O mercado financeiro decidiu reavivar todas as apostas que havia desfeito há pouco tempo. Depois de resgatar dias atrás a expectativa majoritária de um terceiro corte seguido de 0,25 ponto pelo Federal Reserve na taxa de juros dos Estados Unidos, ontem foi a vez de reativar o rali da Inteligência Artificial.
Tudo então volta a ser como antes. Mas isso não significa uma ausência de mudanças no cenário. Os preços dos ativos mais amassados revelam cautela. A começar pelo Bitcoin, que não consegue recuperar a faixa dos US$ 90 mil. Em contrapartida, o dólar está mais forte – aqui, a cotação segue próxima à marca de R$ 5,40, enquanto o Ibovespa patina.
Esse comportamento das moedas reflete a realocação de recursos na reta final do mês em um ambiente de aversão ao risco com contornos mais amplos. Os investidores estão apenas tentando garantir os rendimentos de novembro ao retomar as previsões feitas ainda em outubro – mas sem muita convicção do que, de fato, pode acontecer em dezembro.
Afinal, a preocupação com o que virá desvia o foco das atuais dificuldades e desafios – que já são muitos. Por exemplo, o fim do mais longo shutdown do governo dos EUA não trouxe o alívio esperado e a bateria de dados prevista para hoje deve ter pouco impacto no mercado. Os indicadores mais esperados – PCE e PIB – foram novamente adiados.
Velhas previsões, pouca convicção
Internamente, o clima esquentou em Brasília. O Congresso decidiu romper com os respectivos líderes do governo nas Casas e ameaça votar pautas-bomba, gerando uma crise com o Executivo. O movimento parece estar relacionado com a mais recente indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à prisão preventiva de Jair Bolsonaro.
Enquanto isso, a tensão geopolítica escala. Apesar da conversa amistosa entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping – que resultou em um encontro presencial entre os dois em abril na China – o fato de Pequim ter colocado a guerra na Ucrânia e, principalmente, a questão de Taiwan em pauta mostra que mudanças estão em curso.
Assim, enquanto os mercados estão pensando em cortes nos juros – inclusive na taxa Selic, já que o Boletim Focus trouxe queda na projeção de 2026, para 12% – as repercussões globais ficam em segundo plano. É a forma como os investidores conseguem gerenciar a ansiedade – e ter pelo que agradecer no Thanksgiving.
No fim das contas, as velhas apostas voltam ao radar, mas sem a convicção necessária para ditar tendência. O mercado agradece, mas segue inquieto, resgatando aquilo que havia descartado até recentemente, apenas por causa da necessidade de ter alguma narrativa em que se apoiar.
Passeio pelo mercado
Os futuros das bolsas de Nova York amanheceram em baixa, com os índices acionários mostrando dificuldades em ampliar os ganhos da véspera. Na Europa, as bolsas também estão no campo negativo, apesar da sessão positiva na Ásia.
Entre as moedas, o dólar mede formas em relação às rivais, com o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) seguindo acima da marca de 100 pontos.
Nas commodities, o petróleo cai, mas o minério de ferro negociado em Dalian (China) fechou em alta. Já o ouro avança.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin segue em queda e abaixo dos US$ 90 mil.
Agenda do dia
Indicadores
- 8h30 – Brasil: Nota do setor externo (outubro)
- 10h15 – EUA: Pesquisa ADP de emprego no setor privado (semanal)
- 10h30 – EUA: Vendas no varejo (setembro)
- 10h30 – EUA: Inflação ao produtor – PPI (setembro)
- 12h – EUA: Estoque das empresas (agosto)
- 12h – EUA: Índice de confiança do consumidor – Conference Board (novembro)
- 12h – EUA: Vendas pendentes de imóveis (outubro)
Eventos
- 10h – Brasil: Gabriel Galípolo, presidente do BC, em audiência pública na CAE do Senado

