Enquanto nos Estados Unidos e na Europa a expansão das fontes renováveis depende fortemente de políticas públicas específicas para incentivar a substituição dos combustíveis fósseis, o Brasil se destaca por já contar com uma matriz energética predominantemente limpa. Atualmente, as fontes renováveis respondem por quase metade da oferta interna de energia e mais de 90% da nova capacidade instalada nos últimos anos, impulsionadas principalmente pelo avanço da geração eólica, solar e hidrelétrica.
Para empresas do setor que atuam no Brasil, 2026 será um ano marcado pela necessidade de agilidade operacional e digitalização intensiva de processos feitas por meio do uso ampliado de inteligência artificial, análise avançada aplicadas a manutenção preditiva como resposta à demanda e gestão de emergências, além do fortalecimento da resiliência nas cadeias de suprimento.
Essas são as perspectivas trazidas pela Deloitte nos estudos “2026 Renewable Energy Industry Outlook” e “2026 Power and Utilities Industry Outlook”, que o BRAZIL ECONOMY teve acesso com exclusividade. Ambos discutem os principais temas que devem pautar o setor no próximo ano.
A consultoria destaca que a eletrificação de frotas e indústrias, somada ao avanço dos data centers, deve impactar o aumento da demanda energética já que a diversificação na geração ajuda a garantir oferta de energia independentemente de fatores climáticos ou macroeconômicos. Isso mostra que, em meio a um cenário de mudanças, a digitalização de processos e resiliência da cadeia de suprimentos são fundamentais.
“Essa vantagem não elimina desafios do mercado brasileiro, especialmente se pensarmos em discussões sobre tarifação, eficiência e capacidade de transmissão. A necessidade de diversificação da matriz energética é uma realidade crescente. A demanda por eletricidade vem aumentando acima do previsto em mercados desenvolvidos, impulsionada principalmente pelos data centers e pela eletrificação industrial, o que implica mudanças nas formas de produção e no ambiente regulatório”, comentou Guilherme Lockmann, sócio-líder para o setor de Power, Utilities e Renewables da Deloitte.
Entre as tendências para o próximo ano, os estudos destacam que a agilidade será fundamental para acelerar a implementação de projetos e adoção de parcerias estratégicas em meio a um cenário de mudanças de políticas e restrições comerciais.
“A adoção de sistemas inteligentes para otimizar operações, realizar manutenção preditiva e gestão de ativos deve se tornar cada vez mais comum com o maior uso da inteligência artificial. No cenário atual de demanda crescente, a resiliência da cadeia de abastecimento também terá papel central. O setor de energia precisará se centrar em um modelo de execução estratégica que otimize a operação enquanto mitiga riscos de fornecimento”, explicou Lockmann.
Brasil como hub global de energia renovável
Atualmente, o setor de energia no Brasil se posiciona como protagonista na transição para uma matriz mais diversificada, resiliente e sustentável. O avanço das fontes renováveis, aliado à digitalização dos processos e ao fortalecimento das cadeias de suprimentos, será determinante para garantir a segurança e a competitividade da indústria. As empresas do setor, ao adotarem estratégias inovadoras e colaborativas, estarão preparadas para atender à crescente demanda.
“Apesar dos obstáculos, as renováveis tendem a fortalecer sua posição no sistema energético, contribuindo para a segurança, sustentabilidade e competitividade do setor no médio e longo prazo”, disse o sócio da Deloitte.
Projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que o pico de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN) brasileiro crescerá 3,8% ao ano entre 2025 e 2029, passando de cerca de 108 GW para 125 GW. O aumento vai exigir uma expansão rápida tanto da geração quanto da transmissão, o que reforça a urgência por um ambiente regulatório mais ágil.
No Brasil, a concentração da geração hidrelétrica torna o sistema energético suscetível a oscilações provocadas por condições climáticas desfavoráveis. Por isso, ampliar a diversificação da matriz é fundamental para garantir maior segurança e estabilidade no fornecimento de energia. O investimento em alternativas como energia eólica, solar e biomassa fortalece a capacidade do País de atender à demanda energética, mitigando riscos associados tanto a eventos climáticos quanto a fatores macroeconômicos.
“É preciso que o setor elétrico brasileiro adote uma abordagem colaborativa e integrada entre as diferentes fontes de energias renováveis. Promover a diversificação da matriz energética por meio da combinação de diferentes fontes pode criar uma demanda mais robusta e, principalmente, mitigar riscos de escassez de oferta de energia nas diferentes regiões do País e um consequente aumento nos custos”, afirmou Lockmann.

