São quase 25 anos desde que o Brasil “inventou a moda” dos FIDCs e criou uma tendência de investimentos em direitos creditórios. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam que estes fundos alocavam cerca de R$ 630 bilhões no primeiro semestre deste ano, 18% a mais do que no mesmo período do ano passado. Surfando nesta maré que parece longe de acabar está a Ouro Preto Investimentos, surgida há cerca de 15 anos, e que se posiciona como uma das maiores gestora de terceiros do país. Especializada em diversos tipos de fundos, como de Private Equity, Multimercado, Imobiliários e, claro, de Direitos Creditórios, atualmente, a companhia tem cerca de R$ 13 bilhões sob gestão em sua carteira e administra aproximadamente 130 FIDCs. O BRAZIL ECONOMY conversou João Baptista Peixoto Neto, CEO da companhia, sobre o atual momento dos FIDCs no Brasil. Confira.
Quantos FIDCs temos no Brasil atualmente e qual a perspectiva de crescimento?
Temos 3.700 FIDCs no Brasil e a tendência é crescer muito mais. Desde que ele foi criado, o número de operações e o patrimônio líquido destes fundos cresce cerca de 25% ao ano. Claro que existem outras formas de se apostar em títulos de crédito, como as debêntures, mas no caso do FIDC a empresa precisa vender ou securitizar uma carteira inteira. Por exemplo, se uma montadora entra em um fundo, ela pode comprar os créditos dos financiamentos de veículos. É uma possibilidade de aproveitar qualquer espécie de crédito.
Qual a principal vantagem de investir em FIDC em relação a outros tipos de aplicações?
A principal vantagem é que ele supera qualquer outro título de renda fixa no Brasil, considerando a rentabilidade, se a gente olha em um prazo de 5 ou 10 anos. Isso se dá porque ele é um um crédito privado. É como se fosse uma renda fixa turbinada, já que vai pagar mais do que normalmente o investidor obtém apostando no título público ou em um papel mais tradicional, como de emissão de banco. Ele se torna mais atraente considerando o risco e o retorno.
Então esse interesse que vemos ano a ano nos FIDCs deve continuar?
Sem dúvida. Acredito que vai se transformar na segunda classe de fundos com maior patrimônio líquido no mercado. Ele já supera os fundos mobiliários e de ações e está superando o de investimento em participações. No Brasil, esse crédito estruturado só não vai superar os fundos de renda fixa.
Mesmo obrigatoriamente dando retornos maiores que os de renda fixa?
Sim, porque a renda fixa envolve títulos públicos, com muita liquidez e por isso é difícil superá-lo. O CDI historicamente acompanha a Selic e supera qualquer outro título de investimento, como poupança, ações etc. Por isso que o Brasil é chamado de o país dos rentistas.
Diante disso, a iminente redução da Selic nos próximos meses não deve afastar investimentos em FIDCs?
Não vai atrapalhar, justamente porque este fundo dá uma rentabilidade superior a Selic. Ou seja, subindo ou reduzindo a taxa de juros, não muda a tendência de que este modelo de negócios só vai crescer mais.
Por ser um processo relativamente novo no mercado há uma necessidade maior de demonstrar transparência em uma operação de FIDC?
Sim, e eu destaco como exemplo a iniciativa da Uqbar, uma das grandes plataformas de finanças estruturadas do País, que lançou um prêmio para mostrar a importância de dar maior valor e transparência aos processos do mercado de direitos creditórios. Isso contou com o patrocínio da Ouro Preto Investimentos.
Qual outro país que é referência neste tipo de fundo?
Talvez não exista em outro país um tipo de fundo exatamente igual a esse, já que isso é uma invenção e regulamentação brasileira. Existem outros fundos de crédito privado e para podemos comparar o nosso com o deles temos que perguntar: qual a liberdade que existe em outros países para comprar ativos de créditos privados ou de securitização? Existem mercados que dão essa liberdade de maneira exemplar, como os EUA.
Desde quando você enxerga tração dos FIDCs no Brasil?
Eles foram criados em 2001 e os primeiros surgiram em 2002. Desde então foram crescendo, mas agora o crescimento é exponencial. É a curva J de todo produto novo e startups. Aos poucos vai se tornando conhecido, ganhando mercado e chega uma hora que isso ocorre de maneira mais rápida. Essa tração aumentou de dois anos para cá e vai aumentar ainda mais já que agora pode ser oferecido para investidores de varejo que é um público amplo, o que elevará sua popularidade.
Um dos exemplos mais populares de FIDCs no Brasil atualmente veio do esporte: este mês completa um ano que o São Paulo Futebol Clube deu início a um processo de reestruturação financeira via direito creditório. Como você vê essa experiência?
Acho que é um bom investimento e forma de captação de recurso para os times de futebol, já que eles podem antecipar os valores que tem que receber dos programas de sócio-torcedores ou bilheteria, por exemplo. Mas, eu destaco que uma das principais fontes são os direitos de transmissão de jogos, na TV aberta ou fechada, mas ainda mais do pay per view que, por ser um canal pago, é uma receita mais segura e feita por meio de contratos de longo prazo.