A notícia que Daniel Vorcaro, do Banco Master, não queria que fosse publicada

O banqueiro que tentou erguer um império de mídia para blindar sua imagem não conseguiu evitar que a realidade o alcançasse. Um ano depois de ordenar o recolhimento de uma edição inteira da IstoÉ Dinheiro, o bilionário viu se concretizar o alerta que tentara silenciar: o colapso do banco

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Imagens: Claudio Gatti/Brazil Economy

Vorcaro, preso desde a semana passada, mandou recolher revistas da IstoÉ Dinheiro para abafar os riscos do Master

Vorcaro, preso desde a semana passada, mandou recolher revistas da IstoÉ Dinheiro para abafar os riscos do Master

Em 11 de outubro de 2024, a IstoÉ Dinheiro viveu um episódio inédito em quase três décadas de circulação. A edição 1.401, que trazia a reportagem “Fundo Garantidor de Crédito em risco?”, foi retirada das bancas por ordem da própria Editora Três. Assinada pela repórter Jaqueline Mendes, a matéria detalhava os sinais de deterioração do Banco Master e os riscos que ele representava ao sistema financeiro.

O recolhimento, segundo diretores de redação da editora naquela época, teria sido determinação direta de Daniel Vorcaro, então controlador do Master e sócio oculto da família Alzugaray. Àquela altura, sua participação na editora era tratada como segredo, embora conhecida internamente. O episódio expôs o alcance de sua influência e antecipou sua estratégia: controlar narrativas e proteger o banco por meio de investimentos em comunicação.

Parte dos exemplares da IstoÉ Dinheiro recolhidos das bancas por ordem de Vorcaro
Parte dos exemplares da IstoÉ Dinheiro recolhidos das bancas por ordem de Vorcaro

O alerta publicado pela revista – e que Vorcaro tentou apagar – mostrava como o Master havia crescido de forma acelerada ao atrair clientes com CDBs que pagavam até 140% do CDI. A fórmula funcionou por um tempo: a carteira de captação saltou para R$ 45,6 bilhões em junho de 2024, mais de oito vezes o registrado três anos antes. Mas o modelo pressionou o sistema e levou o Banco Central a impor regras mais duras, como contribuições extras ao Fundo Garantidor de Crédito para instituições que dependiam demais desse tipo de emissão.

Enquanto a regulação avançava, o Master se aproximava do limite. O que muitos viam como expansão agressiva já era, para analistas, sinal de risco crescente.

Paralelamente, Vorcaro movimentava-se nos bastidores para construir um conjunto de veículos capaz de influenciar debates econômicos e políticos. Com o apoio dos parceiros Flávio Carneiro e Antônio Freixo, o “mineiro”, ele investiu em participações no Brazil Journal, nas operações digitais de IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, no portal PlatôBR e no site de Léo Dias. Também tentava assumir o comando do Correio Braziliense e do Estado de Minas usando precatórios para negociar dívidas fiscais dos Diários Associados.

A ofensiva não era apenas empresarial. Vorcaro buscava ampliar seu alcance político em Brasília, aproximando-se de figuras do centrão como Ciro Nogueira e Michel Temer. Nos bastidores, acreditava que uma combinação de influência política e presença midiática poderia destravar a venda do Banco Master para o BRB, negócio que havia sido barrado pelo Banco Central.

Na véspera de sua prisão, o grupo anunciou que seria vendido para a financeira Fictor e para investidores dos Emirados Árabes. Horas depois, antes que qualquer negociação avançasse, o Banco Central decretou a liquidação do Master e a prisão de Vorcaro, detido no aeroporto ao tentar embarcar para Dubai.

Mesmo diante de um dos maiores escândalos financeiros recentes, os veículos dos quais o banqueiro era próximo não noticiaram o fato. Até a publicação desta matéria, Brazil Journal, PlatôBR e IstoÉ ainda permaneciam em silêncio sobre o Master.

Geraldo Samor afirmou ao jornalista Leonardo Attuch, do Brasil 247, que é sócio apenas de Flávio Carneiro, não de Vorcaro, e que mantém independência editorial. Garante ainda que Carneiro e Vorcaro não são sócios entre si, embora Carneiro seja conhecido no mercado como operador do banqueiro.

Com a queda do Banco Master, a estratégia de controle da informação veio à tona de forma irônica: a mesma reportagem que Vorcaro tentou enterrar um ano antes acabou se confirmando integralmente. E a tentativa de construir um escudo midiático – de revistas recolhidas das bancas à aquisição de veículos – não foi suficiente para evitar o desfecho.

O episódio deixa uma marca profunda no setor financeiro e na imprensa brasileira: a lembrança de que, mesmo com poder e influência, a realidade sempre encontra seu caminho.

 

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