O ano de 2025 vai chegando ao fim e o balanço econômico dele ganha força entre os principais analistas de mercado do país. Ainda mais com o agitado 2026 que se avizinha carregando consigo as eleições presidenciais que trarão algumas das discussões econômicas mais recentes, como taxação de fintechs, aumento de IOF, atual patamar da Selic etc. Para entender um pouco mais sobre como a economia brasileira está e para onde vai, o BRAZIL ECONOMY conversou com Fernando Siqueira, ex-chefe de pesquisa de ações da Guide Investimentos e que no próximo mês completa um ano no cargo de estrategista-chefe da Eleven, uma das principais casas de análise do Brasil. Confira.
Você acredita que o atual governo vem fazendo um ajuste fiscal adequado?
Não há ajuste fiscal de fato no Brasil. As despesas seguem crescendo e os impostos vem sendo aumentados para poder pagar essas despesas.
Existe o temor no mercado de investimentos sobre a possibilidade de o governo Lula disparar os gastos públicos e perder o controle da máquina durante as eleições do ano que vem?
Isso é muito citado. Há limites para aumentos de gastos em anos eleitorais, então é um risco controlado, mas é um tema recorrente entre os investidores, o que gera desconforto.
Como você avalia a gestão de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda?
O ministro Haddad surpreendeu positivamente no início do mandato, conseguindo aprovar um plano para substituir o antigo regime de teto de gastos. Contudo, desde então sua atuação como ministro tem sido mais voltada para conseguir formas de financiar os aumentos de gastos ou reduções de impostos, como ocorreu com o Imposto de Renda recentemente, propostas pelo executivo e aprovado pelo legislativo. Em resumo, não há medidas relevantes, positivas ou negativas, que possa ser atribuída ao ministro.
Um dos temas mais polêmicos que o governo vem se envolvendo em relação ao mercado financeiro é a tentativa de taxas fintechs. Você acha realmente necessário?
Acho que o governo está constantemente em busca de tributar mais ou achar novos contribuintes. Principalmente pelo desejo de continuar gastando, o que gera a necessidade de ter mais receita. Fintechs é um grupo, Bets é outro. A ideia de liberar jogos, como cassinos, é outra. Não diria que é realmente necessário taxar fintechs, mas com o crescimento dos gastos é preciso aumentar a receita de alguma forma.
Quais as perspectivas para a Selic nas próximas reuniões do Copom?
Acreditamos que o Copom deve reduzir os juros em 2026 em função da queda da inflação e sinais cada vez mais claros de desaceleração econômica.
O número de empresas com ações em bolsa no Brasil é o menor dos últimos 4 anos. A que se deve isso?
Há mais fechamento de capital do que abertura, o que é normal. Os fundos não estão com muitas captações, pelo contrário, estão com resgate, o que tira pressão para novas ofertas. As empresas e bancos sabem disso e não vão correr para fazer muitas ofertas já que os preços estão baixos. O que ocorre é que as empresas mais endividadas, como GOL, Azul e COSAN estão emitindo ações para reduzir o endividamento. Em momentos de juros altos e valuations baixos, as empresas não tem interesse em vender suas ações na bolsa. Ao mesmo tempo, outras fecham capital, como o Banco PAN.
Como o senhor vê esta “onda” de FIDCs que vem sendo faladas atualmente?
Houve um grande aumento nos investimentos em crédito privado nos últimos anos. FDICs inclusive. Isso explica porque esse mercado ganhou atenção dos investidores, mídia. Quando o produto ficava restrito à investidores profissionais ou institucionais, ele chamava menos atenção. Mas há poucos casos de problemas já identificados neste grupo.
Nas últimas semanas, as relações entre Brasil e EUA se mostraram mais amistosas com reuniões bilaterais após a crise da tarifa imposta pelo governo Trump. Como isso deve impactar a taxa de câmbio nos próximos meses?
Deve ter pouco impacto. A maior parte da oscilação do Real em 2025 foi reflexo da depreciação do dólar que vem ocorrendo desde o início do ano e reversão da depreciação excessiva do Real no final de 2025. A taxação “extra” que foi anunciada em julho teve impacto no câmbio, mas isso já foi corrigido depois do governo Trump rever os produtos que seriam sobretaxados. Em resumo, a melhora da relação neste momento não deve ter muito impacto.
O que você destaca no atual momento da Eleven Research no Brasil? Quais os desafios?
A Eleven é uma empresa com mais de 10 anos de história e está atualmente focada em atender clientes institucionais como AAI, bancos, corretoras e outros players do mercado com conteúdos originais e de qualidade, contribuindo para melhorar a performance dos investimentos de nossos clientes. O maior desafio hoje é convencer os investidores que há boas oportunidades de investimento no Brasil, na RV, FII, RF, etc. Muitos investidores optaram por reduzir bastante o risco das carteiras nos últimos anos, ou migrar os investimentos para o exterior.