A COP sempre foi um ambiente no qual a diplomacia imperava. Acompanho esses eventos há anos, mas desta vez é radicalmente diferente. Como muito se fala, a COP30 é a COP da transformação. Mais do que isso, é, de fato, a COP da ação. Até porque sem sustentabilidade, não há mais negócios. E essa agenda transversal já é parte da estratégia financeira das empresas. Quem não entender isso vai ficar para trás.
Essa mudança na mentalidade de negócios vai alavancar a agenda, proporcionando mecanismo como uma nova sociobioeconomia. A natureza deixa de ser um passivo e passa a ser um ativo de extrema importância para diferentes stakeholders. Reforçando isso, o Fórum Econômico Mundial demonstrou recentemente que US$ 44 trilhões são moderadamente ou altamente dependentes do sistema de serviços ecossistêmicos e da natureza, o que evidencia o quanto o desempenho da economia está ligado à natureza, ou seja, metade do PIB global depende literalmente da natureza. Esse estudo indica inclusive que a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema serão o terceiro maior risco global na próxima década, atrás de eventos climáticos extremos e mudanças críticas nos sistemas da Terra.
Mas como tirar do papel? Não temos bala de prata ou uma receita mágica pré-definida. É preciso investir em tecnologia, inteligência e integração com as comunidades locais para deixar os processos mais eficientes e melhorar o ecossistema de negócios. Fora isso, também é imprescindível termos um ambiente colaborativo, multidisciplinar e multissetorial no qual governos, iniciativa privada, academias e sociedade civil se complementem numa mesma direção.
Trazendo para nossa realidade aqui e tendo a região norte como cenário por ser a sede da COP30, precisamos atrair investimentos, demonstrando para os stakeholders que existe uma economia criativa na Amazônia muito mais lucrativa do que sua devastação ou exploração predatória. Para isso, uma excelente iniciativa foi a criação do TFFF, Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que traz visibilidade global para a agenda de sustentabilidade junto de uma chamada à ação.
Ainda reforçando o potencial da Amazônia, um estudo feito em parceria da EY com o Instituto Amazônia 4.0 analisou a viabilidade da criação de hubs de inovação na região e mostrou um potencial para gerar até 620 mil empregos verdes diretos e R$ 8,3 bilhões por ano em valor agregado até 2035, sem contar o aumento da renda média das famílias extrativistas e inclusão socioprodutiva de povos originários e comunidades ribeirinhas. E não para por aí. O estudo ainda estima ser possível uma redução de até 40% nos custos logísticos, diminuição de 25% das perdas pós-colheita e descarbonização de 1,8 milhão tCO₂/ano com modais sustentáveis.
Os impactos da inação podem ser irreversíveis, mais do que a própria crise climática que nos acomete nos dias atuais. Nesses casos, é preciso investir na adaptação, principalmente das cidades, que concentram as emissões, os impactos e grande parte das soluções possíveis. Na prática, falamos também de temas como gestão de resíduos, saneamento e acesso à água.
Por fim, essa primeira semana da COP30 trouxe as questões de transparência e regulação como inegociáveis para que a natureza seja precificada como ativo de fato. Não basta querer ser sustentável; é preciso mensurar, reportar e verificar os resultados. O avanço das normas de disclosure (como as do ISSB – International Sustainability Standards Board) e a taxonomia de finanças sustentáveis são essenciais, pois fornecem a linguagem comum que o mercado financeiro global exige. Isso garante que o investimento verde seja realmente verde e permite que as empresas demonstrem, com dados verificáveis, a rentabilidade e o menor risco de seus ativos baseados na natureza. A implementação só será crível se houver um sistema robusto de prestação de contas que conecte o desempenho ambiental ao valor corporativo.
A transição climática e todas as pautas da agenda de sustentabilidade precisam ser, essencialmente, uma pauta colaborativa e integrada entre iniciativa privada, governo e sociedade civil. E a ação é agora com muito a se fazer!
*Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustentabilidade e CSO para América Latina da EY

