CEO da Argo Energia desde outubro do ano passado, André Moreira possui mais de 35 anos de experiência em liderança, o que lhe rende amplo conhecimento em governança corporativa e experiência internacional. O executivo participou do programa CEOx1dia, idealizado pela consultoria estratégica global Odgers Berndtson, e que neste ano teve sua 11ª edição no Brasil, encerrada com jantar comemorativo no dia 21. Nesta entrevista ao BRAZIL ECONOMY, parceiro de mídia do projeto, Moreira fala sobre a troca de ideias e experiências com a estudante que lhe acompanhou durante um dia de sua agenda, a importância desse processo de aprendizado, as decisões mais difíceis que já tomou na carreira e o que espera de jovens talentos que entram na companhia.
O que o programa acrescentou para sua empresa e para sua própria carreira?
O CEOx1dia é uma experiência valiosa em várias dimensões. Para a Argo, é a oportunidade de abrir nossas portas e mostrar como funcionamos, não apenas do ponto de vista técnico ou estratégico, mas também sob a perspectiva da nossa cultura. Acolher jovens talentos como a Lorena é reforçar que acreditamos na colaboração, no diálogo entre gerações e na construção de um setor mais sustentável e humano.
Para mim, pessoalmente, o programa é uma oportunidade de renovação. Tenho mais de 35 anos de trajetória em liderança, mas continuo aprendendo todos os dias. Estar ao lado de uma jovem que representa o futuro da liderança me lembra da importância de manter a mente aberta, de ouvir com atenção e de estar disposto a ser inspirado também. É um exercício de humildade e propósito, que fortalece meu papel como líder.

Qual a diferença que um dia ao lado de um CEO pode fazer na trajetória profissional do estudante?
Eu acredito que a diferença pode ser muito significativa. Acompanhar um CEO por um dia pode parecer pouco, mas pode ser transformador, uma vez que significa ter acesso a bastidores que normalmente não são vistos. É um aprendizado que não está nos livros e possibilita observar como decisões são construídas, como prioridades são definidas e como equilibramos resultados com valores.
Mais do que entender processos, é perceber que a liderança exige escuta ativa, empatia e coragem. Muitas vezes, uma experiência como essa ajuda o estudante a enxergar novos caminhos para a sua carreira, ou até a confirmar a importância de alinhar sua trajetória profissional com seus valores pessoais. Um único dia pode plantar sementes que frutificam por toda a vida.
Qual o principal ensinamento que passou para o estudante que o acompanhou?
Procurei mostrar à Lorena que a essência da liderança é, antes de tudo, responsabilidade com pessoas. É claro que precisamos entregar resultados, garantir eficiência operacional e buscar inovação. No entanto, tudo isso só se sustenta quando construímos confiança, escutamos de verdade e criamos um ambiente seguro e colaborativo.
Compartilhei com ela que, na Argo, nosso compromisso é sempre colocar a vida em primeiro lugar. Isso significa cuidar do bem-estar físico e psicológico das pessoas, promover ambientes acolhedores e cultivar relações transparentes. Se tivesse que resumir em uma frase, eu diria: liderar é equilibrar estratégia com humanidade.
E o que o estudante lhe ensinou nesse processo?
A Lorena me ensinou muito sobre o poder da curiosidade, a importância de manter a mente aberta, de olhar além do imediato e de continuar aprendendo todos os dias.
Suas perguntas foram profundas e sempre conectadas a uma visão de futuro. Isso me lembrou que a nova geração busca não apenas boas carreiras ou respostas, mas fundamentalmente propósito e impacto real. Eles querem contribuir para um mundo mais justo, inovador e sustentável.
Essa postura me inspira a continuar olhando para a frente, a manter a capacidade de aprender com diferentes perspectivas e a valorizar a energia transformadora que os jovens trazem. Liderança também é saber ouvir, e esse dia representou uma lição prática disso.
Qual foi a decisão mais difícil que você já precisou tomar como CEO?
Na minha trajetória, enfrentei muitas decisões difíceis. Elas fazem parte da jornada. Mas as mais desafiadoras, sem dúvida, são aquelas que envolvem pessoas. Mudar rotas de projetos, reavaliar investimentos, arquitetar estratégias, tudo isso é desafiador. Mas lidar com vidas humanas exige um extraordinário equilíbrio entre firmeza, retidão e empatia.
Uma decisão difícil é aquela que não tem apenas números envolvidos, mas expectativas, histórias e sonhos. Sempre procuro agir com transparência, comunicar de forma clara e colocar os valores acima de qualquer resultado imediato. Essas escolhas moldam a cultura de uma empresa e definem o tipo de liderança que busco exercer.
O que procura em jovens talentos que entram na sua empresa?
Procuro atitude. Conhecimento técnico é importante, mas é algo que se aprende com tempo e dedicação. O que faz a diferença é a postura: sede de conhecimento, coragem para questionar, senso de colaboração e disposição para assumir responsabilidades.
Na Argo, valorizamos muito o senso de dono, a ética, a escuta ativa e o respeito. Jovens que chegam com esse espírito encontram um ambiente fértil para crescer. Acredito que o futuro da nossa empresa, e do setor de energia como um todo, depende de pessoas que tragam novas ideias, mas que também saibam trabalhar em equipe para transformar essas ideias em realidade.
Qual hábito ou rotina pessoal mais ajuda você a tomar boas decisões?
O ciclismo é uma das grandes paixões que descobri pela vida, e ele influencia muito minha forma de liderar. Quando estou pedalando, encontro um espaço de clareza, foco e disciplina. O esporte me ensina diariamente sobre resiliência, preparo e sobre a importância de respeitar o ritmo.
Essas lições se refletem diretamente nas minhas decisões como CEO. Às vezes, a subida é longa e exige paciência; outras vezes, o trajeto pede velocidade e coragem. O importante é manter o equilíbrio e nunca perder de vista o objetivo final. Como meu foco não é competitivo, pedalo não para vencer, mas para continuar pedalando. E é assim que vislumbro a perenidade de uma empresa e o legado com o qual procuro contribuir: uma jornada de longuíssimo prazo, sem linha de chegada.
Além disso, pedalar me traz energia e bem-estar, o que considero fundamental. Um líder só toma boas decisões quando está íntegro física, mental e emocionalmente. O ciclismo é a forma que encontrei de me manter conectado a essa convicção.
Quais são os maiores desafios de ser CEO hoje?
Ser CEO hoje significa lidar com um mundo em constante transformação. Os desafios são muitos: entregar resultados no curto prazo sem perder de vista a sustentabilidade de longo prazo, incorporar inovação sem comprometer a segurança e a estabilidade, e, sobretudo, cuidar das pessoas em um contexto de pressões e cobranças cada vez maiores.
O setor de energia vive uma transição importante, que exige responsabilidade social e visão de futuro. Nosso desafio é garantir que essa transformação aconteça de forma segura, ética e colaborativa.
Para mim, o maior desafio – e também a maior motivação – é equilibrar estratégia e humanidade. É ter clareza de propósito, mas também flexibilidade para se adaptar ao caminho.

