinião de Azevedo sobre a importância da seletividade no mercado também é compartilhada por Lucas Oggiam, diretor-executivo da recrutadora Michael Page no Brasil.

“Podemos dizer que o mercado seguirá aquecido para os profissionais certos. Todas as indústrias passam por momentos de transformação e possuem ganhadores e perdedores”, enfatizou. “. Os desafios para uma contratação de sucesso que vivemos nos últimos três anos devem permanecer em 2026 com competências intangíveis, que chamamos de soft-skills, e adequações culturais.”

Ele chama atenção para a necessidade de que os executivos brasileiros aprimorem justamente suas capacidade de lidar com os funcionários. “Muitos executivos ainda sentem dificuldades em se comunicar de forma eficiente em um mundo bem digitalizado e com gerações tão distintas no mercado de trabalho. Adicionado a isso, competências como soluções de problemas complexos e visão de médio e longo prazo são difíceis de serem avaliadas de forma completa em um processo seletivo”, disse Oggian.

Para as recrutadoras ouvidas pela reportagem, os principais movimentos de aquecimento virão da área de tecnologia, ainda com destaque para o conhecimento de inteligência artificial, indústria farmacêutica, manufaturas, varejo em geral, especialmente grandes redes, além de saúde, logística e distribuição, impulsionados por demanda recorrente e eficiência operacional.

Os especialistas ainda chamam a atenção para o papel da tecnologia, inclusive a IA, que por mais que acelere a tomada de decisões, não substitui a inteligência emocional, a visão sistêmica e o pensamento crítico. Se por um lado isso aumenta a produtividade, também reduz alguns postos de trabalho, leva a migração de funções e requalifica profissionais para atividades de maior valor agregado, o que impulsiona ainda mais esse movimento de maior seletividade.

“A Selic elevada modera o ritmo de crescimento, especialmente em setores mais sensíveis ao crédito e investimento, mas não paralisa o mercado de trabalho. O que vemos é um ambiente de contratações mais criteriosas, com maior foco em retorno, eficiência e impacto no negócio”, afirmou o CEO da LG lugar de gente.

Mercado quer executivos que liderem a transformação digital

De acordo com Fernando Mantovani, diretor geral da recrutadora Robert Half na América do Sul, as contratações serão pautadas pela necessidade de preparação para a próxima década. Ele também cita o rigor das empresas para selecionar os novos executivos.

“O panorama para 2026 é marcado por desafios de eficiência e complexidade regulatória, mas também por uma janela de oportunidades impulsionada pela digitalização. Entendo que para 2026, a seletividade será regra. As empresas buscarão líderes com capacidade comprovada de conduzir transformações, especialmente a digital, em um ambiente dinâmico”, disse o executivo.

Um estudo da Robert Half feito com profissionais C-level e investidores de private equity aponta que, até 2035, a convergência entre tecnologia e capital humano ditará o sucesso dos negócios. Isso significa que já em 2026 o mercado buscará executivos capazes de lidar com o que a pesquisa indica como os três principais desafios da alta liderança: a organização de infraestrutura de TI para competir com nativos digitais (prioridade para 41% dos líderes), a adoção de tecnologias que exigem novas habilidades (36%) e a capacidade de atrair e reter talentos (34%) em um cenário de escassez técnica.

Há ainda uma forte ascensão de posições ligadas à segurança cibernética, apontada por 84% dos executivos como o principal vetor de mudança na gestão até 2035, e áreas focadas em IA e análise avançada de dados. No setor de RH, o aquecimento será impulsionado pela necessidade estratégica de requalificação da força de trabalho e pelo planejamento de sucessão, ações de preparação citadas por quase metade (47%) das lideranças para enfrentar os desafios futuros.

“Profissionais que dominam a automação e utilizam a IA para orientar decisões estratégicas estarão em ampla vantagem. O executivo de 2026 precisa ser o arquiteto dessa transição, equilibrando a inovação tecnológica com a sensibilidade humana e a construção de resiliência organizacional”, disse Mantovani.

Menos aumentos salariais

Pesquisa da Michael Page, que ouviu quase mil empresas no Brasil, levanta um dado preocupante para quem deseja um tão sonhado acréscimo de salário no ano que vem: apenas 20% das companhias devem dar reajuste real, ou seja, acima da inflação, aos funcionários em 2026.

Entre os principais desafios que as companhias brasileiras devem enfrentar, ainda de acordo com a Michael Page, estão o caixa financeiro mais limitado e a falta de fluência em inglês dos trabalhadores locais, o que tira o País de um padrão de empregabilidade em escala global. Por outro lado, a política de benefícios deve continuar em alta como forma de compensar a dificuldade em aumentar salários.

“Embora a remuneração seja o principal gatilho para a mudança de emprego, as áreas que mais conseguem reter seus talentos são as que oferecem autonomia, propósito e cultura forte. Portanto, o mercado está aquecido para líderes que saibam gerir o descompasso atual entre as expectativas de incentivos de longo prazo, a exemplo dos stock options, e o que o mercado efetivamente oferece, transformando pacotes de benefícios em ferramentas reais de retenção e performance”, afirmou Mantovani.

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