O mercado financeiro percebeu ontem que parte das expectativas para 2026 não devem se tornar realidade, ao menos tão cedo. Seja em relação à trajetória dos juros ou à disputa eleitoral, os investidores vão precisar revisar seus cenários — e o quanto antes.
A começar pelo desejo de um corte na taxa Selic em janeiro. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reiterou a mensagem do comunicado da semana passada e acabou de vez com o sonho de queda do juro básico logo no início do próximo ano.
Além disso, a resiliência na criação de vagas nos Estados Unidos reforça a chance de pausa no ciclo de cortes pelo Federal Reserve na primeira reunião do ano que vem. A dúvida é se haverá duas quedas nos juros, como quer o mercado, ou apenas uma, como prevê o Fed.
É a política!
Mas o principal fator que derrubou o Ibovespa em mais de 2% ontem e levou o dólar para além da faixa de R$ 5,45 foi a divulgação de uma nova pesquisa eleitoral. O levantamento incluiu pela primeira vez Flávio Bolsonaro como candidato e sugere que o senador do PL-RJ como um candidato da direita mais competitivo do que Tarcísio de Freitas.
A Faria Lima, como se sabe, nunca escondeu a preferência pelo governador do Estado de São Paulo para tocar a agenda econômica liberal, reformista e pró-privatizações. Seja qual for o nome do principal oponente nas urnas, o presidente Lula segue favorito à reeleição. Com isso, temores fiscais voltaram a assustar.
Ainda assim, chamou a atenção o peso do cenário eleitoral sobre os ativos locais. O movimento teve início com o anúncio da candidatura do filho 01 do clã Bolsonaro na corrida presidencial, mas o noticiário político que se seguiu não foi acompanhado pela mesma intensidade de ajuste nos preços.
Crie codornas
A sazonalidade típica de fim de ano, que enxuga o volume de negócios, e o posicionamento dos investidores em um cenário que vai na contramão dos fatos recentes criou esse ambiente mais frágil e reativo. Assim, os gestores (e os robôs) mostram impaciência e operam com baixa tolerância em aceitar a realidade.
Ou seja, qualquer notícia que não confirme o que o mercado quer provoca exageros em dimensão ampliada. Assim, em um mercado com pouca liquidez e excesso de expectativa, frustração vira volatilidade.
Resta esperar quem vai piscar primeiro: a expectativa ou a realidade. Nesse dilema, vale lembrar o famoso meme da Ivana, que decidiu criar expectativas, e a Maiara, que criou codornas. Se algo não der certo, ao menos tem-se o ovinho de codorna para se deliciar — à outra menina restou apenas a frustração.
Passeio pelos mercados
- Futuros das bolsas de Nova York: em leve alta.
- Europa: bolsas avançam.
- Ásia: fechamento em alta — Xangai +1,2%; Hong Kong +0,9%; Tóquio +0,3%.
- Moedas: dólar ganha força frente a moedas rivais; índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) sobe.
- Commodities: petróleo sobe; minério de ferro (Dalian) fecha em alta, a 768 yuans; ouro sobe.
- Criptomoedas: Bitcoin em queda e abaixo da marca de US$ 90 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 12h30 – EUA: estoques de petróleo (semanal)
- 14h30 – Brasil: fluxo cambial (semanal)

