Os data centers deixaram de ser apenas infraestruturas técnicas para se tornarem ativos centrais da economia digital e da transição energética. A expansão da inteligência artificial generativa, combinada à demanda crescente por armazenamento e processamento de dados, impõe uma transformação profunda no setor, que passa a conviver com novos desafios de densidade energética, eficiência operacional e sustentabilidade.
Segundo análises da MIT Technology Review Brasil, a próxima geração de data centers será definida por três forças principais: aumento exponencial da capacidade computacional, exigência crescente por eficiência energética e avanço de tecnologias que reduzem o impacto ambiental.
Em setembro deste ano, o presidente Lula anunciou a criação do Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter no Brasil (Redata) com objetivo de atrair empresas a investirem em computação em nuvem, inteligência artificial e internet das coisas. O governo reservou R$ 5,2 bilhões para o programa, ampliando a capacidade brasileira de armazenagem, processamento e gestão de dados.
Os benefícios fiscais para empresas que querem investir no setor terão início apenas no dia 1º de janeiro de 2026, mas isso não impediu que o Brasil tenha se tornado um polo de interesse para players globais nos últimos anos. O motivo é um só: a capacidade do País em liderar a transição energética global.
Essa é a percepção de Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit e VP de Energia e Sustentabilidade da MIT Technology Review Brasil. Para ele, o setor atravessa um momento único que coloca o Brasil como um ator essencial para os investidores.
“Os data centers deixaram de ser invisíveis. Eles passaram a ser infraestrutura estratégica para competitividade econômica, soberania digital e transição energética. A discussão deixou de ser apenas tecnológica e passou a ser energética e industrial.”
Para se ter uma ideia da magnitude, de acordo com a Deloitte, os data centers já devem representar 2% da eletricidade global em 2025. Apenas nos EUA, cerca de 80% destes empreendimentos operam com cerca de 80% de energia livre de carbono por hora. Projetos como um megadata center de 300 MW no Ceará, abastecido por energia eólica dedicada, mostram o potencial nacional.
Para Hudson Mendonça, o alinhamento entre inovação tecnológica, sustentabilidade e planejamento será decisivo para que o Brasil amplie sua competitividade global e consolide sua posição como um dos principais mercados de data centers da próxima década.
“Se o País unir inclusão energética, infraestrutura limpa e engenharia de alta performance, o Brasil pode se tornar o laboratório global de data centers sustentáveis. Estamos entrando na era da prestação de contas energética e investidores e reguladores querem medir emissões por aplicação, por região e por fonte de energia. O futuro está nos contratos 24/7,que alinham geração e consumo hora a hora. É uma revolução silenciosa na sustentabilidade digital”, afirmou o executivo.
Apesar disso, ainda existem muitos obstáculos a serem superados. Segundo levantamento da MIT Technology Review Brasil, os data centers consumiram cerca de 2 bilhões de litros de água em 2022 no Brasil, o equivalente a 0,003% do uso hídrico nacional. Embora o volume seja relativamente pequeno, grande parte do impacto hídrico está embutida na matriz elétrica, especialmente em hidrelétricas.
Empresas como o Grupo EBM, uma das maiores construtoras brasileiras de data centers, já vem olhando este cenário com atenção. Os novos empreendimentos da companhia apresentam padrões muito diferentes dos data centers tradicionais, com estruturas preparadas para maior densidade de equipamentos, sistemas elétricos mais robustos e resfriamento avançado. Com isso, muitos projetos recentes no Brasil já são concebidos com previsão para resfriamento líquido desde a fase inicial de engenharia.
Grupo EBM aguarda Redata para concluir obras
Eduardo Menossi, Bruno Sereno e Sergio Ribeiro enxergaram há alguns anos este potencial brasileiro de investir em data centers. Hoje, comandam o Grupo EBM, responsável pela construção de mais de 35 destas instalações na América Latina onde atuam no Chile, Peru, Colômbia, Panamá, México e, claro, Brasil.
Com sede em São Paulo e escritório comercial em Hong Kong, a companhia espera faturar R$ 300 milhões em 2025, um crescimento de R$ 50% sobre 2024. Para o ano que vem, os sócios pretendem expandir suas construções para a Argentina.
“Projetos recentes exigem outro nível de engenharia. As cargas são mais intensas, as exigências térmicas são maiores e a arquitetura precisa ser pensada desde o início para flexibilidade, ampliação e eficiência”, afirmou Menossi, sócio e responsável pela fundação do Grupo EBM em 2011.
No momento, o grupo tem quatro data centers em construção no Brasil, mas que estão com suas obras paralisadas aguardando o início dos benefícios fiscais do Redata.

