As exportações italianas de têxteis e vestuário para o Brasil somaram 77,9 milhões de euros em 2024, um crescimento de 5,2% em relação ao ano anterior, reflexo do apetite do país europeu pelo mercado sul-americano. De olho nesse movimento, a ICE – Agência Italiana para a Promoção no Exterior e Internacionalização das Empresas Italianas, ligada à Embaixada da Itália, realiza neste sábado (18), no Shopping Iguatemi São Paulo, o talk show “Esportare la Dolce Vita: Bello e ben fatto”. O evento, que integra o projeto global Os Dias da Moda Italiana no Mundo e conta com a chancela da SPFW, será mediado por Carlos Ferreirinha e contará com saudações de Paulo Borges, além da participação de Airon Martin, da Misci, Ana Neute, designer de mobiliário e objetos de decoração, e Ana Isabel de Carvalho, do OQVestir, entre outros convidados.
A proposta é reforçar o intercâmbio entre Brasil e Itália no universo dos produtos de alta gama, da moda à náutica, em um momento em que qualidade, autenticidade e tempo voltam ao centro do conceito de luxo. “O núcleo operacional das atividades no Brasil para apoiar a indústria da moda será representado por uma missão organizada pela Agência ICE para promover o conhecimento do mercado e identificar oportunidades de negócios por parte de associações empresariais italianas interessadas, que estavam ausentes do país há mais de vinte anos”, disse Milena Del Grosso, diretora para o Brasil da agência.
Segundo ela, durante a missão, a delegação italiana terá a oportunidade de se reunir com importadores, fabricantes, designers e influenciadores brasileiros para avaliar o potencial do mercado e abrir novas frentes de colaboração. “Em um contexto internacional cada vez mais complexo, a cooperação entre a Itália e o Brasil pode representar um modelo de sucesso para enfrentar os desafios globais e promover um futuro mais próspero e pacífico para todos. Esta missão para o mundo da moda representa a primeira implementação desses projetos”, afirmou Milena.
A executiva também destaca o papel estratégico do Brasil no plano de internacionalização da moda italiana. “O mercado brasileiro combina criatividade, sofisticação e uma crescente atenção à qualidade. Há um diálogo natural entre o design italiano e o estilo de vida brasileiro, ambos valorizam a beleza, o prazer e o tempo. Acreditamos que essa aproximação pode gerar oportunidades concretas para as empresas italianas e enriquecer o cenário de moda e design no Brasil”, acrescentou a executiva.
O evento ocorre em um cenário global de incertezas, marcado pela desaceleração do comércio e pelo tarifaço imposto pelo governo Donald Trump, que reacendeu tensões comerciais entre Estados Unidos, Europa e Ásia. Diante desse contexto, a Itália aposta na diversificação de mercados e no fortalecimento de laços com parceiros estratégicos como o Brasil, um país que combina crescimento no consumo de artigos premium com um ecossistema criativo em expansão.
O sistema da moda italiana, que engloba têxteis, vestuário e acessórios, é o segundo maior empregador do país, atrás apenas da engenharia mecânica, e responde por uma parcela expressiva do PIB, sustentando um superávit consistente na balança comercial. O setor mantém sua posição de destaque global graças à combinação de qualidade superior, inovação nos processos de produção e know-how artesanal transmitido por escolas e institutos de formação de ponta.
Essa estrutura produtiva é formada majoritariamente por pequenas e médias empresas conectadas em uma ampla rede de fornecimento, que inclui desde produtores de matérias-primas e componentes até modelistas e fabricantes de maquinário especializado. As atividades se concentram em sete regiões-chave: Toscana, Vêneto, Marcas, Lombardia, Campânia, Puglia e Emília-Romanha, responsáveis por mais de 90% das companhias e empregos do setor.
De acordo com um estudo da Cassa Depositi e Prestiti de 2024, o PIB total da cadeia da moda italiana representa cerca de 5% do PIB nacional, com valor agregado de aproximadamente 75 bilhões de euros. O setor emprega mais de 1,2 milhão de pessoas, abrangendo desde a confecção até o varejo e os serviços especializados.
Faturamento e exportações
O setor têxtil e de vestuário italiano registrou faturamento de 59,8 bilhões de euros em 2024, com exportações de 37,6 bilhões de euros, consolidando o país na quarta posição global, atrás apenas de China, Bangladesh e Alemanha. Já o setor de acessórios de moda, que inclui calçados, artigos de couro, peles e curtimento, reúne cerca de 10 mil empresas e 140 mil trabalhadores, com faturamento total de 30 bilhões de euros, dos quais 25 bilhões são provenientes das exportações.
Entre os principais mercados de destino estão Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul, Hong Kong, Reino Unido, Emirados Árabes e Suíça. Dentro da União Europeia, França e Alemanha continuam sendo grandes parceiros, em parte devido à produção italiana para marcas francesas de luxo.
A Itália é o terceiro maior exportador mundial de calçados, atrás apenas de China e Vietnã, o terceiro em artigos de couro, atrás de China e França, mas líder na exportação de cintos. No setor de curtimento, é a maior exportadora mundial, e em peles, ocupa o segundo lugar, atrás apenas da China. No total, o país responde por 9,7% das exportações globais de acessórios de moda.
A indústria de óculos, outro símbolo do design italiano, reúne cerca de 820 empresas e 18.500 funcionários, gerando um valor de produção superior a 5,6 bilhões de euros e exportando 90% de sua produção. No primeiro semestre de 2025, as exportações italianas de óculos para o Mercosul somaram 35 milhões de euros, número estável frente ao ano anterior.
Em um mundo impactado por políticas protecionistas e crises geopolíticas, a moda italiana busca reafirmar seu papel como ponte entre tradição e inovação, entre cultura e economia. O projeto Os Dias da Moda Italiana no Mundo, ao desembarcar em São Paulo, simboliza mais do que um evento de luxo: é um gesto de aproximação econômica e cultural entre duas nações com vocação criativa e espírito empreendedor.
Para a Itália, que enfrenta desafios de competitividade global, o Brasil surge como uma oportunidade concreta de expansão e de fortalecimento da imagem do “Made in Italy”. Já para o mercado brasileiro, a parceria representa acesso a conhecimento técnico, design de ponta e uma filosofia que valoriza o tempo, o processo e a durabilidade, pilares da chamada “Doce Vida” da moda.