Nem Lula, nem Milei. O que move o mercado financeiro tem nome e sobrenome: Donald Trump. Os investidores estão otimistas com o encontro entre o presidente dos Estados Unidos e da China, Xi Jinping, na quinta-feira (30). Esse sentimento sustenta o apetite por risco, que é reforçado pela expectativa de corte dos juros pelo Federal Reserve amanhã.
Mas a esperança de que a China aceita afrouxar os controles sobre a exportação de terras raras e concorde em pressionar a Rússia a encerrar a guerra na Ucrânia – sem, em troca, receber o compromisso dos EUA de suspender as restrições à exportação de semicondutores avançados – é, no mínimo, ingênua.
“Em linguagem de mercado, isso seria XACO, não TACO”, escreveu o estrategista sênior de mercado do Rabobank, Benjamin Picton. Na tradução livre, a estratégia que impulsiona os ativos de risco após a queda causada por ameaças tarifárias vindas de Washington dá lugar à aposta de que não é “Trump quem sempre volta atrás”: é o Xi quem irá ceder.
Mas a história ensina: a China aprendeu que não deve se curvar às potências estrangeiras. Mais que isso, sabe negociar – e sempre recebe primeiro para pagar depois. Foi assim após o Século da Humilhação e também nos anos 1970, quando o aperto de mãos entre Richard Nixon e Mao Zedong só aconteceu após a troca de cadeira na ONU, saindo Taiwan e entrando a República Popular.
Mercado se humilha
Talvez por isso os mercados estejam trocando o XACO Trade pela cautela nesta terça-feira (28), com sinais de que o modo risk on teve curta duração. Afinal, o controle de exportação de terras raras da China não é menos inegociável do que as restrições de exportação de Inteligência Artificial (IA) impostas pelos EUA.
Portanto, o mais provável após o grande encontro desta semana em Seul é que a suspensão de tarifas recíprocas seja prorrogada. Além disso, de um lado, os EUA devem cancelar a taxação relacionada ao fentanil; de outro, a China deverá comprar mais produtos agrícolas dos EUA – em especial a soja, o que serve de alerta para o agro brasileiro.
Aliás, as manchetes animadas sobre o encontro entre Lula e Trump no último domingo (26) já deram lugar à mensagem de que a promessa de desarmar o tarifaço contra produtos nacionais será dura. Assim como esperam da China concessões significativas, os EUA querem que o Brasil ceda em setores estratégicos para aliviar as tarifas.
No entanto, a China e o Sul Global aprenderam a lição deixada por Keynes, no clássico As consequências Econômicas da Paz (1919), de que em vez de impor, deve-se buscar alternativas; ampliando, em vez de restringir, integrando, em vez de isolar. Para os mercados, vale o alerta de Keynes: a vitória se esvazia quando os vencedores perdem o senso de humildade.
Passeio pelos mercados
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram na linha d’água, sem rumo definido. A mesma falta de direção se dá na Europa, enquanto na Ásia, o dia foi negativo.
Entre as moedas, o dólar perde terreno em relação às moedas rivais, com o índice DXY (cesta de moedas de economias avançadas) afastando-se da faixa de 99 pontos.
Nas commodities, o petróleo cai forte, enquanto o minério de ferro negociado em Dalian (China) subiu mais 2%, indo além do patamar de US$ 110. Por sua vez, o ouro afasta-se ainda mais da marca de US$ 4 mil a onça-troy, perdida ontem.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin também recua.
Agenda do dia
Balanços
- Brasil: Hypera (após o fechamento)

