Grupo City do Brasil? Squadra Sports possui 5 times e atrai investimento de family offices

Primeira plataforma de multiclubes do País faz a gestão das agremiações Londrina-PR, Linense-SP, VF4-PB, Ypiranga-BA e Conquista-BA. Com a captação de aportes milionários, negocia a compra de times em Portugal e Uruguai

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Imagens: Rafael Martins/Londrina Esporte Clube

Ex-presidente do Bahia, Guilherme Bellintani montou o modelo de negócio voltado a formar e vender jogadores

Ex-presidente do Bahia, Guilherme Bellintani montou o modelo de negócio voltado a formar e vender jogadores

Guilherme Bellintani presidiu o EC Bahia de 2018 a 2022. Ele foi um dos responsáveis pela condução da venda do clube para o Grupo City, uma holding com sede no Reino Unido que possui 13 agremiações esportivas espalhadas pelo mundo — a mais bem-sucedida delas, o Manchester City, da Inglaterra. Após a venda e a consequente transformação do tricolor baiano em SAF (Sociedade Anônima do Futebol), Bellintani poderia ter atuado como chairman da instituição. Não quis. Poderia também ficar na arquibancada tomando sua cervejinha e xingando o treinador, como o torcedor fanático que é. Também não quis.

Com a experiência adquirida em um ano e meio de contato com o Grupo City, resolveu criar sua própria plataforma multiclubes. Assim surgiu a Squadra Sports, que já possui cinco agremiações esportivas no Brasil, tem atraído aportes de family offices, mira comprar um clube em Portugal e outro no Uruguai, e pretende concluir um investimento de R$ 150 milhões até 2029.

No projeto, dois pontos são destacados pelo executivo: “Primeiro, voamos abaixo do radar, pois compramos ativos que não estão no topo da valorização. Segundo, não precisamos de clubes de massa — nosso negócio é vender jogador, não é entretenimento”, disse Bellintani, ao ressaltar que a torcida e a conexão dos clubes com as cidades onde estão localizados também são importantes. Mas, no fundo, é negócio.

Sob o guarda-chuva da Squadra Sports estão os times profissionais do Londrina (Paraná), que acaba de subir para a Série B do Campeonato Brasileiro, e o Linense, que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista.

Um dos clubes da Squadra Sports é o Londrina EC, que acaba de subir para a Série B do Campeonato Brasileiro
Um dos clubes da Squadra Sports é o Londrina EC, vice-campeão da Série C, com vaga para a Série B do Campeonato Brasileiro

Também estão sob sua gestão as categorias de base do VF4 (João Pessoa-PB), do Ypiranga (Salvador-BA) e do Conquista (Vitória da Conquista-BA). No pipeline dos negócios, estão na mira um clube português e um uruguaio.

Sempre com a mesma estratégia: adquirir equipes desvalorizadas e endividadas — oportunidades de negócio que permitem investir na instituição, em sua infraestrutura e em jogadores. Com resultados dentro de campo, vêm as vendas dos atletas.

Um modelo inspirado no Grupo City, sem os bilhões de dólares da holding britânica, mas com alguns milhões de reais em investimentos.

Seja do próprio bolso de Guilherme Bellintani — empresário do ramo de educação, dono de duas escolas e três faculdades na Bahia —, seja com aportes de investidores, a maioria family offices, que já investiram R$ 31,5 milhões, o equivalente a 15% de um valuation de R$ 210 milhões.

“A intenção é captar até 49% para serem sócios da nossa estrutura”, frisou o empresário. “Temos buscado principalmente investidores que tenham paciência, que entendam que é um negócio de longo prazo.”

No campo esportivo, já são 45 atletas filiados à Squadra Sports atuando em outros clubes brasileiros e do exterior. Nos próximos cinco anos, a meta é alcançar 1.000 jogadores conectados à plataforma multiclubes, sendo 750 em times da Squadra e 250 profissionais fora do grupo.

