Até pouco tempo, a ideia de que os bitcoins funcionavam como um mercado paralelo reinava na opinião pública. Para Lucas Lopes, CEO do Mercado Bitcoin, a integração entre este recurso e o sistema financeiro tradicional se consolidou ao longo de 2025 em todo o mundo, inclusive no Brasil. “Blockchains se conectam a pagamentos instantâneos, câmaras de liquidação e, em alguns países, a moedas digitais de bancos centrais”, disse o executivo.
Com mais de 4 milhões de clientes em 12 anos de operação, o Mercado Bitcoin é a plataforma de investimentos em ativos digitais líder na América Latina, a partir da atuação como corretora de criptomoedas, tokenizadora de ativos e banco digital. Primeiro unicórnio cripto brasileiro e entre as cinco maiores tokenizadoras de crédito privado do mundo, atualmente a companhia tem sedes no Brasil e em Portugal. Lopes conversou com o BRAZIL ECONOMY sobre o atual momento da instituição e do mercado de criptoativos como um todo. Confira:
Quais as principais estratégias utilizadas pelo Mercado Bitcoin para evitar movimentações suspeitas?
Dentro do ecossistema do Mercado Bitcoin, utilizamos um conjunto avançado de estratégias para evitar movimentações suspeitas e garantir a integridade das operações na plataforma e, desde nossa fundação em 2013, nunca registramos nenhum incidente crítico de segurança. Em nossa operação, contamos com monitoramento contínuo 24/7, realizado por sistemas e equipes especializadas em antifraude e prevenção à lavagem de dinheiro, capazes de agir preventivamente diante de qualquer indício de irregularidade.
É possível mensurar quanto vocês protegem anualmente?
Por meio de sistemas proprietários e múltiplas camadas de controle, conseguimos proteger mais de R$ 1,6 bilhão por ano.
Quais são as medidas de segurança que o Mercado Bitcoin utiliza com os usuários interessados em abrir uma conta?
Adotamos um fluxo de abertura de contas inteligente e proporcional ao risco. O cliente começa com um cadastro com algumas informações básicas, para verificação de identidade e à medida que o relacionamento evolui e o volume de operações aumenta, nossos sistemas solicitam informações adicionais quando necessário.
Isso nos permite de fato conhecer melhor o cliente, diferenciar perfis legítimos de tentativas de fraude e elevar o nível de segurança sem criar barreiras desnecessárias para quem quer investir. No monitoramento das transações, combinamos análises onchain, ou seja, no nível da blockchain, um processo conhecido como KYT, Know Your Transaction. Ele nos permite identificar características de possíveis fraudadores, mapear conexões diretas e indiretas com carteiras suspeitas e bloquear operações antes da conclusão. Essa combinação de tecnologia, dados e time super especializado é o que sustenta a nossa estratégia de segurança e combate a fraudes no dia a dia.
Como a segurança no setor de ativos digitais avançou no último ano no Brasil?
A segurança no setor de ativos digitais avançou de forma expressiva no último ano no Brasil e no mundo, impulsionada pelo aumento do volume transacionado, pela maturidade regulatória e pela adoção de tecnologias preditivas de detecção de risco. Outro avanço importante está nos sistemas de monitoramento de ilícitos financeiros. A combinação entre inovação tecnológica, governança sólida e monitoramento inteligente consolidou um padrão de segurança compatível com a expansão acelerada da economia digital. No Brasil, a atuação de reguladores como Banco Central, CVM e Receita Federal vem elevando o padrão de governança, supervisão e reporte das operações com criptoativos.
E no mundo?
No cenário internacional, regulações como o MiCA, na Europa, e novos frameworks asiáticos ampliaram a exigência por auditorias contínuas, custódia mais robusta e maior transparência operacional.
Os EUA são considerados precursores no mercado de bitcoin. O que o Brasil pode aprender com a experiência americana?
