“Brasil pode ocupar uma posição estratégica no mercado de data centers”, diz CEO da TIP

De acordo com Alexandre Alves, governo deve tratar o tema como política de Estado e não como uma questão meramente tecnológica

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Imagens: Divulgação

Alexandre Alves, CEO da TIP: para desenvolver mercado de data centers, Brasil deve mirar no exemplo da Estônia

Alexandre Alves, CEO da TIP: para desenvolver mercado de data centers, Brasil deve mirar no exemplo da Estônia

A TIP Brasil fechou 2025 com a consolidação de um megaprojeto: o investimento de R$ 500 milhões na modernização e ampliação de seu data center em Campinas, interior de São Paulo.

O empreendimento conta com capacidade para até 2 mil racks e tem como objetivo oferecer serviços essenciais para clientes, como computação em nuvem.

De capital nacional, a TIP foi fundada em 2010 e tornou-se uma das líderes de mercado em soluções completas para provedores de internet no País, especialmente por meio da Zeus, sua plataforma proprietária. Com 15 anos de existência, hoje a companhia cobre mais de 4 mil cidades e atende 2 milhões de clientes.

O BRAZIL ECONOMY conversou com Alexandre Alves, CEO da companhia, para entender o atual momento do mercado de data centers no País que, de acordo com ele, atravessa grande fase. Confira:

1. Como você enxerga o mercado brasileiro como polo de investimentos em data centers?

O Brasil vive um momento singular. A digitalização acelerada, a expansão da economia de serviços e a adoção crescente de IA e nuvem criaram uma demanda estrutural por capacidade de processamento e armazenamento local.

Hoje, há uma convergência de fatores que torna o País altamente atraente para investimentos: uma legislação como a LGPD que incentiva a soberania de dados, um mercado consumidor gigantesco e uma necessidade real de infraestrutura que acompanhe esse ritmo.

A projeção de crescimento para os próximos anos reforça essa tendência: capacidade instalada aumentando de forma consistente e investimentos internacionais olhando para o País como prioridade. Ou seja, estamos entrando em uma fase em que o Brasil deixa de ser apenas consumidor de tecnologia para se tornar, de fato, um polo estratégico de infraestrutura digital na região.

2. O interior de São Paulo é um bom lugar para esse tipo de investimento?

Sem dúvida. O interior de São Paulo reúne uma combinação muito rara: conectividade robusta, logística eficiente, disponibilidade de energia e, sobretudo, espaço para expansões que seriam inviáveis nos grandes centros.

No nosso caso específico, ter sede em Campinas reforça isso ainda mais, já que a cidade se consolidou como um dos principais polos tecnológicos do país, com universidades fortes, mão de obra qualificada e um ecossistema que naturalmente atrai empresas de TI, telecom e inovação.

Além disso, há uma tendência global de desconcentração dos data centers, justamente para mitigar riscos e garantir continuidade operacional. O interior paulista entrega essa equação: proximidade de uma metrópole como São Paulo, mas com condições muito melhores para operação e crescimento.

3. Como você enxerga a segurança cibernética no Brasil?

O Brasil avançou, mas ainda está em processo de amadurecimento. O volume de ataques cibernéticos cresce na mesma velocidade que a digitalização, e isso coloca pressão sobre empresas e órgãos públicos para adotarem padrões mais altos de proteção.

Ainda existe uma lacuna de investimento e de qualificação profissional, mas o movimento é positivo: as organizações estão mais conscientes da necessidade de proteger dados, de manter ambientes resilientes e de adotar modelos de segurança mais modernos.

A chegada de operações globais, o aumento da infraestrutura crítica e a expansão de cloude IA devem acelerar esse processo de forma significativa.

4. Quais países estão mais avançados em segurança cibernética?

Alguns países se destacam por terem criado ecossistemas completos de proteção digital, combinando políticas públicas maduras, investimento contínuo e cultura de inovação. No continente americano, o Canadá se consolidou como um dos ambientes mais seguros, com padrões rigorosos, centros de resposta altamente estruturados e um nível elevado de colaboração internacional.

Já os Estados Unidos mantêm a liderança tecnológica e operam algumas das estruturas mais avançadas do planeta, especialmente no que envolve defesa, inteligência e proteção de infraestruturas críticas.

A Estônia é um dos melhores exemplos: depois dos ataques massivos nos anos 2000, o país transformou a segurança cibernética em política de Estado e hoje opera uma infraestrutura digital considerada referência mundial.

