Fundação Dom Cabral e Insead celebram 35 anos e atualizam formação executiva

Programa de Gestão Avançada segue como eixo, com módulos no Brasil e na França. Agenda incorpora geopolítica, clima, IA e papel diplomático do CEO

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Imagens: Divulgação

Francisco Veloso, presidente do Insead, diz que mesmo com o recente retrocesso. estamos muito mais abertos

Francisco Veloso, presidente do Insead, diz que mesmo com o recente retrocesso. estamos muito mais abertos

A mineira Fundação Dom Cabral (FDC) e o francês Insead comemoram 35 anos de uma parceria que nasceu no bojo da abertura econômica do fim dos anos 1980 e se mantém viva ao adaptar conteúdo, método e propósito a um mundo mais complexo. O eixo histórico dessa colaboração é o Programa de Gestão Avançada (PGA), oferecido metade no Brasil, por professores da FDC, e metade no campus de Fontainebleau, na França, com docentes do Insead. Desde o início, o curso ocorre anualmente (com exceção de 2020 e 2021, devido à pandemia) e reúne turmas de cerca de 40 executivos.

“Naquele momento, era preciso arejar as empresas brasileiras. O PGA surgiu para formar quadros com visão moderna e humanista, conectados à internacionalização”, afirmou Antônio Batista, presidente da FDC. Segundo ele, a colaboração estruturou um portfólio que inclui, além do PGA, iniciativas como o MBA Executivo, o Programa de Desenvolvimento de Executivos (PDE) e o JEP, que inspirou o trilho de Liderança Transformadora na casa.

Se a parceria nasceu em plena globalização, hoje ela se reatualiza em um contexto de tensões geopolíticas, protecionismo comercial e dúvidas sobre o ritmo de integração. Para a FDC, trata-se de um movimento cíclico. “A globalização não tem fim. Ela oscila, como um eletrocardiograma, mas a curva é ascendente. Produtos, capitais e produção seguem integrando mercados. As economias precisam se conectar para crescer, gerar emprego e renda”, disse Bastista, em entrevista exclusiva ao BRAZIL ECONOMY. Ele ressalta o papel das metanacionais, companhias sem pátria definida e pouco interessadas em rupturas. “Elas atuam onde há mercado e estabilidade relativa, independentemente de fronteiras”, acrescentou.

Do lado do Insead, a leitura converge. “Mesmo com alguma regressão recente, continuamos muito mais abertos do que há 35 anos”, disse o português Francisco Veloso, presidente do Insead. Para ele, o valor da parceria está em combinar contexto local e visão global. “Somos uma business school for the world, mas sabemos que a realidade local faz diferença. Formar executivos brasileiros hoje é formar líderes capazes de ler o Brasil e o mundo.”

Essa “dupla leitura” molda a grade do PGA, redesenhada anualmente por diretores brasileiros e franceses, a partir de pesquisas dos docentes e da escuta de empresas e ex-alunos. A “matéria básica” (liderança, estratégia, mercados, finanças corporativas e operações) é discutida à luz de temas de fronteira: criptomoedas e o questionamento do dólar como referência global; a reconfiguração do comércio com novos tarifaços e o enfraquecimento da Pax Americana; o impacto da guerra e de choques geopolíticos nas cadeias; diversidade e inclusão; clima e transição energética; e, mais recentemente, a inteligência artificial.

“Talvez não tenha havido um PGA igual ao outro. A cada ano, entram novos seminários e provocações”, destacou Batista. Ele sustenta que o papel do CEO também mudou. “Não basta entregar performance. O líder precisa atuar para além das fronteiras da empresa, como um diplomata empresarial, dialogando com governos e sociedade. Vide o debate sobre tarifas: não dá para esperar apenas a negociação estatal.”

A experiência brasileira, forjada em décadas de volatilidade, também agrega repertório internacional, afirmou Veloso. “Quando a inflação voltou ao mundo, houve reuniões na Europa em que gestores disseram: precisamos ouvir os brasileiros. Há uma plasticidade valiosa para decidir em ambientes incertos.” Ele vê, ainda, uma oportunidade de o Brasil ganhar visibilidade em sustentabilidade aplicada ao negócio. “Há casos de classe mundial, como Suzano, WEG, Natura, a própria cadeia de inovação em renováveis, que o mundo pode estudar mais. A COP30 tende a acelerar essa agenda.”

A efeméride dos 35 anos vira palco para reencontros e debates. Ex-alunos relatam impactos concretos do PGA em viradas estratégicas. “Temos testemunhos de que o programa foi alavanca de transformação”, diz Antônio, citando Natura e WEG. “O Décio, presidente do conselho da WEG e egresso da primeira turma, atribui ao PGA parte da mudança de mentalidade que impulsionou inovação na companhia.” No evento comemorativo, a programação inclui um painel sobre como a WEG está conectando motores elétricos à agenda de sustentabilidade e outro sobre oportunidades do Brasil na COP30.

No horizonte, a parceria se desdobra. A FDC discute com o INSEAD projetos conjuntos com o Instituto Hoffmann (sustentabilidade), além de intercâmbio de docentes e alunos e pesquisas com o Imagine Brasil e o Centro do Agronegócio. As novas frentes devem ganhar corpo a partir de 2026. “O PGA, em si, está no tamanho certo, com cerca de 40 executivos por ano. O que cresce são os ‘filhotes’ e as agendas de conhecimento”, disse Veloso.

O executivo do Insead aposta que a aproximação entre Mercosul e União Europeia, se avançar, ampliará a circulação de talentos e ideias. “Um acordo criaria oportunidades de investimento, exportação e importação, estimulando mais brasileiros a estudarem na Europa e mais europeus a conhecerem o Brasil. Na sustentabilidade, há alinhamento natural, e isso pode acelerar a convergência em formação executiva.”

Três décadas e meia após a largada, a parceria FDC–Insead parece assentada em um princípio simples: atualizar a caixa de ferramentas do executivo sem perder o fio local. No Brasil de ciclos rápidos e em um mundo de incertezas, o recado é claro. Liderança responsável, visão internacional e capacidade de aprender continuamente deixaram de ser diferenciais para se tornar pré-requisitos de sobrevivência.

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