A venda de carteiras inadimplentes, antes concentrada em grandes bancos, tem se expandido para diferentes segmentos nos últimos anos. O movimento, que já alcançou varejo, bancos digitais e cooperativas, agora ganha força também no setor educacional. De acordo com levantamento da Recovery, fintech do Itaú especializada em recuperação de crédito, até agosto de 2025 foram vendidos R$ 989,9 milhões em carteiras inadimplentes de instituições de ensino. O montante representa um crescimento de 73% em relação a 2024, quando o total chegou a R$ 572,9 milhões.
A empresa administra atualmente a renegociação de dívidas de 327,8 mil brasileiros com instituições de ensino, número 52% superior ao total registrado no ano anterior. Para especialistas, esse avanço reflete a entrada de novos players e o interesse crescente do setor educacional em utilizar o mercado de NPL (Non-Performing Loan) como alternativa para antecipar receita, reduzir riscos e melhorar a liquidez. O modelo é especialmente relevante diante da necessidade das instituições em oferecer linhas de crédito para o parcelamento de mensalidades de cursos de ensino superior.
“O crescimento é um reflexo da entrada de novos players do setor de educação e evidencia o interesse deste segmento em explorar o mercado de NPL. As instituições buscam alternativas para antecipar receita, reduzir riscos e melhorar a liquidez, já que precisam ofertar crédito aos alunos”, afirmou Plínio Ribeiro, head comercial e de aquisição de carteiras na Recovery.
Outro dado que chama a atenção é a elevação do valor médio das dívidas. Em 2025, o tíquete médio atingiu R$ 3.006,00, alta de 12% em relação ao ano anterior, quando era de R$ 2.677,00. Segundo Ribeiro, o avanço está ligado ao aumento da idade média dessas carteiras. “Em 2024, o aging médio era de quatro anos e, em 2025, passou para seis anos. Apesar de serem dívidas mais antigas, esse comportamento é natural, já que as instituições costumam ceder primeiro os créditos mais antigos de seu portfólio”, afirmou. “Ainda que poucas instituições de ensino tenham adotado esse mecanismo, outras avaliam possíveis vendas, o que mostra aquecimento no setor.”
O mercado de NPL no Brasil vem em trajetória de crescimento consistente. Em 2019, apenas 15 cedentes operavam nesse segmento. Atualmente, já são mais de 45 instituições que negociam carteiras de dívidas em atraso como forma de gerar liquidez imediata. Na prática, essas empresas antecipam recursos que poderiam levar anos para retornar ao fluxo de caixa. Todas as transações são regulamentadas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que garante segurança jurídica ao processo.