Os 30 anos da primeira safra do ícone chileno Almaviva serão celebrados em 2026. No Brasil, um dos três principais mercados da marca, as comemorações já começaram. Na noite de 12 de novembro, São Paulo recebeu uma programação especial que reuniu os atuais guardiões da parceria iniciada em 1995 pela baronesa Philippine de Rothschild com Don Eduardo Guilisasti Tagle, então presidente da Viña Concha y Toro.
Para contar a história desse vinho espetacular, que já foi considerado o “melhor da dácada” pelo crítico James Suckling e obteve 100 pontos em duas safras consecutivas, somaram-se diferentes perspectivas: da ligação emocional que une as duas famílias proprietárias à visão técnica do enólogo Michel Friou. Na empresa há 18 anos, de desde 2010 ele é responsável pela excelência que mantém Almaviva entre os maiores do planeta.

Friou apresentou oito safras, incluindo a inaugural, de 1996, que ainda hoje demonstra surpreendente frescor e vivacidade. Seguiram-se as de 2005, 2010, 2015, 2018, 2021 e 2022 antes de apresentar a inédita 2023. A mais recente reforça a direção do que os proprietários têm buscado nos últimos anos: vinhos que podem ser tão longevos quanto o da primeira safra, mas que estejam prontos para beber assim que chegam ao mercado. “A cada ano cuidamos mais dos detalhes desde a colheita até a vinificação. Isso se traduz, entre outras coisas, em taninos de menos aspereza”, disse o enólogo.
Segundo ele, são usados cerca de 75 lotes de vinificações distintas, extraídos de uvas colhidas em datas específicas de acordo com a maturação das uvas. Com um blend de Cabernet Sauvignon (74%), Carménère (19%), Cabernet Franc (5%O e Petit Verdot (2%), o Almaviva 2023 estagiou 20 meses em barricas de carvalho francês. “Estamos muito contentes com essa safra, que mostra como o terroir de Puente Alto, mesmo em anos difíceis, não perde sua elegância”, afirmou Friou, referindo-se ao ano que teve temperaturas acima da média na região onde o vinho é produzido, vizinha a Santiago.
Antes da degustação conduzida por Michel Friou, Philippe Sereys de Rothschild, presidente da Baron Philippe de Rothschild SA, abriu a cerimônia no Palácio Tangará, em São Paulo, com bom humor e sinceridade. Lembrou o conselho que sempre ouviu da mãe: “Para ter uma empresa de sucesso, contrate pessoas capazes de fazer o que você não pode. Eu não falo português, por isso nós temos aqui o Manuel Louzada, nascido em Portugal”, brincou, referindo-se ao CEO da Almaviva. Mas foi ao relembrar o início da parceria com a Concha y Toro que Philippe revelou a essência o que considera ser o sucesso deste vinho: seus três Ps. “O primeiro P é de Paciência para construir um projeto de longo prazo; o segundo é de Pessoas, capazes de transformar o terroir em garrafa; e o terceiro, Paixão sem a qual não se cria um grande vinho”. Para ele, Almaviva tem sido uma aventura de paixões com grandes parceiros.
Irmão de Philippe por parte de mãe, Julien de Beaumarchais de Rothschild, membro do conselho de administração da Viña Almaviva, conduziu a plateia por uma viagem que uniu literatura, música e história. Contou que o nome Almaviva foi escolhido em 1997 para evocar a dupla herança franco-hispânica do vinho. O personagem Conde Almaviva, criado por seu ancestral direto, o dramaturgo Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, aparece em “O Barbeiro de Sevilha” e “As Bodas de Fígaro” – que inspirou Mozart a compor uma de suas óperas mais populares.
Segurando uma garrafa de Almaviva, Julien explicou o rótulo que traz símbolos da cultura Mapuche, civilização pré-hispânica para entende a Terra e o Cosmo como um só. Criado pelo designer Matías del Río com base na simbologia do número quatro (quatro elementos, quatro estações), o desenho que estampa o rótulo de Almaviva reforça a singularidade cultural que não encontra paralelo em outros grandes vinhos do país. Para Julien, é também um espelho chileno dos grand crus da família Rothschild, um vinho que combina a elegância de Bordeaux com a energia dos Andes. Mas, acima de tudo, é fruto de uma amizade: “A amizade entre nossas famílias e a dos nossos queridos amigos chilenos, que nos acolheram com tanta generosidade. Viva Almaviva!”, celebrou.
Representando a Concha y Toro, Rafael Guilisasti Gana recuperou a cronologia da parceria: o acordo assinado em 1995; a primeira safra, em 1996; o lançamento, em 1998. E destacou um ponto que poucos percebem: a sintonia histórica entre as duas casas. No final do século XIX, enquanto os Rothschild consolidavam sua tradição em Bordeaux, Don Melchor fundava, em Santiago, a Viña Concha y Toro. “Essas duas tradições vitivinícolas estão intimamente ligadas”, observou, sublinhando que o “espírito original” de Almaviva se mantém intacto desde sua concepção.
Manuel Louzada, CEO da Almaviva, trouxe a discussão para o presente. Explicou que, por razões de sustentabilidade e logística, a marca passou a enviar ao Brasil apenas vinhos embarcados diretamente do Chile, um movimento que impulsionou o crescimento das vendas no país. Hoje, o Brasil figura entre os três mercados mais relevantes para a Almaviva, posição alcançada graças ao trabalho de distribuição, ao crescente interesse do consumidor brasileiro por grandes vinhos e, como fez questão de destacar, à atuação do enólogo Michel Friou, peça central na consolidação da marca no país.
Amparado pelo savoir-faire francês, enraizado na profundidade do solo chileno e cultivado por uma parceria que resiste ao tempo, Almaviva segue cumprindo seu destino: o de ser um vinho que nasce da junção de duas culturas, duas histórias e duas famílias movidas pela mesma paixão. E que, três décadas depois, continua a viver à altura de seu nome: a alma viva que evolui em cada taça.

