LOTS Group, da Scania, ajusta a rota e projeta crescimento acelerado em logística verde

Multinacional sueca reforça estratégia no Brasil, onde tem 90%de seus negócios em transporte inteligente e sustentável. Após oito anos por aqui, companhia prevê break even neste ano e geração de caixa em 2026

Compartilhe:

Imagens: Divulgação

Previsão da LOTS é superar a marca de 1.000 veículos sob gestão nos próximos cinco anos

Previsão da LOTS é superar a marca de 1.000 veículos sob gestão nos próximos cinco anos

Edson Guimarães assumiu o comando do LOTS Group na América Latina em setembro do ano passado com uma missão muito clara: potencializar a inovação e reposicionar a companhia como provedora de soluções de logística de alto nível. Para isso, em pouco mais de um ano, teve de ajustar a rota da multinacional sueca que faz parte da Scania para fechar 2025 em break even e, a partir de 2026, gerar caixa. Depois de traçar um novo trajeto, a projeção é faturar R$ 160 milhões neste ano (acima dos R$ 130 milhões do ano passado), com a ambição de alcançar R$ 250 milhões no ano que vem, quase o dobro da receita em um período de dois anos. Com presença em países europeus e latino-americanos, a companhia tem 90% de seu faturamento gerado no Brasil.

“Os últimos anos foram de investimento, fechando no vermelho, muito com mentalidade de startup, olhando para o futuro. A partir deste ano, é um turning point de fato, em que entregamos um break even para começar a ser um gerador de caixa a partir do ano que vem”, disse Guimarães, com exclusividade ao BRAZIL ECONOMY.

Para isso ocorrer, o executivo implementou uma série de ações. Um dos pontos foi trabalhar a mentalidade do time. “Quando se tem investimentos massivos, é uma situação diferente de quando a companhia precisa ser rentável e crescer”, discorreu o CEO da LOTS, que carrega na bagagem quase 20 anos de experiência em grandes corporações, como GM, TRW, 3M e McKinsey & Company, onde atuou por dez anos antes de ingressar na companhia sueca.

Mestre em Gestão da Cadeia de Suprimentos pelo MIT de Zaragoza (ESP) e pós-graduado em Gestão da Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Guimarães lidera cerca de 800 colaboradores, a maioria motoristas. Já para o primeiro trimestre de 2026 está previsto um quadro de 1.200 profissionais e, até o fim do ano que vem, 1.500 funcionários.

Edson Guimarães, CEO da LOTS na América Latina: construção de alicerces
Edson Guimarães, CEO da LOTS na América Latina: construção de alicerces

“Este ano foi menos de aceleração e mais de construção dos alicerces, a partir de um ajuste de rota para conseguirmos um crescimento acelerado”, frisou o executivo, que pilota a operação brasileira da LOTS a partir do recém-inaugurado escritório no bairro do Paraíso, em São Paulo.

Ali está o back office, com equipe comercial, administrativa, marketing e RH, além de uma torre de controle que acompanha cada movimento e cada segundo — literalmente — dos 150 caminhões monitorados pela companhia. A previsão é superar a marca de 1.000 veículos sob gestão nos próximos cinco anos.

Segundo Guimarães, trata-se de uma torre de controle que “vai além do básico”, de fazer a gestão de segurança e de risco. “É focada em performance operacional, da operação logística, do ativo caminhão. Temos o controle de quantas vezes o motorista pisa no freio”, disse o executivo.

Outro diferencial é o ranqueamento dos motoristas. Em apenas uma das métricas, de consumo de combustível, a diferença entre os motoristas que assimilam o padrão LOTS e os demais é de uma economia na casa de 20%, de acordo com dados da companhia.

E não é só isso. O salário dos condutores é variável e atrelado à performance. “Trabalhamos tanto o tema da tecnologia quanto o comportamental, para que o motorista esteja alinhado ao que o cliente precisa”, afirmou.

Paralelamente a esse trabalho junto aos motoristas, a companhia promove o programa Elas no Volante, que incentiva a presença feminina no transporte de cargas pesadas, proporcionando um impacto social positivo na ampliação de oportunidades no setor.

Há outra torre de controle da LOTS, tão robusta quanto a do escritório da empresa, instalada na sede da Scania, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

LOTS promove o programa Elas no Volante, de incentivo à presença feminina no transporte de cargas pesadas
LOTS promove o programa Elas no Volante, de incentivo à presença feminina no transporte de cargas pesadas

Credibilidade e independência caminham juntas

Entre os clientes da companhia de logística estão a própria Scania, a Volkswagen Caminhões e Ônibus, a Atvos e a Cocal, o que consolida a presença da LOTS em setores como automotivo, industrial e agroenergético.

A Scania, que naturalmente seria a principal cliente, é a terceira em termos de geração de receita — e isso é ótimo, na avaliação de Guimarães. Tanto que, no pipeline, está o objetivo de a matriarca da LOTS tornar-se a sétima no ano que vem. Não porque ela vá perder representatividade, mas porque outros clientes devem avançar em seus contratos.

