Nascida como uma marca coadjuvante em um portfólio multimarcas de suplementos, a Dark Lab virou protagonista em um dos segmentos mais disputados do varejo digital brasileiro: o de creatina. Com uma estratégia nativa de marketplace, a empresa saiu do “underground” para disputar espaço com gigantes do setor – e agora traça planos para chegar a R$ 1 bilhão em faturamento até 2030. “Hoje, a creatina responde por cerca de 60% do nosso faturamento. A gente usa esse produto como porta de entrada para apresentar todo o portfólio da Dark Lab”, afirmou ao BRAZIL ECONOMY Thiago Kitzinger, head comercial e de marketing da marca. Ao lado de Ingrid Moreira, coordenadora de marca, ele lidera o movimento que transformou a Dark Lab em referência em creatina e em uma das marcas mais agressivas do e-commerce esportivo.
A Dark Lab surgiu dentro da American Distribuidora, então uma empresa multimarcas que vendia nomes tradicionais como Integral Médica, Max Titanium e Black Skull, principalmente em marketplaces como Mercado Livre e Amazon. O plano inicial era simples: criar uma marca própria de entrada, para complementar o mix.
Na prática, porém, a estratégia virou de cabeça para baixo. “A Dark Lab começou a ganhar mais relevância do que as grandes marcas que a gente distribuía. No marketplace, a gente passou a performar melhor do que players tradicionais”, contou Kitzinger. A virada veio com um rebranding profundo, que abandonou o antigo logo de tubo de ensaio e adotou uma caveira como símbolo central da identidade da marca.
O novo posicionamento foi reforçado por um ponto técnico decisivo: em 2021, um laudo independente da Benutri analisou mais de 100 produtos de creatina no mercado brasileiro. A Dark Lab apareceu em primeiro lugar, com 99,7% de pureza. No ano seguinte, repetiu o feito. “Isso consolidou a marca como referência em creatina no Brasil, justamente no momento em que o país surfava um boom de academias, suplementos e bem-estar pós-pandemia”, disse Kitzinger.
Se a pureza da creatina deu lastro técnico, a caveira entrou como manifesto visual de posicionamento. “Quando a gente fez o Brand Book, definimos nosso arquétipo principal como o do ‘fora da lei’”, explicou Ingrid Moreira, coordenadora de marca da Dark Lab. “É a marca que não tem medo dos grandes, que quebra as regras, que enfrenta o mercado de igual para igual. A caveira representa isso de forma incontestável, ela impõe respeito.”
Segundo ela, a Dark Lab percebeu que, para crescer, teria de ultrapassar marcas muito estabelecidas no setor de suplementação esportiva. Em vez de tentar imitá-las, decidiu falar com um público que vinha sendo subexplorado: os jovens consumidores conectados, heavy users de redes sociais, acostumados a comprar no marketplace e a seguir influenciadores, não necessariamente atletas profissionais.
“As grandes marcas olhavam muito para o atleta de alta performance. Nós fomos uma das primeiras a olhar com força para o jovem que treina, que consome conteúdo, que vive o fitness como estilo de vida, e que compra pelo celular”, afirmou Ingrid. “A caveira, junto com o nome Dark Lab, reforça esse tom de rebeldia e de não conformidade.”
Seis em cada dez reais que entram no caixa da Dark Lab vêm da creatina. Outros 25% são gerados pela linha de proteínas, o segundo pilar da empresa. O restante se reparte entre pré-treinos, ômega, magnésio e outras categorias em desenvolvimento. Juntas, creatinas e proteínas respondem hoje por 85% do faturamento.
Para sustentar o crescimento, a empresa decidiu deixar de ser apenas uma marca terceirizada e entrou na manufatura. Até meados de 2024, toda a produção era feita por parceiros. A partir de julho daquele ano, a Dark Lab iniciou a construção de uma fábrica própria em Salto (SP), que ficou pronta em janeiro e rapidamente se mostrou pequena para a demanda.
“Hoje, cerca de 70% da nossa produção já é internalizada. A fábrica passou por uma expansão menos de um ano depois de inaugurada, tivemos de dobrar o tamanho para dar conta da demanda”, disse Kitzinger. São mais de 12 pontos de produção focados em produtos em pó, como creatinas, proteínas e pré-treinos. A parte de encapsulados e algumas linhas menores, como lançamentos e magnésio, ainda é terceirizada.
Somando a construção inicial, a compra de máquinas e a nova fase de ampliação, o investimento já chega a aproximadamente R$ 70 milhões. “Nenhuma marca grande hoje consegue produzir 100% da própria demanda. A terceirização é uma realidade de mercado. A nossa estratégia é internalizar o máximo possível nas curvas A (creatina, proteínas e pré-treinos) e manter parceiros em categorias de menor escala”, explica o executivo.
Por trás dos produtos, a Dark Lab montou uma cadeia de suprimentos internacional. A creatina é importada diretamente da China, da mesma fornecedora que abastece marcas globais. “A nossa creatina vem do maior produtor mundial, e a gente compra contêineres direto, sem intermediário. Isso reduz custo e diminui o risco de qualquer manipulação indevida da matéria-prima”, afirmou Kitzinger.
As proteínas também são majoritariamente importadas, com fornecedores na Dinamarca, nos Estados Unidos e na Argentina. O Brasil, hoje, só consegue produzir de forma competitiva o WPC30, usado em shakes prontos e barras de proteína. As proteínas concentradas (WPC60) e as whey 100% (WPC80) ainda dependem do mercado externo.
