O distanciamento que grandes instituições financeiras, como Bradesco, Itaú ou Santander, tem de seus clientes é um ponto estratégico para os negócios da Sicredi. A cooperativa de crédito, com 9,5 milhões de associados e cerca de 3 mil agências espalhadas por todos os estados brasileiros, vem se valendo desse gap para se aproximar de seus clientes e fortalecer o modelo de negócios, inclusive na hora de calcular taxas de juros mais baixas.
“O Sicredi leva em conta o impacto na comunidade. Em geral, os nossos produtos possuem taxas mais baixas do que quando olhamos para o sistema financeiro tradicional”, disse André Nunes, doutor em economia aplicada e economista-chefe do Sicredi.
Para levar essa ideia de se aproximar dos clientes adiante, a cooperativa investiu a fundo no entendimento de prosperidade para o brasileiro. Uma pesquisa feita em parceria com o Datafolha aponta que as pessoas que se consideram mais prósperas utilizam, em média, 4,6 produtos financeiros, contra 3,8 entre aqueles com percepção de baixa prosperidade, evidenciando a conexão entre sensação de prosperidade e maior diversificação financeira.
“Para nós é importante entender o que é a prosperidade para o brasileiro. E quando perguntamos isso vemos que o que as pessoas almejam estão muito mais ligadas a satisfação profissional, a ter um propósito, a ter uma paz interior. São temas muito mais subjetivos e elevados”, ressaltou Nunes.
De acordo com a Sicredi, entender essa vertente psicológica também é parte do negócio da instituição que não deve apenas se preocupar em vender produtos sem qualquer parâmetro. A pesquisa mostra que grande parte da população, especialmente nas classes mais baixas, tem uma relação com grandes bancos marcada por distância, desconfiança e experiências negativas, como dívidas e falta de orientação. Já nas classes AB, essa relação é vista de forma mais organizada e planejada, embora persista o receio diante da instabilidade econômica.
Além disso, o modelo cooperativo se destaca como catalisador desse sentimento: 86% dos respondentes que se relacionam com cooperativas de crédito se consideram prósperos, índice que chega a 92% entre associados do Sicredi. Para André Nunes, isso é a prova de que estar próximo ao cliente demonstrando apoio na hora de tomadas de decisões na área financeira aumenta diretamente a sensação de prosperidade.
“Nossa taxa de retorno de um associado é muito grande, já que cobramos menos taxas de juros, o que remunera a mais em termos de depósito e investimentos. Cálculos recentes mostram que nosso retorno foi de cerca de R$ 2,7 mil por associado em média. Levando em conta que a renda do brasileiro é de R$ 3 mil, eu posso dizer que estar em uma cooperativa é quase receber um 13º salário”, disse Nunes.
De acordo com a pesquisa, há ainda uma grande diversidade de interpretações sobre como o brasileiro entende o conceito de prosperidade. Ele pode ser compreendido a partir de quatro dimensões principais: a econômica, na qual prosperidade envolve qualificação profissional, conquistas, estabilidade e acesso a oportunidades; a psicológica, relacionada a bem-estar emocional, autoestima e autonomia; a espiritual, ligada a práticas e crenças, propósito de vida e sentimento de conexão com algo maior; e a social, que diz respeito a vínculos e à vida em comunidade.
Entre essas dimensões, a econômica aparece como a base mais sólida na construção do conceito de prosperidade, com 39% de relevância, indicando que oportunidades e estabilidade financeira são vistas como essenciais para uma vida próspera. Em segundo lugar, vem a psicológica (com peso de 26%), seguida pela espiritual (21%) e pela social (14%).
Mulheres se consideram mais prósperas que homens (47% contra 34%), e a prosperidade tende a aumentar com a idade: entre jovens de 16 a 24 anos, apenas 28% se veem plenamente prósperos, enquanto entre pessoas com 60 anos ou mais esse índice chega a 49%. A escolaridade também tem relação: quem tem ensino fundamental apresenta maior percepção de prosperidade total (54%), enquanto entre os que possuem ensino superior esse índice cai para 30%.
O Nordeste é a região onde mais pessoas se consideram plenamente prósperas, com 49% dos entrevistados atribuindo notas 9 ou 10 para sua própria prosperidade. Já o Norte aparece em segundo lugar, com 45%. A pesquisa também mostra diferenças entre áreas urbanas e interior: moradores do interior tendem a se sentir mais prósperos do que aqueles das regiões metropolitanas, o que pode refletir fatores como custo de vida, relações sociais mais próximas e sensação de pertencimento.
“Vários desses elementos tem por trás renda, produtos financeiros, pessoas que adquirem uma quantidade maior de bens e atingem um nível melhor de vida. Então, os serviços financeiros entram como um certo suporte para que isso se realize lá na frente, mas estes serviços não são o fim em si próprio”, disse Nunes para exemplificar o quão importante é para o cliente ter o apoio próximo da instituição financeira em que ele escolheu.