“Ao mesmo tempo em que termos a Scania passa credibilidade ao mercado, o fato de termos outros parceiros importantes mostra nossa independência”, salientou o CEO.

Paridade de custos

A LOTS atua como uma espécie de consultoria para empresas de transporte e logística que pretendem avançar na descarbonização e na redução do impacto ambiental.

Mas isso começa dentro de casa. Em sua base de São Bernardo do Campo, por exemplo, 70% da frota já opera movida a gás, resultado de uma estratégia que aposta na substituição gradual do diesel por combustíveis mais limpos.

LOTS tem 90% de seu faturamento gerado no Brasil
LOTS tem 90% de seu faturamento gerado no Brasil

Seja na própria operação ou na dos clientes, o objetivo é expandir o uso de gás e também de biometano de forma que gere ganhos consistentes de eficiência logística, garantindo a viabilidade econômica da transição energética.

Esse é o grande desafio da LOTS, já que dificilmente uma empresa vai aumentar seus custos para implementar um projeto de logística verde, apesar da demanda latente por essa guinada. “Levar essa paridade de custo com o diesel é bastante crucial”, afirmou Guimarães.

Em um dos exemplos, o CEO da LOTS apontou um caminhão a diesel que tem um ciclo de trabalho de oito horas. Com um veículo elétrico ou movido a biometano — que é mais caro — é possível reduzir esse ciclo para até duas horas, o que colocaria o projeto de pé financeiramente. “Assim, o custo é o mesmo para a empresa e ainda há o ganho da descarbonização”, disse o executivo.

A partir de mais interesse e demanda, com projetos bem desenhados e aplicados, aliados ao barateamento das tecnologias de energia, em um futuro próximo será possível até gerar lucro para as empresas que pretendem encarar essa transição, na avaliação de Guimarães.

O desafio é de conceito e também de uso correto da tecnologia. Pesquisa da McKinsey com cerca de 30 das maiores companhias do Brasil, de diversos segmentos, mostra que apenas 13% das organizações que digitalizaram partes de suas cadeias de suprimentos conseguem aproveitar todo o potencial das tecnologias aplicadas.

Trajeto de São Bernardo a Belém foi estruturado com apoio da LOTS, garantindo alta eficiência logística de caminhões movidos a biometano
Trajeto de São Bernardo a Belém foi estruturado com apoio da LOTS, garantindo alta eficiência logística de caminhões movidos a biometano

Existe bala de prata?

Mas qual é o modelo mais eficiente para a descarbonização: elétrico, biometano ou outro? Para Edson Guimarães, não existe uma bala de prata, ainda mais tratando-se do Brasil, em que cada região tem uma característica que favorece um modelo e, mais do que isso, cada empresa tem seu próprio objetivo e está em um estágio diferente.

Por isso, são importantes os projetos-piloto, que testam as formas mais eficientes para cada cliente. São esses projetos que avaliam, de maneira detalhada, a paridade da transição energética das frotas.

As possibilidades são amplas, inclusive para a LOTS, que tem ingressado na multimodalidade ao buscar players de cabotagem e ferrovia, além dos tradicionais atores rodoviários.

Na visão do CEO da multinacional de logística verde, as empresas que atuam na logística ferroviária e marítima já possuem maturidade operacional, mas precisam do caminhão para realizar o trabalho de last mile.

Em um dos projetos em que a LOTS está envolvida neste momento, o contêiner sai do navio e segue no caminhão para ser levado por rodovia em uma distância de 80 quilômetros. A paridade de custos está sendo mensurada. O fluxo, em um futuro contrato, é realizar 100 viagens recorrentes por dia. “É uma operação em escala”, frisou Guimarães.

De São Bernardo a Belém, com biometano

Para demonstrar a capacidade de atendimento e o potencial do combustível verde no Brasil, uma parceria entre LOTS, Scania, Senai-SP, Ultragaz e Itaipu Norte levou caminhões movidos a biometano de São Bernardo do Campo a Belém (PA), em um percurso de 3.500 quilômetros.

A ação fez parte das iniciativas da COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), realizada em novembro. O trajeto foi estruturado com apoio da LOTS, garantindo alta eficiência logística, com toda a operação monitorada em tempo real na torre de controle da companhia.

Precisão no acompanhamento da frota, otimização do trajeto e sinergia entre as empresas envolvidas foram alguns dos pontos destacados no projeto. Trata-se de uma operação tão complexa que ainda não é possível replicá-la em escala com a infraestrutura disponível no território brasileiro.

“Mas demonstramos a capacidade de transformação do País para uma logística sustentável”, comemorou Guimarães. “Foi um exemplo concreto de que é possível rodar caminhões de ponta a ponta do Brasil com inovação, redução de emissões e impacto social positivo.” Justamente o propósito da LOTS, que, depois de ajustar sua própria rota, está preparada para avançar nos negócios de logística verde — e azul, na última linha do balanço.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSA NEWSLETTER E
FIQUE POR DENTRO DAS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DO MERCADO

    Quer receber notícias pelo Whatsapp ou Telegram? Clique nos ícones e participe de nossas comunidades.