O Brasil hoje é uma das referências globais em pagamentos digitais, inclusão financeira e uso de tecnologia no sistema financeiro. Quando olhamos para blockchain, o movimento é parecido: o País está construindo seu próprio modelo, mas pode se inspirar em alguns benchmarks importantes como Estados Unidos que recentemente passaram por uma mudança significativa em sua abordagem regulatória para ativos digitais. Houve a aprovação do Genius Act, que estabeleceu um arcabouço mais previsível e favorável para a emissão e circulação de stablecoins. Essa legislação trouxe segurança jurídica, definiu padrões prudenciais para emissores e criou condições mais estáveis para a inovação em blockchain no setor privado. Esse movimento reposicionou os EUA como um dos ecossistemas mais dinâmicos em infraestrutura de ativos digitais, especialmente no que diz respeito à confiança e à escalabilidade das stablecoins.
Quais outras experiências internacionais podem servir de inspiração ao Brasil?
Eu destacaria Singapura que tem um modelo de supervisão muito sólido, exigências prudenciais robustas e diálogo constante entre regulador e mercado. É um país que consegue atrair diversos projetos globais e realiza o maior evento cripto do mundo, no qual somos presença recorrente há anos. Reino Unido vem se posicionando com a lógica de “mesmo risco, mesma regulação”, trazendo cripto para o guarda-chuva do mercado financeiro tradicional, com foco em transparência, governança e proteção ao investidor. Tem ainda os Emirados Árabes Unidos em regiões como Abu Dhabi e Dubai, onde foram criados ambientes regulatórios específicos para ativos virtuais, com foco em licenciamento, governança e padrões mínimos de compliance, o que ajuda a organizar o ecossistema.
O Brasil não precisa copiar nenhum modelo, mas usar essas jurisdições como referência. Nosso sistema financeiro é bastante avançado em meios de pagamento e infraestrutura, o que é uma vantagem competitiva enorme e nos deixa muito bem posicionados para ganhar espaço no mercado global.
Quais os principais destaques das tecnologias de blockchain esperadas para 2026?
Quando olhamos para 2026, o grande foco é o de escalar casos de uso que já existem. Alguns destaques que devem ganhar força é o bitcoin como reserva de valor: não é novidade, mas deve se consolidar ainda mais. As stablecoins em dólar e em moeda local devem se aproximar da casa de meio trilhão de dólares emitidos e se consolidar como camada de liquidação do dia a dia. Remessas, comércio exterior, tesouraria corporativa e produtos tokenizados passarão a usar dólar e real tokenizados cada vez mais como padrão de liquidez. Crédito privado, recebíveis, e outros instrumentos financeiros passam a ser emitidos e negociados de forma nativa em blockchain, com integração com o mercado regulado, seja na originação, seja na distribuição.
Isso faz com que a integração com o sistema financeiro tradicional aconteça: blockchains se conectam a pagamentos instantâneos, câmaras de liquidação e, em alguns países, a moedas digitais de bancos centrais. Liquidação quase em tempo real, menos intermediação de custódia e reconciliação automática começam a aparecer em operações de capital de giro, trade finance e mercado de capitais. A falta de regulação no Brasil já não é mais desculpa para evitar essa integração.
Como a inteligência artificial pode ajudar nesse processo de consolidação do mercado de bitcoins?
A inteligência artificial tem um papel cada vez mais relevante na evolução da segurança destas infraestruturas, especialmente em monitoramento, prevenção e análise preditiva. A IA permite monitorar transações em tempo real, identificando padrões anômalos e comportamentos suspeitos que poderiam indicar tentativas de fraude, lavagem de dinheiro ou ataques cibernéticos. Esses modelos aprendem continuamente com os dados e tornam-se mais precisos à medida que novas ameaças surgem.
Por fim, a IA auxilia na análise de incidentes, acelerando a identificação de causas e o rastreamento de ativos em caso de movimentações suspeitas. Isso aumenta a resiliência e a confiabilidade do ecossistema. A combinação entre blockchain e inteligência artificial consolida um ambiente mais seguro, transparente e eficiente, fundamental para a próxima etapa de crescimento do mercado de ativos digitais.