Essa estratégia permite à Dark Lab disputar preço em um mercado que viveu, em 2025, um forte movimento de queda nos valores da creatina ao consumidor final. “O tíquete médio caiu mais de 20% no ano. Mesmo assim, crescemos cerca de 100% em faturamento e perto de 180% em volume. Ou seja, aumentamos o market share dentro das casas brasileiras”, disse.
Black Friday histórica
A Black Friday de 2025 marcou um divisor de águas para a Dark Lab. Nas principais plataformas de marketplace, a marca dobrou de tamanho em faturamento em relação ao mesmo período do ano anterior. No Mercado Livre, sua creatina de 500 gramas foi o segundo produto mais vendido da plataforma e a embalagem de 300 gramas ficou em quarto lugar. Nas proteínas, a Dark Lab emplacou uma whey 100% entre os três primeiros e a whey concentrada entre os cinco mais vendidos.
“Se a gente excluísse do cálculo uma grande marca que entrou no Mercado Livre com uma campanha de lançamento muito agressiva, teríamos sido a primeira marca em suplementos na Black Friday”, afirmou Kitzinger. “De qualquer forma, saímos do período como a segunda maior marca da plataforma em suplementos, passando concorrentes tradicionais.”
Na Amazon, o desempenho foi ainda mais simbólico: a creatina de 500 gramas da Dark Lab terminou a Black Friday como o produto número 1 na categoria de saúde e bem-estar, à frente de itens de giro massivo, como papel higiênico e sabão em pó. Somando as principais plataformas (Mercado Livre, Amazon, Shopee e TikTok Shop) a creatina da Dark Lab, segundo o executivo, foi o produto mais vendido de toda a Black Friday na categoria de suplementos.
Shopee e TikTok também despontaram como motores de crescimento. Na primeira, a Dark Lab se consolidou como a marca número 1 em suplementos “puro sangue”, sem contar produtos mais leves como gomas vitamínicas. No TikTok Shop, que começou a operar mais fortemente em 2025, a marca já supera R$ 3 milhões em faturamento acumulado e aparece como líder em suplementos na plataforma.
Por trás dos números de vendas, uma estratégia de comunicação intensiva ajudou a impulsionar a Black Friday. Ingrid Moreira comandou um plano que começou semanas antes da data oficial, com foco em diferentes curvas de produto ao longo do mês.
“As duas primeiras semanas foram dedicadas aos produtos de curva C, especialmente encapsulados e proteínas de entrada. Na terceira semana, o foco foi pré-treino, que é muito forte no nosso site e no TikTok Shop. E deixamos a creatina e as ofertas mais agressivas para a semana da Black Friday, principalmente sexta, sábado e domingo”, explicou o executivo.
No marketing de influência, a Dark Lab operou “no talo”. Em um fim de semana, a marca alcançou 25 milhões de pessoas por meio de influenciadores, com mais de 300 telas de stories e mais de 200 posts de feed, de acordo com dados da plataforma Tagger, especializada em campanhas de influência. “Em um mês normal, nosso alcance gira em torno de 40 milhões. Só no fim de semana da Black, aumentamos esse alcance em mais de 50%”, disse Ingrid.
As lives em redes sociais, em especial no TikTok, também foram fundamentais. “Fizemos lives até de madrugada. Isso nos colocou com alta relevância no TikTok Shop e fortaleceu demais nosso awareness”, afirmou. O resultado foi um salto de mais de 15 mil seguidores no Instagram apenas no período da Black Friday e um crescimento de 75% na performance dos disparos de e-mail marketing em novembro, batendo todos os recordes anteriores da marca em datas sazonais.
Mais proteínas, novas categorias
Depois de um ano que Kitzinger define como “de estruturação”, com a montagem e a expansão da fábrica, a Dark Lab enxerga 2026 como o “ano da marca”. O plano é crescer cerca de 40% em faturamento, quase o dobro da taxa prevista para o mercado de suplementos, estimada entre 20% e 24%.
Quem deve puxar esse crescimento não é mais apenas a creatina, e sim as demais categorias, sobretudo as proteínas. “Vamos lançar novos sabores de whey, porque isso funciona muito bem no mercado, e também uma nova fonte de proteína além do whey. É uma forma de falar com públicos que hoje a gente ainda não atinge”, garantiu o executivo.
Na esteira da expansão, a Dark Lab também estuda fortalecer linhas de termogênicos e pré-treinos, mantendo a creatina como carro-chefe, mas buscando um portfólio mais equilibrado. Ao mesmo tempo, a marca prepara sua entrada mais consistente no mundo físico. “Somos uma marca nativa digital, mas entendemos que precisamos estar presentes em eventos e mais perto do consumidor também no offline. Em 2026, isso passa a ser uma frente importante”, acrescentou Kitzinger.
Com fábrica ampliada, uma estratégia agressiva de marketing de influência e uma identidade de marca que abraça a rebeldia como ativo, a Dark Lab quer continuar sendo a caveira que incomoda as gigantes do setor. E, se cumprir o plano de chegar a R$ 1 bilhão em faturamento até 2030, a marca que nasceu como coadjuvante de marketplace terá fincado de vez sua bandeira no topo do mercado brasileiro de suplementos.

