O mercado financeiro encerra a semana à espera do dado de inflação preferido do Federal Reserve – o índice de preços de gastos com consumo (PCE) – para consolidar em 100% a expectativa de novo corte nos juros dos Estados Unidos na próxima semana. Atualmente, a probabilidade precificada está perto de 90%, após o resgate de apostas esquecidas.
Mas como lembra a célebre frase de Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade, não precisa pensar”. Em outras palavras, a convicção de que o Fed fará um terceiro corte seguido de 0,25 ponto percentual – levando a taxa dos EUA para abaixo de 4% ao fim deste ano – reduz o olhar crítico sobre o cenário e pode levar a decisões apressadas.
Segundo o InfoEconomics, um evento raro pode ocorrer na reunião deste mês do Fed: a possibilidade de três ou mais dissidências entre os votos do colegiado. Essa colossal falta de consenso aconteceu apenas nove vezes desde 1990. Mais que isso, o comitê que reúne os membros votantes (Fomc) não teve três ou mais dissidência em uma mesma reunião desde 2019.
Esse “racha” começou ainda antes do apagão de dados dos EUA por causa do shutdown mais longo da história do país. Desde setembro, quando teve início o ciclo de cortes, o Fed se divide entre “dois pesos e duas medidas” que desafiam seu duplo mandato. De um lado, há um risco de piora do desemprego, diante da perda de força na criação de vagas. De outro, a melhora da inflação parou e os preços continuam “salgados”.
Portanto, não é apenas o mercado que busca definir a unanimidade nas apostas para um novo corte do juro na próxima semana. O Fed também deve estar à procura dessa conformidade de votos. Afinal, se de fato a decisão da maioria do colegiado for por um terceiro corte seguido de 0,25 pp, a falta de consenso pode enfraquecer a mensagem de política monetária – e intensificar as dúvidas sobre a influência apenas política.
Crônica nacional
Qualquer semelhança com o que acontece no Brasil não é mera coincidência. O mercado está ansioso por sinais de que a taxa Selic vai começar a cair dos atuais 15%. Os dados fracos da economia brasileira divulgados ontem reforçaram a ala que aposta em cortes em janeiro. Para isso acontecer, o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria sinalizar essa intenção já na semana que vem.
Mas a expectativa é de que o Copom repita no comunicado da última reunião deste ano o tom duro (“hawkish”) das mensagens mais recentes do Banco Central local – em especial a postura conservadora do presidente, Gabriel Galípolo. Assim, a perda de tração da atividade doméstica não muda a convicção dos economistas, que só esperam uma redução do juro básico a partir de março – quiçá, depois – conforme aponta o Boletim Focus.
Portanto, a diferença é que aqui o dissenso se dá entre o próprio mercado e os economistas. Enquanto o primeiro precifica nos ativos de risco o impacto de um juro básico em queda, içando o Ibovespa para nova rodada de sucessivos recordes; os últimos dão maior peso aos aspectos fiscais e à crise entre os Poderes para mensurar o impacto dos ruídos em Brasília na eleição presidencial do ano que vem.
A questão é que o Copom já deixou mais que claro que olha para as expectativas de inflação e que não vai mexer na taxa Selic antes que o mercado revise para baixo as previsões para o IPCA de 2026 em diante. Como explica André Perfeito, da Garantia Capital, “estamos presos em um jogo de espelhos. Cabe saber quem vai piscar antes: o BC ou o mercado”.
Passeio pelo mercado
Os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para uma sessão regular de ganhos, com os investidores à espera do índice de inflação preferido do Fed.
Na Europa, as bolsas seguem em alta, ampliando o movimento da véspera. Na Ásia, mas uma sessão mista: Tóquio caiu 1%, enquanto Hong Kong e Xangai subiram.
Entre as moedas, o dólar tem viés negativo, com o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) abaixo dos 100 pontos.
Nas commodities, o petróleo tem viés negativo. O minério de ferro em Dalian (China) fechou em queda, ficando abaixo de US$ 110,00 a tonelada métrica. Já o ouro sobe.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin volta a cair, mas segue acima dos US$ 90 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 12h – EUA: Índice de preços de gastos com consumo – PCE (setembro)
- 12h – EUA: Sentimento do consumidor – Univ. de Michigan (dezembro – prévia)
- 17h – EUA: Crédito ao consumidor (outubro)