A Finlândia segue na mesma linha, com forte integração entre governo, empresas e academias, e uma das legislações mais avançadas da Europa. A República Tcheca também merece destaque: o país investiu fortemente na qualificação de profissionais, em centros de resposta rápida e em políticas públicas que colocam a segurança cibernética como pilar da digitalização.

Cada um deles evoluiu por caminhos diferentes, mas todos compartilham a premissa de tratar segurança como estratégia nacional, e não apenas como ferramenta técnica.

5. O Brasil pode se tornar um hub de data centers?

Sim e não é algo distante. O país já reúne vários elementos fundamentais: mercado expressivo, demanda crescente, regulamentação que exige armazenamento local, boa conectividade internacional e um apetite de investidores que aumentou muito nos últimos anos.

Para se consolidar como hub, o Brasil precisa garantir estabilidade energética, previsibilidade regulatória e incentivos que permitam que grandes e médios players mantenham e expandam operações por décadas. Se isso se alinhar, o Brasil pode ocupar uma posição estratégica no mercado de data centers.

6. Neste semestre o governo Lula anunciou a criação de um programa para incentivar a criação de data centers no Brasil, o Redata. Como o senhor viu essa iniciativa? 

É um programa importante porque reduz custos e simplifica a importação de equipamentos essenciais para operação em modernização de data centers. Isso deixa o setor mais competitivo e permite que empresas direcionem investimento para expansão, eficiência e segurança, em vez de ficarem presas à burocracia.

Outro mérito é incentivar a descentralização, já que ao facilitar novos projetos fora dos grandes centros, o programa ajuda a criar polos regionais de infraestrutura digital, o que melhora a resiliência do país, reduz a latência e estimula o desenvolvimento econômico local.

Se houver continuidade e clareza nas regras, o Redata pode se tornar um dos principais motores para ampliar a capacidade digital brasileira nos próximos anos.

7. O interesse do TikTok em construir data centers no Brasil pode afetar os negócios de vocês?

A chegada de um player desse porte ao país é, na verdade, um sinal claro de força do mercado. Quando uma empresa global escolhe o Brasil para instalar infraestrutura própria, ela valida a demanda, atrai ainda mais atenção internacional e abre espaço para novos projetos, parcerias e especializações. Cada modelo de operação atende a necessidades diferentes e a convivência entre hyperscalers, colocation e provedores corporativos fortalece o ecossistema como um todo.

8. Como a Inteligência Artificial pode ajudar na instalação de datacenters no Brasil?

A IA tem dois papéis muito claros nesse movimento. O primeiro é como motor da demanda: aplicações de IA generativa, modelos de linguagem e automações avançadas exigem volumes cada vez maiores de processamento, o que impulsiona a necessidade de data centers modernos e escaláveis.

O segundo papel é operacional: IA permite otimizar recursos, prever falhas, gerenciar energia de forma mais eficiente e reforçar segurança em tempo real. Ou seja, a IA não só justifica a expansão como melhora a qualidade e a sustentabilidade da própria infraestrutura.

9. O que o governo pode fazer para atrair mais data centers ao Brasil?

Impulsionar fortemente novos investimentos garantindo previsibilidade regulatória, estabilidade energética e processos de licenciamento mais ágeis. Iniciativas como o próprio Redata já apontam nessa direção ao reduzir barreiras e modernizar o ambiente de negócios.

Se essa lógica for aprofundada, com incentivos bem estruturados, estímulo à formação de profissionais especializados e políticas que reforcem a descentralização para além dos grandes centros, o Brasil se torna naturalmente mais competitivo. Em um setor que exige investimentos de longo prazo, criar um ambiente confiável e eficiente é tão importante quanto qualquer incentivo fiscal.

10. Data centers orientados por práticas de ESG já são comuns no mercado?

Sim e isso está se tornando um requisito, não um diferencial. A busca por eficiência energética, uso de fontes renováveis, redução de emissão e práticas sólidas de governança tem se tornado obrigatória, especialmente para atrair investidores estrangeiros.

O setor avança em soluções como sistemas mais eficientes de resfriamento, energia solar, reaproveitamento térmico e monitoramento contínuo de consumo. ESG deixou de ser conceito para se tornar critério estratégico no desenvolvimento e operação de data centers no mundo inteiro e o Brasil está entrando nessa onda de forma acelerada.

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