O mercado financeiro tenta manter o otimismo cauteloso, em meio à expectativa de flexibilização nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Enquanto aguardam o grande encontro de Donald Trump e Xi Jinping, na semana que vem, os investidores refazem as estimativas para a inflação no Brasil neste ano e o impacto disso nos mercados domésticos, após a Petrobras anunciar uma redução no preço da gasolina a partir de hoje.
Ainda que a queda no preço médio do combustível nas refinarias e bombas não mude as apostas para a taxa Selic em 2025, o impacto da medida sobre o IPCA é iminente. Cálculos apontam para um recuo de 1,6% no índice oficial de preços ao consumidor no mês que vem apenas sob este item. Com isso, a inflação acumulada no ano deve ficar dentro do intervalo de tolerância perseguido pelo Banco Central, isto é, de até 4,50%.
Juro aqui, juro lá
Daí por que o anúncio da Petrobras ontem animou o pregão local. O Ibovespa avançou e se aproxima da marca de 145 mil pontos, ao passo que o dólar caiu um pouco mais, afastando-se da faixa de R$ 5,40. Já os juros futuros devolveram prêmios, diante da percepção de um quadro inflacionário mais benigno.
Portanto, mesmo que o BC não faça nada agora, o mercado se antecipa e faz o trabalho pelo BC. Em outras palavras, os ativos de risco devem começar a embutir nos preços um ciclo de queda dos juros básicos já no início de 2026. Na conta, também entra a perspectiva de ao menos mais dois cortes do Federal Reserve na taxa dos EUA – um agora e o outro em dezembro.
Mas será mesmo que não cabem cortes na Selic antes do fim do ano? Ontem, o presidente Lula falou que o “BC vai precisar começar a baixar os juros”. Foi a primeira vez que ele subiu o tom desde o início do mandato de Gabriel Galípolo, indicado pelo governo. O aval do próprio Lula para as críticas teria sido dado no começo deste mês – e ele mesmo assumiu a frente do pelotão.
Alguma coisa está fora (do lugar)
Ou seja, a convicção de que o BC só agirá em 2026 pode ficar em xeque. A dúvida é se posição é mesmo do BC ou se é do mercado. Afinal, é difícil explicar por que a queda nas expectativas de inflação de 2025 a 2028, trazida ontem no relatório Focus, não resultou em revisão nas projeções da Selic no mesmo horizonte. Alguma variável econômica está fora do lugar – e se não forem os juros, nem o dólar, tende a ser o PIB.
Aliás, sobre essa variável é digno de nota a indagação lançada pelo jornal chinês South China Morning Post, após os dados do PIB: “Enquanto a China elabora seu próximo plano quinquenal, o PIB ainda é o número mágico?”. Se até mesmo a China começa a se perguntar “para que serve o PIB?”, isso mostra o quanto as economias emergentes estão desvinculadas de análises e projeções que se justificam apenas “por causa dos mercados”.
Passeio pelos mercados
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em baixa, sinalizando uma devolução de parte da alta da véspera, que não anima o pregão na Europa nem na Ásia, onde o desempenho é misto.
Entre as moedas, o dólar oscila em relação às moedas rivais. O índice DXY sobe. No acumulado do ano, porém, o dólar perde quase 10% frente à cesta de moedas de economias avançadas.
Nas commodities, o petróleo ensaia ganhos e o minério de ferro fechou em leve alta em Dalian (China). Já o ouro cai cerca de 2%, depois de testar nova máxima ontem. Em 2025, o metal precioso já sobe perto de 65%.
Entre as criptomoedas, o Bitcoin também recua.
Agenda do dia
Eventos
- China: Quarta Sessão Plenária do 20º Comitê Central do PCCh
- Brasil – Depois do fechamento: Vale divulga relatório de produção (3T25)
Balanços
- EUA: GM e Coca-Cola (antes da abertura)
- EUA: Netflix (depois do fechamento)