O mercado financeiro inicia a sexta-feira recuperando o noticiário da véspera, quando o Japão elevou a taxa básica de juros para 0,75%, no maior nível desde 1995. A decisão era amplamente esperada. Mas a sinalização de continuidade do aperto monetário em 2026 revela uma mudança gradual em relação à postura ultra frouxa do Banco do Japão (BoJ).
Em reação, o iene ganha terreno em relação ao dólar – na contramão das moedas europeias – ao passo que o rendimento do bônus japonês de 10 anos (JGB) atingiu máximas em décadas, indo a 2%. Como já dito aqui, a concretização do cenário delineado pelo BoJ tende a provocar uma migração de recursos de volta ao mercado japonês.
Talvez essa realocação mais firme aconteça apenas no início do próximo ano. Tradicionalmente, janeiro é marcado nos mercados globais pelo reposicionamento dos investidores, definido a partir das perspectivas traçadas. Assim, os comentários do presidente Kazuo Ueda sobre ajustes adicionais para buscar a taxa neutra entram no radar.
Já do outro lado do Pacífico, a inflação ao consumidor nos Estados Unidos (CPI) agitou as apostas de novos cortes pelo Federal Reserve. A previsão é de que a pausa seja interrompida em abril. Mas à medida que a influência de Donald Trump sobre o Fed aumenta, essa queda adicional pode acontecer antes — em março.
Me dê motivos…
No Brasil, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse o óbvio: não há decisão tomada para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Afinal, a atualização da taxa Selic é uma decisão em conjunto e acontece apenas quando os diretores se reúnem — em janeiro, o Copom terá duas baixas no colegiado.
Mas o mercado entendeu que as palavras de Galípolo de que não há “porta fechada nem seta dada” trouxeram de volta à mesa as chances de queda do juro básico logo na virada do ano. Em reação, o Ibovespa subiu antes do vencimento mensal de opções de ações, os juros futuros retiraram parte do prêmio, mas o dólar ficou estável, acima de R$ 5,50.
Nessa conta, entram mais os ruídos políticos com a eleição em 2026 do que a votação do Orçamento no Congresso, hoje. “Ruído significa risco e risco tem ‘preço’”, lembra o economista André Perfeito. Assim, da mesma forma que o mercado virou a mão no dólar – que tinha motivos para cair abaixo de R$ 5,30 – o Copom quer razões para cortar os juros em janeiro.
O BoJ tem motivos, e o Fed também, cada um no seu ciclo monetário. A dúvida é como esses diferentes estágios de condução dos juros nas economias avançadas — ontem o BCE manteve a taxa estável em 2% na zona do euro — irão movimentar os fundos globais: as estratégias serão mais especulativas ou para proteção da carteira? A conferir.
Passeio pelos mercados
- Futuros das bolsas de Nova York: em alta.
- Europa: bolsas mistas.
- Ásia: fechamento no positivo – Tóquio +1,03%; Hong Kong +0,75%; Xangai +0,36%.
- Moedas: dólar ganha terreno frente a moedas europeias, mas iene avança; índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) sobe.
- Commodities: petróleo cai; minério de ferro (Dalian) fecha em alta de 0,5%, a 780 yuans; ouro cai.
- Criptomoedas: Bitcoin em alta, mas abaixo da marca de US$ 90 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h30 – Brasil: nota do setor externo (novembro)
- 12h – EUA: vendas de moradias usadas (novembro)
- 12h – EUA: índice de sentimento do consumidor – Uni. Michigan (dezembro)
- 12h – Zona do Euro: confiança do consumidor (dezembro – prévia)

