Um novo estudo que analisou 150 tarifas dos Estados Unidos e em outros países concluiu que elas causam tamanha disrupção na economia e nos mercados financeiros que o resultado acaba sendo uma inflação mais baixa. A conclusão contraria o senso comum sobre como impostos de importação afetam os preços e surge no momento em que as tarifas do presidente Donald Trump provocam uma crescente reação negativa entre americanos indignados com o aumento dos custos de alimentação, energia e seguros.
Mas se as conclusões do estudo estiverem corretas, Trump poderá eventualmente apontar para índices de inflação melhores, desde que consiga suportar uma economia e um mercado de trabalho mais fracos.
Em um working paper publicado na quinta-feira, os pesquisadores do Federal Reserve de São Francisco, Régis Barnichon e Aayush Singh, afirmaram que tarifas mais altas levam a menor atividade econômica, maior desemprego e inflação mais baixa no curto prazo.
“A resposta da inflação vai contra as previsões dos modelos tradicionais, segundo os quais a inflação ao consumidor deveria subir em reação a tarifas mais altas”, escreveram eles. “Em vez disso, choques tarifários parecem atuar como choques de demanda agregada, movendo inflação e desemprego na mesma direção.”
Uma possível explicação é que as tarifas criam um ambiente de incerteza que afeta a confiança de consumidores e investidores, deprimindo a atividade econômica e pressionando a inflação para baixo, de acordo com o estudo.
Outra possibilidade é que as tarifas provoquem uma queda nos preços dos ativos, o que também reduz a demanda, resultando em maior desemprego e inflação mais baixa.
“Encontramos evidências que sustentam ambos os canais: em resposta a tarifas mais altas, os preços das ações caem e a volatilidade do mercado acionário aumenta”, afirmaram Barnichon e Singh.
Antes da Segunda Guerra Mundial, eles observaram que um aumento permanente de quatro pontos percentuais na tarifa reduzia a inflação em dois pontos percentuais e elevava o desemprego em cerca de um ponto percentual.
Após a guerra, as estimativas são mais incertas, mas ainda apontam que aumentos tarifários reduzem a inflação e pioram o desemprego, acrescentaram.
Tarifas de Trump
Autoridades do governo sustentam há tempos que as tarifas de Trump não estão alimentando a inflação, embora o índice de preços ao consumidor tenha subido desde que ele lançou sua guerra comercial em abril.
Mas, na sexta-feira (14), Trump anunciou que está eliminando tarifas sobre carne bovina, café e uma série de outras commodities, depois que a indignação dos eleitores com a piora da acessibilidade aos bens essenciais resultou em derrotas surpreendentes para os republicanos nas eleições intermediárias deste mês.
Enquanto isso, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e outros formuladores de política monetária acreditam que as tarifas provavelmente produzirão um aumento pontual da inflação, que depois retomará sua trajetória de desaceleração.
Apesar dos temores de recessão, a economia tem se mantido resiliente em meio às tarifas de Trump, embora a recente paralisação do governo tenha interrompido a divulgação de indicadores importantes.
Depois de cair no início do ano, o PIB se recuperou fortemente e o consumo das famílias continua a crescer, impulsionado principalmente pelos americanos mais ricos. Da mesma forma, as ações despencaram quando Trump anunciou suas tarifas recíprocas, mas dispararam quando ele recuou das taxas mais agressivas, ao mesmo tempo em que o boom da IA impulsionou os papéis de tecnologia.
No entanto, o emprego desacelerou drasticamente, com as folhas de pagamento crescendo apenas 22 mil vagas em setembro. A ofensiva de Trump contra a imigração também contribui para esse mercado de trabalho com poucas contratações e poucas demissões.
Ainda assim, mesmo que a inflação volte a cair, isso pode não ser suficiente para os eleitores, que exigem melhora real na acessibilidade e querem ver os preços diminuírem, não apenas subirem mais devagar.
“As pessoas estão irritadas com a perda de acessibilidade e tendem a culpar os governos no poder por isso”, disse Paul Donovan, economista-chefe do UBS Global Wealth Management, em nota divulgada na sexta-feira. “É tentador pensar na acessibilidade como uma nova versão da ‘crise do custo de vida’, mas acessibilidade é algo sutilmente diferente e pode perdurar.”

