A RSM Brasil está fechando 2025 maior, mais capilar e com ambições claras para 2026. É o que afirma o CEO Laércio Soto. Em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY, ele resumiu a estratégia em três eixos: foco no middle market com atendimento de alta proximidade, abertura de escritórios próprios em novos polos econômicos e um programa de especialização que replica, em escala, a abordagem das grandes firmas, sem abrir mão do modelo de partnership. “Definimos middle market menos pelo faturamento e mais pela forma como o cliente quer ser atendido. É olho no olho, problema do cliente é problema nosso”, disse.
No desenho societário, nada muda com movimentos internacionais da rede. A operação brasileira segue como firma-membro, submetida a auditorias anuais de qualidade e à adoção integral de metodologias globais. A unificação de marca (obrigatória desde 2016) elevou a lembrança de RSM no país, abrindo portas para contas maiores e consolidando a posição no segmento. “A padronização fortaleceu a marca aqui e lá fora”, afirmou Soto.
O negócio tem crescido sustentado por carteira diversificada e disciplina comercial. A RSM atende mais de 1,3 mil companhias em setores como infraestrutura, real estate e construção, saúde, óleo e gás, agro e indústria, além de um braço robusto dedicado a fundos. Segundo o executivo, a firma é hoje a segunda maior em auditoria de fundos estruturados em métricas acompanhadas pela CVM, atrás de uma Big Four. Para dar conta da demanda, a organização montou times especializados por vertical e por serviço: quem audita fundos só faz fundos; quem conduz diligência não faz auditoria; quem toca BPO e contabilidade não transita para outras frentes. “Entregamos especialistas, não generalistas. O resultado é serviço mais profundo e boca a boca que funciona”, acrescentou.
Em 2025, a receita anual deve fechar na faixa de R$ 250 milhões, com crescimento médio de 20% ao ano nos últimos exercícios. A venda da operação de BPO em Alphaville para um player do setor retirou cerca de R$ 50 milhões do topo da linha, mas o avanço orgânico recompôs o patamar. “Desconsiderado esse efeito, o crescimento superou 20%, chegando a algo próximo de 28%”, diz Soto. O reforço de marca passou por iniciativas de mídia out-of-home em aeroportos e carrinhos de bagagem, uma aposta de construção de reputação de longo prazo e de aquisição de novos clientes.
A expansão territorial é outra frente crítica. A empresa opera com duas bases em São Paulo (a sede administrativa na Barra Funda e a estrutura de BPO na região da Matarazzo) e consolidou escritórios próprios no Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Campinas, Salvador, Fortaleza e Ribeirão Preto, este último aberto para se aproximar do agro. Não trabalha com federações, franquias nem alianças regionais: cada praça nasce do zero, com equipe local. Para 2026, estão no radar Porto Alegre e Recife. Em paralelo, a RSM vem atraindo sócios experientes oriundos de Big Four e firmas second tier, interessadas no partnership e em um modelo de gestão menos centralizado. “Serviço não combina com empresa de dono. O partnership tem sido um ímã de talentos”, disse.
No mercado de capitais, a firma estruturou um time dedicado a companhias abertas, área em que tem crescido a reboque do rodízio obrigatório e da demanda por independência. O middle market “de grandes números” também faz parte do alvo: há clientes que faturam R$ 10 bilhões ou R$ 15 bilhões, mas optam por um atendimento mais próximo, algo que, segundo Soto, firmas muito voltadas ao topo da pirâmide têm dificuldade de replicar.
O pano de fundo macroeconômico adicionou novas linhas de receita em consultoria. A onda de tarifas e tensões comerciais reacendeu projetos de eficiência: review de fornecedores, renegociação, otimização fiscal com mapeamento de créditos legítimos e “fechamento de torneiras” operacionais. A reforma tributária ampliou a procura por simulações e planejamento. Para o executivo, a mudança é “uma reforma empresarial travestida de tributária”: ao atrelar o direito a crédito efetivo ao recolhimento na ponta, força toda a cadeia a operar em compliance e muda o jeito de fazer negócios no país. Ele vê impacto limitado no preço final (desde que todos cumpram a regra), mas alerta para o desafio de capital de giro com o split payment: o imposto retido no ato reduz o fôlego de caixa de varejistas e industriais, o que já aciona fundos interessados em ofertar soluções específicas de financiamento. No tabuleiro federativo, o fim gradual da guerra fiscal tende a concentrar operações no eixo de consumo, exigindo mecanismos de compensação para estados menos desenvolvidos.
Gente e tecnologia aparecem como alavancas simultâneas, não excludentes. A RSM Brasil encerra o ano com cerca de 1.050 profissionais e planeja novas contratações (foram aproximadamente 200 em 2025) mesmo com um investimento de R$ 60 milhões em cinco anos em automação, data analytics e inteligência artificial (em sintonia com um programa global bilionário em dólares). “IA não substitui a análise crítica. Pelo contrário, exige mais gente qualificada para interpretar melhor bases e sinais”, diz Soto. O gargalo está na escassez de contadores e auditores: há cursos encolhendo turmas e uma juventude menos inclinada às carreiras contábil e de assurance. A firma reage com trilhas tecnológicas, formação on the job e um regime de trabalho que combina presença e remoto, calibrado à cultura e ao grau de digitalização de cada cliente. A recomendação interna é 3×2 (três dias presenciais, dois remotos), mas a adesão varia. “Há tarefas que pedem chão de fábrica consultivo, frente a frente. Disciplina no home office é crucial, mas não substitui tudo”, afirmou.
Para 2026, a mensagem é de continuidade com intensidade: seguir crescendo acima de 20% via mix de share of wallet e aquisição de novas contas; consolidar o time de companhias abertas; avançar no agro e em infraestrutura; abrir Porto Alegre e Recife; e acelerar a atração de sócios seniores do mercado. Em paralelo, a RSM promete manter a filosofia que a trouxe até aqui: especialização, proximidade e execução. “Nosso diferencial não é promessa de PowerPoint. É estar perto, falar a língua do dono e entregar especialista que resolve”, acrescentou Soto.

