Além da constante preocupação da União Europeia com regulamentação, uso ético e responsável da Inteligência Artificial (IA), também podemos ver um crescente movimento explorando a intenção por trás das soluções de IA. Como ponto central está o movimento AI for Good, criado em 2017 pela União Internacional de Telecomunicações, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para tecnologias digitais.
AI for Good, ou IA para o Bem, conta hoje com múltiplos parceiros e tem como missão apoiar o desenvolvimento da IA em sinergia com desafios humanos e sociais. Entre exemplos relacionados a este movimento podemos citar o uso de IA pelo setor farmacêutico na descoberta de novos medicamentos, agilizando todo o processo de criação, experimentos e produção, o que beneficia toda a sociedade através da criação de novas alternativas de tratamentos para doenças conhecidas.
Outro exemplo é o uso de ferramentas de IA pelo serviço nacional de saúde do Reino Unido para acelerar a alta de pacientes, reduzindo o tempo que médicos gastam com papelada.
Joe Depa, CIO da EY Global, falou sobre AI for Good no World Summit AI 2025, em Amsterdã, neste mês de outubro. Ele reforçou o papel da iniciativa para impulsionar avanços tecnológicos e gerar impacto positivo na vida de pessoas e na sociedade.
Além de exemplos do efeito que o movimento pode gerar, Depa também destacou quatro pilares essenciais para capturar valor com IA: dados, garantindo acesso, qualidade, diversidade e ética; confiança, explorando mecanismos que estabeleçam credibilidade e legitimidade; valor, trazendo transparência e propósito para o que está sendo feito; e adoção, criando estratégias para proporcionar às equipes os conhecimentos e ferramentas necessários para escalar esse uso. Além disso, a governança foi colocada como eixo importante para desenvolvimento da IA. Segundo Depa, “governança não é para travar a inovação; é para acelerar com segurança por meio de guardrails claros”.
O Brasil tem participado desse movimento, com um plano até 2028 que envolve promover no País uma infraestrutura tecnológica avançada centrada no ser humano, acessível, sustentável tecnologicamente, transparente e responsável. Mais do que isso, o plano visa fomentar o desenvolvimento de IA orientada à superação de desafios sociais, ambientais e econômicos, movimento alinhado com a proposta da iniciativa da ONU. Além disso, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira entra como pilar de governança, oferecendo segurança e uso responsável dos dados.
Essas discussões sugerem uma tendência a discussões que envolvam propósito ao falar de IA. Ou seja, explorar o viés técnico/tecnológico com um olhar humano, ético e sustentável, trazendo transparência para o valor que se deseja gerar e levando em consideração as consequências da solução.
Para isso, práticas de governança focada em IA responsável, ecossistemas colaborativos e projetos focados em humanos são essenciais. Como resultados, empresas e organizações podem obter vantagem competitiva, gerar valor de longo prazo e credibilidade de marca.
*Nicole Davila é doutoranda em Ciência da Computação pela UFRGS. Ocupa o cargo de desenvolvedora backend e pesquisadora na Zup e atua na pesquisa e desenvolvimento de soluções com IA generativa e outras tecnologias voltadas à modernização de sistemas legados