A longo prazo, o objetivo é ser a principal exportadora de jogadores brasileiros, priorizando o volume de negociações. Na prática, trata-se de colocar gestão empresarial — muito baseada em dados — onde há muita subjetividade. Afinal, quem nunca viu o time perder um campeonato por uma bola na trave ou uma falha da defesa?

“Colocamos métrica em tudo”, salientou Bellintani, que conhece tanto o mundo do torcedor que corneta da arquibancada quanto o do cartola que toma as decisões na sala com ar-condicionado. Um diferencial pessoal que tem surtido efeito positivo dentro e fora de campo.

Breakeven

O Londrina sagrou-se recentemente vice-campeão da Série C do Campeonato Brasileiro e garantiu o acesso à Série B no ano que vem. A vaga foi conquistada com a 12ª maior folha salarial do torneio, disputado por 20 clubes.

“Colocamos capital externo para termos competitividade. Prevíamos alcançar esse resultado em três anos, mas conseguimos logo no primeiro. Quando alcançamos a Série B, chegamos ao breakeven. Essa é nossa tese de negócio”, disse Bellintani, ao ressaltar ainda que o acesso antecipado reduziu também a necessidade de caixa da Squadra Sports, que objetiva manter o Londrina na Série B por três anos consecutivos.

Pés no chão é outra característica da Squadra. “Queremos fortalecer o clube. Construir nosso centro de treinamento, pagar as dívidas. Não queremos antecipar processos e colocar tudo a perder.”

Assim também será quando o Linense chegar à Série A1 do Campeonato Paulista. “Em 2029, todos os meus veículos — os clubes — precisam estar em breakeven. E o lucro do negócio, no resultado econômico, é a venda do jogador”, afirmou o executivo.

Em quatro anos, com mil atletas na plataforma, se vender cerca de 15 deles por ano — ou seja, 1,5% dos ativos —, o resultado esperado pela Squadra Sports será atingido. “E essa meta não é nenhum absurdo”, afirmou.

Infraestrutura

Além de organizar a administração e olhar para o desempenho do futebol dentro de campo, a visão da Squadra Sports também passa por melhorias na infraestrutura dos clubes que adquire.

Nesta temporada, tiveram início as obras do novo centro de treinamento, com investimento de R$ 17 milhões. O estádio do Londrina também foi reformado — e, com isso, a gestão conseguiu triplicar a média de público. O Linense também terá um CT revitalizado.

Com uma curta trajetória — três anos à frente da Squadra Sports —, Guilherme Bellintani tem observado que a SAF é importante, mas “não é remédio para tudo”.

“Remédio é a boa gestão. A tendência é que a SAF gere uma gestão melhor do que a do associativo. É uma tendência. Mas tem associativo que é melhor gerido do que SAF. O modelo jurídico não é uma garantia de sucesso. Ele fortalece, mas não é uma garantia”, afirmou o executivo.

A Squadra Sports tem atuado para ser uma das referências em clube-empresa no Brasil, diante de um cenário desafiador. Segundo Bellintani, depois de um momento de entrada de muito dinheiro no futebol brasileiro — a partir das bets, das vendas de cotas comerciais para ligas e da consolidação das SAFs —, o mercado da bola, que foi inflacionado, tende a se estabilizar.

“O mercado brasileiro ficou muito mais caro. Mas o mesmo jogador que ganhava R$ 100 mil por mês agora está ganhando o dobro ou o triplo. É o mesmo jogador. O futebol dele não qualificou, necessariamente”, avaliou.

Segundo Bellintani, o setor vai se ajustar a partir de 2026. “Para mim, isso tudo é oportunidade. Onde há um projeto mais estruturado e racional, tende a se destacar. Nenhum clube brasileiro é meu concorrente. Todos são meus clientes. Quero negociar jogador para eles”, destacou o executivo.

Pelo andamento da Squadra Sports, as cornetas ao Bahia de Rogério Ceni, enquanto toma sua cervejinha na arquibancada da Arena Fonte Nova, vão ficar para daqui a muitos anos.

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