Mercado desafia Fed e Copom, mas é o Japão que mexe com os juros globais

Aposta de corte na taxa dos EUA neste mês e na Selic em janeiro segue no preço, mas possível alta dos juros japoneses rearranja mercados globais

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Boj | Brazil Economy

O mercado financeiro desafia a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Os investidores mantêm a expectativa majoritária de corte nos juros pelo Federal Reserve em dezembro e na taxa Selic no mês que vem. Mas o que está mexendo com os ativos de risco é um possível aumento da taxa básica de juros no Japão ainda neste mês.  

Como lembrou o estrategista sênior global do Rabobank, Michael Every: “se você começou a trabalhar nos mercados depois da década de 90, tudo o que você sabia sobre os japoneses era a deflação e os rendimentos ultra baixos”. Em outras palavras, o mercado japonês é, historicamente, marcado pela ausência de inflação e pelo juro zero ou negativo.

“Mas isso mudou”, ressalta Every, em relatório, apontando que o índice de preços ao consumidor japonês (CPI) está ao redor de 3% há mais de três anos – acima da meta de 2%. 

O ponto central é que o Japão é o maior credor do mundo da dívida pública dos Estados Unidos. Ou seja, são os maiores detentores dos títulos soberanos dos EUA. Assim, trilhões de dólares em Treasuries estão nas carteiras de investidores do Japão. 

A questão é que se o Banco do Japão (BoJ) concretizar a insinuação do presidente Kazuo Ueda de que está considerando um aumento dos juros antes do fim do ano, boa parte desses recursos deve migrar de volta ao mercado japonês. Ontem, o rendimento dos títulos de dois anos do país (JGB) atingiu o maior nível em 17 anos, ficando acima de 1%, e impulsionando uma valorização do iene. Ao mesmo tempo, os bônus dos EUA sofreram uma debandada, puxando os juros pagos para cima em meio à nova rodada de vendas.    

O que eu tenho a ver com isso?

É aí que se dá a influência desse eventual movimento dos juros japoneses no mercado doméstico. Uma vez que as Treasuries são referência para o desempenho dos juros globais e do custo do dinheiro no mundo, a trajetória de alta do rendimento pago pelos papéis da dívida pública dos EUA tende a influenciar o comportamento dos juros no Brasil, embutindo prêmio de risco na curva local

Em outras palavras, o Banco Central brasileiro (Copom) fica ainda menos inclinado a cortar a taxa Selic em breve. Ao mesmo tempo, a renda variável doméstica perde um pouco de charme, com a renda fixa mundo afora se tornando mais atrativa. De quebra, a estratégia de valorizar o real por causa da diferença de juros também perde espaço. 

Na última linha, é o apetite por risco global que diminui. Assim, a tentativa de recuperação dos mercados nesta manhã pode ser apenas um alívio técnico, com os investidores recompondo fôlego enquanto se preparam para uma possível mudança estrutural que vem do Oriente – e, desta vez, a culpa não é da China.  

Passeio pelo mercado

Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta, indicando uma tentativa de recuperação após iniciar dezembro no vermelho.

Na Europa, as bolsas já estão no campo positivo, depois de mais uma sessão mista na Ásia, onde Tóquio ficou estável, em meio às indicações do BoJ de que está inclinado a aumentar os juros em dezembro. Na China, Hong Kong subiu, mas Xangai caiu.

Entre as moedas, o dólar mede forças em relação às rivais, com o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) abaixo da marca de 100 pontos. O destaque fica para a alta do iene, que acompanha o salto dos juros pagos pelos JGBs com vencimento em dois anos para o maior nível em 17 anos, acima de 1%. 

Nas commodities, o petróleo oscila em baixa, enquanto o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em aaaa. O ouro recua, em meio à movimentação com os Treasuries, que sofre com a debandada por causa dos bônus japoneses. 

Entre as criptomoedas, o Bitcoin se ergue, após despencar, mais uma vez.

Agenda do dia

Indicadores

  • 9h – Brasil: Produção industrial (outubro)
  • 22h45 – China: Índice PMI composto de atividade – indústria e serviços (novembro)

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