Um conto de ano novo para o mercado virar a página – e o fim de um ciclo

Ao se despedir de 2025, a Bula do Mercado revisita um ano de ganhos e incertezas — e encerra sua passagem pelo Brazil Economy

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ChatGPT Image 30 de dez. de 2025 06 57 16 | Brazil Economy

Com o ano chegando ao fim, a tentação de resumir 2025 nos mercados em gráficos e percentuais é grande. Afinal, os números ajudam a organizar a memória: índices de ações em máximas históricas, juros em queda nos Estados Unidos e ainda elevados no Brasil, dólar oscilando ao sabor da política e uma Inteligência Artificial que deixou de ser promessa para se tornar eixo central das narrativas de investimento. 

Mas reduzir o ano a estatísticas seria insuficiente, pois 2025 foi menos um exercício de linearidade e mais um enredo de reviravoltas. Daí por que neste último pregão do calendário atual, a proposta é trazer um conto de ano novo escrito entre choques políticos, mudanças de ciclo e expectativas constantemente revistas — o que sugere que a agenda do dia pode calibrar as apostas sobre o Federal Reserve e a taxa Selic.

Nos EUA, o retorno de Donald Trump ao centro do tabuleiro político mundial reorganizou rapidamente o humor dos mercados globais. O anúncio e a implementação de tarifas amplas sobre importações reacenderam fantasmas conhecidos: pressões inflacionárias, fragmentação do comércio internacional e medidas de retaliações. O que poderia parecer um roteiro antigo da guerra comercial ganhou novos contornos em um mundo mais sensível a rupturas e menos disposto a absorver choques sem reação. 

Ainda assim, Wall Street seguiu avançando. Dow Jones e S&P 500 caminham para encerrar o ano com ganhos de dois dígitos — algo raro e, para muitos, desconfortável. Tanto que a euforia em Nova York conviveu com a dúvida: até que ponto os preços das ações refletem fundamentos?; e até que ponto apenas antecipam um futuro idealizado?

Mas foi do outro lado do mundo que veio a principal mudança, capaz de reordenar as peças dos ativos financeiros em 2026. O Japão protagonizou a medida mais simbólica de 2025: o fim definitivo da política monetária ultra frouxa. A elevação dos juros para níveis não vistos desde os anos 1990 marcou uma inflexão histórica e recolocou o país no radar dos fluxos globais, ainda que de forma lenta e cuidadosa.

Só muda de lugar 

No Brasil, 2025 foi um ano de contrastes. O Ibovespa acumulou uma valorização expressiva, sustentada por fluxo estrangeiro, expectativa de queda dos juros e uma bolsa ainda barata em termos relativos. Ao mesmo tempo, o dólar oscilou entre momentos de alívio e episódios de estresse, refletindo não apenas fatores externos, mas sobretudo a crescente sensibilidade do mercado ao cenário político doméstico. A aproximação das eleições presidenciais começou a contaminar preços ainda antes do apagar das luzes de 2025, ampliando prêmios de risco e reforçando a percepção de que o ciclo econômico não pode ser analisado isoladamente do ciclo político.

Já o Banco Central brasileiro passou o ano reafirmando sua cautela. A taxa Selic permaneceu elevada por mais tempo do que muitos gostariam, frustrando apostas apressadas de cortes. Ao longo do ano, ficou claro que, mais do que inflação corrente, o câmbio e as expectativas inflacionárias passaram a ocupar papel central na condução da política monetária. O mercado se lembrou que desejo não é cenário, e que cortes de juros exigem motivos — não apenas convicção.

Em paralelo, 2025 consolidou tendências que vinham sendo gestadas silenciosamente. A automação ganhou ainda mais espaço no dia a dia dos mercados, especialmente em períodos de baixa liquidez como o atual, quando algoritmos passaram a ditar movimentos que nem sempre carregavam mensagem econômica clara.

Ciclo fechado 

Foi, portanto, um ano de aprendizados. Aprendizado sobre limites — das previsões, dos modelos, das narrativas prontas. Aprendizado sobre tempo — o tempo da política, o tempo da economia e o tempo, muitas vezes impaciente, do mercado. E, sobretudo, aprendizado sobre leitura: saber distinguir ruído de sinal, evento de tendência, desejo de realidade.

Ao chegar ao fim de 2025, o mercado se prepara para virar o calendário com mais perguntas do que respostas — e talvez esse seja o desfecho mais honesto deste conto de ano novo. Em um mundo marcado por incertezas, reconhecer a complexidade não é sinal de fraqueza, mas de maturidade. 

Assim como o ano se encerra, também chega ao fim este capítulo da Bula do Mercado no BRAZIL ECONOMY. A parceria se despede junto com o calendário, deixando o registro de um período intenso, cheio de ruídos, aprendizados e leituras possíveis. O jogo segue, a bola continua rolando — e novas histórias serão contadas, em outros tempos e outros espaços.

Passeio pelos mercados

  • Futuros das bolsas de Nova York: leve alta.
  • Europa: bolsas em alta.
  • Ásia: fechamento misto.
  • Moedas: dólar mede forças ante rivais; índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) testa faixa dos 98 pontos.
  • Commodities: petróleo sobe; ouro avança.
  • Criptomoedas: Bitcoin em alta, mas ainda abaixo da marca de US$ 90 mil.

Agenda do dia

Indicadores

    • 8h30 – Brasil: Nota de política fiscal (novembro)
    • 9h – Brasil: Pnad contínua (novembro)
    • 11h – EUA: Índice de preços de imóveis (outubro)
    • 11h45 – EUA: ìndice PMI Chicago (dezembro)
    • 10h30 – EUA: índice de atividade Fed de Chicago (novembro)
    • 14h – Brasil: Caged (novembro)
    • 14h30 – Brasil: Resultado da dívida pública (novembro)
    • 16h – EUA: Ata do Fed (dezembro)
    • 22h30 – China: PMI de atividade (dezembro)

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